domingo, 27 de outubro de 2013

Formalismo

Considerando que a teoria do método formal tem sua origem na vanguarda - na noção de renovação, originalidade, visão renovada - ela não poderia ser estática. Dessa forma, não há uma metodologia formalista para ser aplicada o tempo todo. Os formalistas tinham a consciência de que se a arte se transforma, a teoria também se modificava, incorporando as suas renovações. Por isso que o "estranhamento da linguagem", ou seja, o emprego da linguagem de forma original é a perspectiva mais importante para essa teoria. Chklovski argumenta, nA arte como procedimento, que a literatura é uma forma de pensar por meio das imagens que a linguagem apresenta, atuando como uma espécie de "filtro da realidade", simplificando a compreensão do mundo. A visão renovada acerca da retórica está presente na perspectiva de Tomachevski - Temática - quando argumenta que a competência do escritor está em fazer o leitor chegar a uma opinião. Esse processo somente seria atingido mediante o a originalidade e a renovação de procedimentos do fazer literário. 
Procure citar duas obras literárias de períodos históricos diferentes nas quais seja possível identificar aquela originalidade fundamental que o formalismo russo apresentou como base para a própria definição de literatura. Cite ao menos um fragmento de cada obra para sustentar sua escolha, analisando a(s) figura(s) de linguagem empregada - metáfora, metonímia, ironia, etc.

62 comentários:

  1. " O olhar fixado em mim, como um tigre domado,
    Com ar vago e distante ensaiava as poses,
    E o seu candor unido ao ar mais debochado,
    Só vai fatalizar suas metamorfoses" ( XX-As flores do mal-Charles Baudelaire).
    NESTE VERSO DE BAUDELAIRE APARECE A METÁFORA ( ...como um tigre domado ), PORÉM COMO APARECE A CONJUNÇÃO "COMO" NÃO SEI SE PODE SER CHAMADA DE METÁFORA OU DE COMPARAÇÃO.

    "Entre um beijo e outro Sarita ia trançando a sua rede para pescar o Fiat especial modelo esporte. Portanto, vamos abreviar esta história para que Sarita não fique de lábios inchados de tanto beijar" ( A Grã-Fina de Copacabana-As Cariocas-Sérgio Porto). ACREDITO QUE "...trançando sua rede para pescar o Fiat especial modelo esporte" TRATE-SE DE UM EXEMPLO DE CATACRESE, ONDE A PALAVRA PESCAR É USADA DE MANEIRA IMPRÓPRIA.

    Atenciosamente,
    Janaína Quintana de Oliveira

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  2. “Você é um bicho, Fabiano!
    Isto para ele era motivo de orgulho, Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.”
    RAMOS, Graciliano.Vidas secas.107 ed. Disponível em: http://colegioconexaoserradamesa.com.br/public/material/material_1ano_em_livro_vidassecas.pdf. Acessado em 29/10/2013 as 18:10.
    Trata-se de metáfora explícita, Fabiano por não possuir o domínio do signo da linguagem e vive sob o signo do silêncio, ele se considera um bicho e se orgulho de vencer as dificuldades tal qual um.

    “Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei".
    A ironia se apresenta na forma de desconfiança.
    ASSIS, Machado.Memórias Póstumas de Brás Cubas. Disponível em:
    http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000167.pdf. Acessado em 29/10/2013 as 19:30.

    Caroline Münchow

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  4. O veneno

    Sabe o vinho vestir o ambiente mais espúrio
    Com seu luxo prodigioso,
    E engendra mais de um pórtico miraculoso
    No ouro de um vapor purpúreo,
    Como um sol que se põe no ocaso nebuloso.
    O ópio dilata o que contornos não tem mais,
    Aprofunda o ilimitado,
    Alonga o tempo, escava a volúpia e o pecado,
    E de prazeres sensuais
    Enche a alma para além do que conter lhe é dado.
    Mas nada disso vale o veneno que escorre
    De teu verde olhar perverso,
    Laguna onde minha alma se mira ao inverso...
    E meu sonho logo acorre
    Para saciar-se nesse abismo em fel imerso.
    Nada disso se iguala ao prodígio sombrio
    Da tua saliva forte,
    Que a alma me impele ao esquecimento num transporte,
    E, carreando o desvario,
    Desfalecida a arrasta até os umbrais da morte!
    Charles Baudelaire

    No início do Formalismo Russo eram analisados textos poéticos com enfoque em problemas fono-estilístico do verso, fatores da linguagem poética, etc.
    No décimo terceiro verso, percebe-se o uso da metáfora, referente aos fatores da linguagem poética, no qual pode-se refletir sobre o que seria o inverso da alma. Como suposição pode-se pensar em alguma imagem no espelho ou na água. “Ao fazermos isso, temos a projeção dessa figura vista do lado contrário da figura real e assim é vista a alma do eu-lírico nesse olhar, nessa laguna.”
    (Disponível em: http://teorialiterariaufrj.blogspot.com.br/ acessado em: 29/10/2013 às 22:26)

    Atualmente os formalistas tem observado outros recursos como: ironia, imagistica, ritmo e harmonia, etc.

    "Ela falava, sim, mas era extremamente muda" (AHE, 36)

    Neste trecho observa-se o uso da ironia pelo uso contraditório das palavras falava/muda.

    Bibliografia:

    LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1977

    Disponível em:
    http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/3099/2220 Acessado em: 29/10/2013 às 22:38.

    Sirlei Schumacher

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  5. A obra clássica e marco do Realismo literário brasileiro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881), de Machado de Assis, me parece um exemplo evidente de muitos conceitos apresentados na "Arte como procedimento" (Chklóvski , 1917), inclusive sua máxima "O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento". Sendo alcançado pela "liberação do objeto do automatismo perceptivo", este objetivo é visivelmente alcançado no Capítuvo LV da obra machadiana, pois através de uma quebra da expectativa da leitura criada no capítulo anterior ([...]pensamento "ardiloso e traquinas, voara em direção à casa de Virgília, em cujo peitoril da janela encontrou-se com o pensamento dela com quem ficou a conversar, ambos a repetirem o velho diálogo de Adão e Eva"), apresenta neste, uma construção literária que desfamiliariza o objeto instituído, causando estranheza no momento em que "O velho diálogo de Adão e Eva" é constituído com a supressão de falas típicas em diálogos e construído com reticências, exclamações e interrogações, recusando e rompendo a expectativa da leitura.

    O velho diálogo de Adão e Eva

    Brás Cubas
    . . . ?
    Virgília
    . . . . .
    Brás Cubas
    . . . . . . . . . . . . .
    . . . . . .
    Virgília
    . . . . . !
    Brás Cubas
    . . . . . .
    Virgília
    . . . . . . . . . . . . . . . . .
    . . . . . . . . ! . . . . . . . .
    . . . . . . . . . . . . . . . . .
    Brás Cubas
    . . . . . . . . .
    Virgília
    . . . .
    Brás Cubas
    . . . . . . . . . . . . . . . . .
    . . . . . . . . . . . . . . . . .
    . . . . . . . . . . . . . . ! . .
    . . ! . . . . . . . . . . . . . .
    . . . . . . . . . . . . . . . . !
    Virgília
    . . . . . . . . . . . . . ?
    Brás Cubas
    . . . . . !
    Virgília
    . . . . . !

    Este rompimento com o automatismo perceptivo, aqui, não se dá simplesmente através de figuras de linguagem, mas na construção da imagem, representando o "pecado da carne" que pensa o personagem, através de símbolos, atuantes com certo eufemismo (dada a época) e ironia; convergindo com o procedimento de singularização das palavras descrita no texto de Chklóvski; encaixando-se, inclusive, na descrição das funções da imagem exemplificadas pelo autor com as artes eróticas.

    Para citar outra obra, distanciada no tempo e inclusive do cânone literário, valho-me da "novela trezoitão Breganejo Blues" (2010) do maranhense Bruno Azevêdo, obra marcada pela virtuosidade narrativa e também pelo modo com que o autor a formata: paratextos e desconstrução formal, criando uma arquitetura frasista bastante peculiar, onde cada frase, pelo procedimento de singularização da palavra, é atingida.
    A arquitetura do texto se dá com a intertextualidade entre a narrativa, o movimento musical "e social" do brega no norte do país e a serie em quadrinhos "Tex". Sendo assim, exemplifico evidenciando apenas em uma frase (repetida várias vezes durante a novela, inclusive com um capítulo com somente ela), como se dá a singularização da palavra na obra; podendo ser vista também como processo de economia de energias da linguagem (conceituado no ensaio de Chklóvski), sendo esta uma típica atitude criadora do autor. Nesta frase, a busca de síntese, através da ironia sobre a modernidade:

    "O mundo é um bicho teórico."

    Tiago R. Kickhöfel

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  6. Partindo dos conceitos dos formalistas russos sobre o estranhamento da linguagem, bem como o uso de artifícios para a transformação de um texto em obra literária, utilizo aqui os textos: de Millôr Fernandes que escreveu sob o pseudônimo Adão Junior um livro chamado Eva sem costela um livro na defesa do homem. Que basicamente é uma coleção de crônicas escritas para O Cruzeiro e transformada em livro em 1946 e o livro de Guilherme de Figueiredo chamado As Excelências ou como entrar para a academia publicado em 1964.
    Tais livros para ganhar sentido ou inclusive não serem lidos com o objetivo inverso daquele que os autores propuseram tem que ser contextualizados até mesmo para identificarmos o principal mote constante em ambos que é a ironia. A ironia é o artifício literário como definiram os formalistas que permeiam as obras citadas.
    Em Eva sem costela cujo subtítulo é um livro na defesa do homem o autor na década de 40, e a contextualização aqui é importante senão a obra pode ser taxada de machista, transforma o matrimônio, ou melhor as razões para a qual um homem NAO DEVE SE CASAR no tema central e usando a linguagem como Millôr sabia fazer cria ironias para a produção de sentido no texto. É necessário mais uma vez ter em mente que a obra é escrita na década de 40, sem ter presente tal universo cultural a passagem abaixo perde um pouco seu significado.
    "Não sei por que defeito cerebral o homem, mais cedo ou mais tarde, se deixa enredar e casa. Casa e, ao contrário do que contam as histórias da carochinha, não é feliz.
    Não é, porque não pode ser, está mais que visto. O casamento tem suas injunções terríveis, suas contas, suas doenças, suas dores de cabeça, seus apartamentos para pagar, e tudo quem tem de resolver é o homem" p.107
    O outro texto utilizado é o livro de Guilherme de Figueiredo em que relata sua candidatura e derrota para uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Nele é relatado todas as visitas protocolares a todos os imortais, bem como os meandros de bastidores desta eleição. Nunca foi objetivo deste escritor ser um imortal e talvez fruto disso seja a materialização da jornada de rapapés intermináveis e massagens de ego que estão presentes numa eleição deste tipo. Sem termos isso em mente a obra corre o risco de ser lida como o choro de alguém que perdeu uma eleição.
    Em número de votos Guilherme de Figueiredo obtém 6 votos e o vencedor Deolindo Couto obtém 25. Para nós que tentamos trabalhar a literatura em 2013 talvez fique como questionamento que papel jogou no avanço da cultura e das letras no Brasil ambos os personagens. Quem foi Deolindo Couto? Guilherme de Figueiredo nós sabemos.
    Cito da obra As Excelências o prefácio escrito pelo autor cuja reflexão em tempos de José Sarney e Paulo Coelho como imortais continua ainda mais atual.
    "Este livro não é contra a Academia. É, sim, um livro contra os que lhe desvirtuaram a finalidade, os que usam a Casa de um Escritor e o legado de um livreiro para distribuir honrarias não-literárias."
    Bibliografia
    FERNANDES, Millôr.(Adão Junior pseudônimo) Eva sem costela um livro na defesa do homem. O Cruzeiro: Rio de Janeiro, 1946
    FIGUEIREDO, Guilherme. As Excelênicas ou como entrar para a academia. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 1964

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  7. Levando em consideração a Teoria Formalista, que tinha como objetivo trabalhar apenas com aspectos formais do texto e não envolver nada que estivesse além dele na análise (aspecto externo, período em que a obra foi escrita, entre outros), podemos pensar em algumas obras que possivelmente mudariam com a perspectiva de análise desses estudiosos. Sugiro aqui o livro de Altair Martins, Como se moesse ferro, um livro de contos do escritor gaúcho, dando enfoque, mais especificamente, no conto Humano. E o livro de Murilo Rubião, O Pirotécnico Zacarias outro livro de contos, mais propriamente o conto Teleco, o coelhinho. O primeiro livro é uma obra contemporânea, publicada em 2002. Já o segundo é uma obra da década de 70, que possui como característica o realismo fantástico.
    No conto Humana, temos o trecho: “A relação deles estava tão desgastada, que a ponta dos dedos sofria atrito de perder carne e viam-se as falangetas já roídas também.” (2002:115). Nesse parágrafo de abertura do conto é possível perceber que a linguagem utilizada pelo autor possui metáforas. Tais metáforas parecem transcender o aspecto formal do texto, tomando uma perspectiva mais direcionada à crítica social e a aspectos relacionadas à sociedade.
    Já no segundo conto, do autor Murilo Rubião, temos o trecho: “ – Por acaso o senhor gosta de carne de coelho? Não espero resposta: - Se gosta, pode procurar outro, porque a versatilidade é o meu fraco. Dizendo isso, transformou-se numa girafa.” (1974:22). Aqui os Formalistas Russos teriam de trabalhar com a literatura fantástica, de modo que a classificação formal, possivelmente, se tornaria mais difícil levando em consideração, por exemplo, a classificação do narrador no trecho acima (um coelho que passa muda fisicamente, assumindo as formas humanas mais diversas possíveis). É possível ainda perceber a figura de linguagem, e a metamorfose do personagem protagonista.
    Assim, parece que tanto nesta obra, como na anterior, pensar somente em uma análise formal deixaria o texto vazio, de modo que seria necessário classificações diversas para compreender os questionamentos que as obras permitem.

    Luana Krüger

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  8. FORMALISTAS RUSSOS
    Com base no argumento de Jakobson ("a poesia é linguagem em sua função estética"), escolheram-se duas poesias para a atividade: "Vaso Grego" (1) produzido no final do século XIX (obra parnasiana) pelo carioca Alberto de Oliveira; e "Soneto a Nosso Senhor", produzido no século XVII (obra sacra do período do Barroco) pelo baiano Gregório de Matos.

    O primeiro poema é estritamente fiel à forma (soneto dodecassílabo de alta sonoridade com rimas perfeitas e alternadas, vide obra abaixo) e cujo conteúdo não apresenta nenhum vínculo com a sociedade da época, mas a elementos da cultura clássica ocidental ("vaso grego").

    Quanto ao segundo poema, de caráter barroco, também apresenta a mesma estrutura formal e desvinculado com o exterior do texto como a obra acima, porém apresenta antítese ("culpa" e "perdão") e metáfora ("ovelha desgarrada"), figuras diretamente ligadas ao conceito formalista.

    Logo, ambas as obras acima citadas se alinham à corrente ideológica vanguardista dos Formalistas Russos desenvolvida na primeira metade do século passado.


    (1)
    VASO GREGO
    Alberto de Oliveira

    Esta de áureos relevos, trabalhada
    De divas mãos, brilhante copa, um dia,
    Já de aos deuses servir como cansada,
    Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

    Era o poeta de Teos que a suspendia
    Então, e, ora repleta ora esvazada,
    A taça amiga aos dedos seus tinia,
    Toda de roxas pétalas colmada.

    Depois… Mas o lavor da taça admira,
    Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
    Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

    Ignota voz, qual se da antiga lira
    Fosse a encantada música das cordas,
    Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

    (2)
    Soneto a Nosso Senhor
    Gregório de Matos

    Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
    Da vossa alta clemência me despido;
    Porque quanto mais tenho delinquido
    Vos tem a perdoar mais empenhado.

    Se basta a voz irar tanto pecado,
    A abrandar-vos sobeja um só gemido:
    Que a mesma culpa que vos há ofendido,
    Vos tem para o perdão lisonjeado.

    Se uma ovelha perdida e já cobrada
    Glória tal e prazer tão repentino
    Vos deu, como afirmais na sacra história.

    Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada,
    Recobrai-a; e não queirais, pastor divino,
    Perder na vossa ovelha a vossa glória.

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    1. Reforça-se que as figuras de linguagem atendem diretamente à necessidade dos formalistas e seus adeptos por usar artifícios linguísticos para justificar a "arte pela arte" inerente ao conceito de arte literária.

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  9. VIOLÕES QUE CHORAM
    Vozes veladas, veludosas vozes,
    Volúpias dos violões, vozes veladas,
    Vagam nos velhos vórtices velozes
    Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
    Tudo nas cordas dos violões ecoa
    E vibra e se contorce no ar, convulso...
    ESCRITOR: CRUZ E SOUZA.
    Cruz e Sousa é um escritor simbolista brasileiro, suas obras marcam o início do simbolismo no Brasil, em 1893. Os simbolistas procuravam obter em suas obras variados efeitos sonoros e rítmicos, além do gosto pela linguagem rebuscada. Sua linguagem é muito rica e seus poemas mais longos possuem grande musicalidade.
    No poema Violões que choram a presença de musicalidade, é empregado com o uso de figuras de linguagem (aliteração) que está expressa no fonema “V” da 7ª estrofe sugerindo os sons dos violões. Em “Vozes veladas, veludosas vozes”, dessa mesma estrofe, o trabalho sonoro com as consoantes “v, z, l” passam musicalidade através das palavras.

    NO MEIO DO CAMINHO

    No meio do caminho tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    tinha uma pedra
    no meio do caminho tinha uma pedra.

    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    na vida de minhas retinas tão fatigadas.
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    no meio do caminho tinha uma pedra
    Carlos Drummond de Andrade
    A repetição da palavra “pedra” que é uma matéria sólida da classe dos minerais, enquanto o termo “caminho” significa passagem livre ao trânsito. No entanto, em sentido figurado, a expressão “pedra no caminho” é entendida como obstáculo que impede o trânsito, sendo que o “caminho”, também pode ser interpretado como metáfora de “vida”. Na nossa vida sempre existem “pedras” (obstáculos)
    Recursos de linguagem:
    Eufemismo: “na vida de minhas retinas tão fatigadas” (Retina: visão; Fatigadas: Cansaço)
    Inversão: “No meio do caminho tinha uma pedra” - “Tinha uma pedra no meio do caminho”
    Anáfora: “tinha uma pedra” - “tinha uma pedra no meio do caminho”


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  10. Para o formalismo russo:

    “A noção de forma identifica-se com a própria obra artística conceituada na sua unidade e na sua integralidade, deixando de precisar de qualquer termo correlato e complementar.
    O formalismo nunca defendeu, exceto em alguns extremismos da fase inicial, que a obra literária devesse ser estudada como um objeto isolado, fora de uma perspectiva histórica. Aliás, ocupam a posição central nas teorias formalistas os pressupostos de que: a obra não pode ser arrancada de um contexto histórico literário; a perspectiva diacrônica é indispensável para a precisa análise do fenômeno literário. Sendo assim, a própria dinâmica do surgimento de novas formas literárias é radicalmente histórica, onde se pode observar que a forma nova dá lugar à forma antiga, gasta e tendendo para o automatismo, ou seja, já não desempenhando a função estética.”

    (http://teorialiterariaufrj.blogspot.com.br/2009/06/o-formalismo-russo-em-linhas-gerais.html acessado em 03/11/2013 às 17h24min.)

    A partir da perspectiva do Formalismo Russo, contida no trecho acima, em que a obra deve ser tratada levando em consideração seu momento histórico, é observável a diferenciação dos papéis das mulheres e de sua aceitação na sociedade, dependendo da perspectiva e obra histórica apontada.

    Carolina Brahm da Costa

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    1. Em “Senhora” de José de Alencar:

      •A personagem principal Aurélia, vive o mundo de aparências da sociedade, e mostra o valor da mulher nela, nesse determinado período histórico, que seria de posse do homem, tendo assim o mesmo valor de um objeto vendido/comprado. Ou seja, a mulher não possuía valor solteira, apesar de suas admiráveis qualidades. Seu valor só mostrava-se pelo casamento, mesmo que dele não obtivesse amor, pois o importante não era ser feliz, e sim aparentar sê-lo.

      “- Vendido! Exclamou Seixas ferido dentro d’alma.
      - Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.” (JOSÉ DE ALENCAR, Senhora, pg. 76, OESP Gráfica, SP: 1997)

      •Figura de Linguagem utilizada: iteração(repetição): “Sou rica, muito rica; [...]”

      Carolina Brahm da Costa

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    2. Em “Vidas Secas” de Graciliano Ramos:

      “Da geração de 30–45, destaca-se Graciliano Ramos e sua obra Vidas Secas. Conta a história de uma família de retirantes nordestinos que caminha sem rumo à procura de melhores condições de sobrevivência, de preferência longe da seca. Sendo o autor um cidadão preocupado com a realidade social do seu tempo, descreve em muitos de seus livros aquilo que vê na própria vida.
      No livro Vidas Secas, Graciliano Ramos dedica um capítulo exclusivo à personagem feminina “Sinhá Vitória” de Vidas Secas. O autor demonstra a mulher judiada pela seca, uma mulher com altivez de espírito, mas fraqueza física, que resistia a uma vida “desgraçada” pela seca e pela fome. Quando sinhá Vitória se arruma para uma festa é vista como ridícula pelo marido; mas quando o marido gasta o pouco que consegue ganhar em bebedeiras, ela impunha sua opinião malfadando o marido e fazendo suas solicitações.

      [...] Pensou na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinham-se acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas. Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. Fabiano a princípio concordara com ela, mastigara cálculos, tudo errado. [...] Como não entendessem, Sinhá Vitória aludira, bastante azeda, ao dinheiro gasto pelo marido na feira, com jogo e cachaça. (RAMOS, 1981, p. 40)

      Olhou de novo os pés espalmados. Efetivamente não se acostumava a calçar sapatos, mas o remoque de Fabiano molestara-a Pés de papagaio. Isso mesmo, sem dúvida, matuto anda assim. Para que fazer vergonha gente? Arreliava-se com a comparação. (RAMOS, 1981, p. 43)”

      (http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000027/000027C9.pdf - pg. 59. Acessado em 03/11/2013 às 19h04min.)

      •Figura de linguagem utilizada: Metáfora (comparação sem elementos conectivos): “molestara-a Pés de papagaio”

      Carolina Brahm da Costa

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  11. Já que para os formalistas russos o importante era a originalidade, a inovação e a atitude em renovar os parâmetros que tínhamos até então, pode-se destacar como exemplo disso a obra de Mário de Andrade, "Amar, Verbo Intransitivo" que é o ponto de partida do modernismo, que surge logo após as vanguardas. Mário de Andrade inovou usando uma linguagem que foi bastante criticada na época pelos parnasianos que a julgavam errada. O que Mário queria era representar a fala do povo brasileiro tal como era realmente. A partir daí passa-se a ter uma literatura efetivamente brasileira, com sua própria linguagem e os modelos portugueses são deixados de lado. Nesta mesma obra é possível perceber que a estrutura da obra também é diferente pelo fato de descrever os "flashes" como próprias cenas, como se estivéssemos assistindo um filme. Um exemplo sobre inovação de linguagem temos o seguinte trecho que destaca o uso de pronomes oblíquos em início de frase:

    “ Se ria envergonhada”; Lhe deu um olhar de confiança” “Que nem das outras vezes” “Que tem, Maria, eu ir também!”

    Outra obra que pode ser considerada um marco de inovação é a obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, na qual temos um diálogo entre leitor e escritor, de forma tranquila, original e simples. Um exemplo disto é o seguinte trecho:

    “ Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte e quando muito dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei uma forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo”


    Suzana Avila

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  12. (1)

    "Escrevo porque amanhece,
    e as estrelas lá no céu
    lembram letras no papel,
    quando o poema me anoitece." (Paulo Leminski)

    (2)

    "Os filhos estão nascendo
    com tamanha espontaneidade.
    Como é maravilhoso o amor
    (o amor e outros produtos)." (Carlos Drummond de Andrade)

    Figuras de Linguagem: (1) Antítese - amanhece, anoitece;
    (2) Ironia - [...] o amor e outros produtos.

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  13. O buraco no espelho

    O buraco no espelho está fechado.
    Agora eu tenho que ficar aqui
    Com um olho aberto e o outro acordado
    no lado de lá onde eu caí

    pro lado do cá não tenho acesso
    mesmo que me chame pelo nome
    mesmo que admitam meu regresso
    toda vez que vou a porta some
    .
    A janela some na parede
    A palavra de água se dissolve
    na palavra sede , boca com sede
    Antes de falar, e não se ouve.

    Já tentei dormir a noite inteira
    quatro, cinco, seis horas da madrugada
    vou ficar nessa cadeira
    uma orelha alerta, outra ligada

    o buraco do espelho está fechado
    agora eu tenho que ficar aqui agora
    fui pelo abandono abandonado
    aqui dentro do lado de fora.

    Arnaldo Antunes/1997

    metáfora" toda vez que vou a porta some"
    " o buraco do espelho está fechado"
    São metáforas que passam o noção de passagem para o outro lado.


    PALAVRAS AO MAR

    Mar, belo mar selvagem
    Das nossas praias solitárias! Tigre
    A que as brisas da terra o sono embalam,
    A que o vento do largo eriça o pêlo!
    Junto da espuma com que as praias bordas,
    Pelo marulho acalentada, à sombra
    Das palmeiras que arfando se debruçam
    Na beirada das ondas - a minha alma
    Abriu-se para a vida como se abre
    A flor da murta para o sol do estio.

    Poemas e Canções,1908
    Vicente de Carvalho

    Neste fragmento do poema" Palavras ao Mar" o poeta metaforicamente expressa que o animal (tigre) tem a mesma força do mar selvagem e que os dois são indomáveis.

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  14. .. Há que tempos eu não chorava!... Pois me vieram lágrimas..., devagarinho, como gateando, subiram...
    tremiam sobre as pestanas, luziam um tempinho... e ainda quentes, no arranco do galope lá caíam elas na
    polvadeira da estrada, como um pingo d’água perdido, que nem mosca nem formiga daria com ele!...
    Por entre as minhas lágrimas, como um sol cortando um chuvisqueiro, passou-me na lembrança a toada dum
    verso lá dos meus pagos:
    Quem canta refresca a alma,
    Cantar adoça o sofrer;
    Quem canta zomba da morte:
    Cantar ajuda a viver!...
    Mas que cantar, podia eu!...
    Neste conto “Trezentas onças” da obra de Simões Lopes Neto, além do uso da linguagem regionalista (“dum verso lá dos meus pagos”), ainda aparecem metáforas e figuras de linguagem (“refrescar a alma”, “adoça o sofrer”).
    Como no texto “A ESCOLHA DO TEMA” de B. Tomachevski, “ A obra literária é dotada de uma unidade quando construída a partir de um tema único que se desenvolve no decorrer da obra”. Neste trecho do conto, como em seu desenrolar é notadamente o uso extremo de um mesmo tema, O gaúcho com seus exageros na fala e nos hábitos, que nos revelam do início ao fim um mesmo tema em êxtase.
    Adelita Vimes Rodrigues

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  15. Valendo-me da Teoria Formalista, cito a obra "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis que, na literatura brasileira, talvez seja o exemplo mais evidente do procedimento artístico bem sucedido, em que a perspectiva de um defunto é responsável pelo estranhamento do texto.
    Outra obra de Machado de Assis que volto a citar é "O Alienista", que na abertura do capítulo XI, também se constrói conforme o princípio da singularização, capaz de conduzir o leitor ao centro da narrativa: 'E agora prepare-se o leitor para o mesmo assombro em que ficou a vila, ao saber um dia que os loucos da Casa Verde iam todos ser postos na rua.
    - Todos?
    - Todos.
    - É impossível; alguns, sim, mas todos...
    - Todos. Assim o disse ele no ofício que mandou hoje de manhã à Câmara.'
    O estranhamento provocado pelo texto ocorre sobretudo da inclusão do leitor no universo dos habitantes de Itaguaí, cujo espanto com o recolhimento dos loucos fora tão grande quanto com a súbita liberação deles. Conhecedor do assombro em que vivia a cidade, o leitor é convidado a sentir o mesmo espanto dos moradores, deixando a posição de espectador para assumir o estatuto de personagem.

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  16. http://www.ufpel.edu.br/pelotas/ebooks/contosgauchescos.pdf
    EIKHENBAUM- Teoria da Literatura- formalistas Russos- A escolha do tema- B.TOMACHEVSKI
    * Referência bibliográfica da postagem anterior
    Adelita Vimes Rodrigues

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  17. MOÇA LINDA BEM TRATADA
    Moça linda bem tratada,
    Três séculos de família,
    Burra como uma porta:
    Um amor.
    Grã- fino do despudor,
    Esporte, ignorância e sexo,
    Burro como uma porta:
    Um coió.
    Mulher gordaça, filó,
    De ouro por todos os poros
    Burra como uma porta
    Paciência...
    Plutocrata sem consciência,
    Nada porta, terremoto
    Que a porta de pobre arromba
    Uma bomba.
    “Moça linda bem tratada” é um poema de Mário de Andrade que foi um poeta, romancista, crítico de arte e ensaísta brasileiro. Um dos criadores do modernismo brasileiro, ele ajudou a preparar a semana e arte moderna.
    Assim como no texto em pesquisa “A ARTE COMO PROCEDIMENTO” em que o autor que a poesia é uma maneira particular de pensar e outro trecho encontramos uma fala de V. Chklovski que quanto mais se compreende uma época, as imagens consideradas com criação da tal poeta são tomadas emprestadas de outros poetas quase que sem alterações.
    O que podemos extrair disso é que assim como no modernismo ou lá no romantismo as ideias, as figuras de linguagem, o lirismo, o romantismo, o trágico são os mesmos, o que foi se modificando foi a maneira de ver esses mesmos detalhes. No poema em questão Mário de Andrade nos dá elementos formais de linguagem comuns, uma certa sensualidade brasileira, o espírito irreverente, em um poema contendo também metáforas (“Burra como uma porta”), e a ironia (“Paciência...”). Um Poema regado de interpretações românticas e maliciosas, além de abordar a vida como ela é: homem, mulher, sexo, amor...

    http://www.arteehistoriadobrasil.com.br/mario-de-andrade-e-o-anti-heroi-brasileiro/
    EIKHENBAUM: Teoria da literatura- formalistas Russos- A arte como procedimento- V. CHKLOVSKI.

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  18. Em "Amar Verbo Intransitivo", Mário de Andrade inovou a literatura brasileira com a técnica cinematográfica, montou retratos fílmicos, utilizando a elipse-montagem alternada para não explicar os fatos, como as cenas do relacionamento sexual de Fraülein e Carlos, com isso o autor não precisa descrever, , mas deixa subtendido e o leitor mesmo é capaz de criar a cena. As figuras de linguagem desta obra são metáfora, ironia, metonímia.
    Porém passar uma hora juntinhos, depois de.... que horror (p100)
    Bem que ela desconfiara na primeira noite, Carlos já conhecia o. (p102)

    Em outra época: Dyonelio Machado "Os Ratos", obra da segunda geração do modernismo, sendo sua narrativa apresentada numa linguagem simples, direta, rápida, com um tal domínio da expectativa do leitor. Há na metáfora animalesca que dá forma concreta ao drama moral, alastrando-se numa verdadeira cadeia metonímica - os indícios de rato configuram como símbolo complexo da condição do homem acuado, fracassado.A casa está cheia de ratos....
    São os ratos na cozinha.
    Os ratos vão roer - já roeram!- todo o dinheiro!..
    Ele vê os ratos em cima da mesa, tirando de cada lado do dinheiro- da presa- roendo-o, arrastando-o para longe dali, para a toca, às migalhas!... (p173)

    Marilene Nunes

    Bibliografia :Arrigucci Jr. Davi - posfácio de "Os Ratos"
    Andrade Mário - Prefácio " Amar Verbo Intransitivo"

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  19. “[...] porque o maior defeito deste livro és tu leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar [...]” (Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880), p.159). Nesse trecho, quando se diz que o livro “anda” devagar, é utilizada uma prosopopeia (ou personificação) – figura de pensamento cuja função é atribuir características próprias de seres animados a seres inanimados. Algumas páginas depois, na abertura do capítulo CXL (“Que explica o anterior”), pode ser identificado o emprego de uma antítese, a qual ocorre devido à aproximação dos verbos antônimos “dizer” e “calar”: “Há coisas que melhor se dizem calando” (p.225).
    Outro exemplo de originalidade pode ser encontrado nas várias metáforas das quais se vale o narrador Rodrigo S. M. – criado por Clarice Lispector no romance “A Hora da Estrela” (1977) – para caracterizar a personagem Macabéa: “ela era café frio” (p.27), que exprime a indiferença das outras pessoas diante de Macabéa. Essa caracterização metafórica também está presente numa das falas de Olímpico: “Você, Macabéa, é um cabelo na sopa” (p.60), a qual ressalta um sentimento de repulsa gerado pela personagem.

    Por: Danielle R. Betemps, em 05/11/2013.

    Obras citadas:
    ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre: L&PM, 2010. (Coleção L&PM POCKET).
    LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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  20. Ao falar-se em formalismo, estranhamento da linguagem e originalidade não há como não citar Machado de Assis. Em "Memórias póstumas de Brás Cubas", já encontramos ironia em termos um autor defunto, ou um defunto autor, como se intitula Brás Cubas, dessa forma expressa-se a originalidade, dando ao autor controle total sobre sua obra, pois está contando sua história do "lado de fora", manipulando sua obra e o leitor. No fragmento " É a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o vôo desde o Ilisso
    às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, — a imaginação dessa senhora também voou
    por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil..." há COMPARAÇÃO (...como as cegonhas...).
    A obra de Clarisse Lispector, "Água Viva" também é inovadora e repleta de grande originalidade. No trecho " Que estou fazendo ao te escrever? estou tentando fotografar o perfume.", encontra-se CATACRESE.
    Graciela da Rocha Rodrigues

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  21. "O mar é - lago sereno
    O céu é - um manto azulado
    O mundo - um sonho dourado
    A vida - um hino d'amor"

    - Neste fragmento do poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu, percebemos a presença da metáfora.

    Moça linda bem tratada

    Moça linda bem tratada
    Três séculos de família
    Burra como uma porta:
    Um amor.

    Grã-fino do despudor
    Esporte, ignorância e sexo
    Burro como uma porta:
    Um coió.

    Mulher gordaça, filó
    De ouro por todos os poros
    Burra como uma porta:
    Paciência...

    Plutocrata sem consciência
    Nada porta, terremoto
    Que a porta de pobre arromba:
    Uma bomba.

    - Neste poema, o autor Mario de Andrade utiliza-se da ironia para fazer uma crítica a sociedade daquela época.

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  22. "Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele morreu dali a dezessete meses, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada.”( MACHADO,1998 p.88)

    O trecho acima citado foi extraído da obra “O alienista” de Machado de Assis, sua primeira publicação foi em 1812, período realista. As figuras de linguagem presentes no trecho, comprovam o que os formalistas afirmavam, que a competência do escritor é que faz o leitor chegar a uma opinião. As figuras que ficam evidenciadas no trecho são a ironia (ilustre médico, mesmo estado em que entrou) e a metáfora (trancou os ouvidos a saudade da mulher).
    “Assim ficou por um tempo vendo esse correr de mundo diante de sua casa. Estava ouvindo o mio de uma lembrança de uma outra chuva que esteve vendo dali. Mas agora, em sua casa, estava só, sentindo-se um pouco tonto com tanta cena sem fundo. Disse, talvez para outro tempo sem chuva, ou disse apenas para outro arrabalde, ou disse para lembrar que um dia disse: - Tá de molhar Gomercindo.” ( METZ, 1995, p.12)”
    Esse segundo trecho citado foi extraído da obra “Assim na Terra” de Luiz Sergio Metz, escritor modernista, que criticava as mazelas humanas assim como Machado quando critica a ‘verdadeira loucura” da sociedade. As figuras presentes no trecho são: metáfora( sentindo-se só com tanta cena sem fundo), prosódia (correr de mundo, mio de uma lembrança), anáfora ( disse talvez, disse apenas, disse para lembrar). Em toda sua obra Metz usa intertextualidade e muitas figuras de linguagem.


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  23. A partir da década de l870, a poética Parnasiana é a estética da "arte pela arte", objetiva, temática e cultua a forma, a arte da antiguidade. Para Olavo Bilac, grande poeta parnasiano: "o poeta deveria construir o poema de tal modo que a imagem fique nua, rica mas sóbria".
    Na poesia, o famoso soneto "Via Láctea" de Olavo Bilac distingue-se pela estética, estilo, pureza da forma e linguagem.

    VIA LÁCTEA XIII


    "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
    Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
    Que, para ouvi-las, muita vez desperto
    E abro as janelas, pálido de espanto...


    E conversamos toda a noite, enquanto
    A via láctea, como um pálio aberto,
    Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
    Inda as procuro pelo céu deserto.

    Direis agora: "Tresloucado amigo"!
    Que conversas com elas? Que sentido
    Tem o que dizem, quando estão contigo?"

    E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
    Pois só quem ama pode ter ouvido
    Capaz de ouvir e de entender estrelas."

    -A figura de linguagem é a Sinestesia porque nós vemos as estrelas, não ouvimos.

    No período Barroco, Gregório de Matos Guerra apresenta-nos os textos cultistas mais perfeitos de nossa literatura usando uma linguagem rebuscada, culta, extravagante.

    POESIA SACRA: "A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR"

    Pequei, senhor, mas não porque hei pecado,
    Da vossa alta clemência me despido;
    Porque, quando mais tenho delinquido,
    Vós tenho a perdoar mais empenhado.


    Se basta a vós irar tanto pecado,
    A abrandar-vos sobeja um só gemido:
    Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
    Vos tem para o perdão lisongeado.

    Se uma ovelha perdida e já cobrada
    Glória tal e prazer tão repentino
    Vos deu, como afirmais na sacra história,

    Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada,
    Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
    Perder na vossa ovelha a vossa glória.

    Antítese “(...) quanto mais tenho deliquido, vos tenho a perdoar.


    Matos, Gregório de , 1633-1696- Seleção de textos e estudos- Literatura Comentada- São Paulo: Abril Educação, 1981.

    Bilac, Olavo, 1865-1918- Seleção de Textos e estudos- Literatura Comentada- São Paulo: Abril Educação, 1980.


    ARILZA ORESTES


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  24. Na obra de Rubem Foseca, Feliz Ano Novo o conto chamado Intestino Grosso contrapôem a ideia de formalismo, por ter uma a forte crítica social, não tendo assim, como trabalhar só com a formalidade do texto.
    ... Joâozinho e Maria foram levados a passear no bosque pelo pai, que de conchavo com a mâe dos meninos, pretendia abandoná-los para serem devorados pelos lobos...
    ... Graças á astúcia de Joâozinho, ambos afinal conseguiram jogar a velha num tacho de azeite fervendo, matando-a. Mas isso é um conto de fadas.É uma história indecente, desonesta, vergonhosa, obscena, despudorada, suja e sórdida.

    Já na obra de Franz Kafka, Metamorfose a narrativa diferencia-se por apresentar um monólogo interior.
    Numa manhâ, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tâo duro que parecia revestido de metal,e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados...
    - Que me aconteceu - pensou...

    Susana Costallat

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  25. Em 1966 Osman Lins publicou Nove Novena,composto por narrativas que não se enquadram num gênero literário específico.O autor propicia ao leitor que se desvende o mundo pela imaginação poética utilizando como caminho,metalinguagem com símbolos, representando junto a cada personagem,metáforas,alusão religiosa e esotérica.
    Como exemplo em um dos contos"Retábulo de Santa Joana Carolina'' a referência religiosa se destaca do começo ao final da narrativa,os contos sendo dispostos em grupos de três assim como nas novenas católicas, que se organizam em tríduos e dividido em mistérios . A personagem principal é descrita como uma santa em diversos momentos da narrativa;"vendo-a embebida no clarão interior da imagem sobrevinda, mistério do espírito ou de carne, de um passado que ninguém ousaria imaginar tangível, pensei que ela guardara para mim, sem o saber, outra espécie de herança, o privilégio de ser a testemunha, em seu leito mortuário, daquela ressurreição fugaz, mas perturbadora que dos mortos, volta de uma face à face em que se transformou...pag.112.
    A obra de Clarisse Lispector "Laços de Família''da geração de 1945 com tendência a narração psicológica, utiliza de linguagem poética, a exemplo na página 156 " O búfalo negro.Ah, disse de repente com uma dor.O búfalo de costas para ela, imóvel.O rosto esbranquiçado da mulher não sabia como chamá-lo.Ah!,disse provocando -o.Ah!disse ela.Seu rosto estava coberto de mortal brancura, o rosto subitamente emagrecido era pura veneração...''revelando extremos de branco e preto criando oposição de ideias.

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  26. Um texto que possa ser analisado em sua forma, que em minha opinião é fantástico, é o MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR. A parte que destaco é a seguinte: "Minha sogra ficou avó" (ANDRADE, p. 109 2004)

    Nesta fala pode se perceber como o autor trabalha com a linguagem, pois na fala o significado é que ele será pai e todo sentido seria mudado se ao invés de "sogra" estivesse escrito "mãe".

    Sendo uma nova forma de criação inventada pelos modernistas, tudo está no texto indo ao encontro da ideia formalista.

    E no romantismo pode-se perceber na linguagem metáforas para o mal do século com Álvares de Azevedo, por exemplo em Noite na Taverna, como o próprio nome do conto explicita (Taverna), por uma ideia geral, se imagina um lugar úmido, frio e sujo. Mas a linguagem no texto em si possui muitas metáforas.

    "Então mulher - acordarei: do lodo,
    Onde Satan se pernoitou comigo,
    Onde inda morno perfumou seu molde
    Cetinosa nudez de formas níveas.
    E a loira meretriz nos seios brancos
    Deitou-me a fronte lívida, na insônia
    Quedou-me a febre da volúpia à sede
    Sobre os beijos vendidos."
    (AZEVEDO, p.75 2011)

    Como mencionei anteriormente, o título da obra já dá uma noção do que o leitor irá encontrar em seu interior, pois há impureza, pecado, tristeza e depressão nas palavras do autor. Mais uma vez a linguagem pode ser analisada junto com as personagens que aparecem no conto.

    ANDRADE, Oswald de, 1890-1954. "Memórias Sentimentais de João Miramar" / Oswald de Andrade; prefácio de Mario de Andrade. - São Paulo: Globo, 2004. - (Obras completas de Oswald de Andrade)

    AZEVEDO, Manuel Antônio Álvares de, 1831-1852. "Noite na Taverna" / Manuel Antônio Álvarez de Azevedo. Porto Alegre: L&PM, 2011.

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  27. Na obra de Tabajara Rua " O amor de Pedro por João " é um livro de forte cunho político e nos passa a ideia de repressão da época da Ditadura Militar.
    Literatura contemporânea, narrativa com objetivos sociais – reconstrução da memória nacional ou críticas sócio políticas. Narrativa de tom confessional – a literatura como desabafo, relatos de problemas íntimos.

    A obra pode ser considerada como documento de uma época “romance reportagem”, pois Tabajara foge a regra, a obra é construída a partir da técnica cinematográfica, que está presente na fragmentação e na agilidade da narrativa, utilizando também nas cenas a verossimilhança interna e externa ligado as questões históricas. Percebemos que em toda a história prevalece o convívio dos exilados, seus sentimentos de medo, angustia, percebemos que em meio contexto catastrófico, que as pessoas buscam compartilhar o pouco que se tinha com os companheiros, alguns personagens podiam ser estereotipado, porém a descrição do medo mostra a realidade dos exilados longe do Brasil, no qual os indivíduos que estavam lá não tinham nenhuma garantia de segurança, e o preconceito, negros, homossexuais, estrangeiros e mostrando que a mulher era “santa ou prostituta”.
    "...No mundo dos homens não ha lugar para as mulheres..."(Ruas 1980,p 23)
    Nesta citação percebemos que a ironia de Tabajara Ruas se contrapõe aos Formalistas pela sua ironia.

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    Respostas
    1. Em " Tapera" de Alcides Maia escrito em 1911 tem uma linguagem parnasiana, narra a história de uma menina ( Chinoca) que se tornou prostituta.
      ...Abandonaram-te talvez por velha; sucumbiste, quem sabe, a algum pampeiro: não tens o passado de glória dos lares que tombam heróicos por entre chamas ou se despovoam tumultuàriamente numa tragédia de ciúme, de vingança, de ódio "...
      Nesta citação percebemos a ironia e metáfora.

      Excluir
  28. A Teoria Formalista tem como objetivo trabalhar apenas com aspectos formais. Evidenciada no uso destas figuras de linguagem.
    Orgulho e Preconceito
    “É verdade universalmente admitida que um homem solteiro, possuidor de boa fortuna, deve estar precisando de uma esposa”. (JANE AUSTEN, 1997b, p. 09).
    Jane Austen identifica e zomba das falhas da sociedade burguesa da Inglaterra do início do século XIX, a autora usa a ironia como um mecanismo para chamar a atenção de seu leitor para o objeto de sua crítica. Essa frase de abertura do livro indica o tom irônico que a autora usará durante todo o romance.
    Excerto do conto O búfalo, de Clarice Lispector:
    "Mas a girafa era uma virgem de tranças recém-cortadas. Com a tola ignorância do que é grande e leve e sem culpa. A mulher do casaco marrom desviou os olhos, doente, doente. Sem conseguir - diante da aérea girafa pousada, diante daquele silencioso pássaro sem asas - sem conseguir encontrar dentro de si o ponto mais doente, o ponto de ódio, ela que fora ao Jardim Zoológico para adoecer. Mas não diante da girafa que mais era paisagem que um ente." [...]
    Destacam-se as metáforas: "a girafa era uma virgem de tranças recém- cortadas" e "diante daquele silencioso pássaro sem asas".
    Carla Duarte.

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  29. Bastante interessante a teoria do formalismo.

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  30. Li o post, mas não tive tempo de pesquisar trechos de obras, pois estou preparando meus trabalhos para o CIC e para a Semana de Letras.

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  31. Este comentário foi removido pelo autor.

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  32. Uma das obras que cito como exemplo de originalidade e de vanguarda literária é o romance Rayuela de Julio Cortázar, publicado em 1963. Nesse romance, o aspecto inovador está na organização da obra que permite ao leitor a escolha da forma de ler através dos capítulos ou seguir as orientações do autor para a ordem de leitura. A forma de ler o livro modifica a compreensão que se tem da história e altera também a possibilidade de fim, já que há vários finais para a história.

    Outra obra literária que é representativa da vanguarda, de acordo com o que estudamos sobre o Formalismo, é "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis. A opção pelo defunto autor que conta sua vida, o começo da historia pelo seu final e a ironia que permeia todo o texto são exemplos das inovações propostas pela obra.

    "...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos." p.17

    "Há aí, entre as cinco ou dez pessoas que me lêem, há aí uma alma sensível, que está decerto um tanto agastada com o capítulo anterior, começa a tremer pela sorte de Eugênia, e talvez..., sim, talvez, lá no fundo de si mesma, me chame cínico. Eu cínico, alma sensível?" p.32

    Vivian A. C. Corrêa

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  33. Levarei o comentário impresso na aula de amanhã.
    Mariane Krüger

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  34. " Os teus olhos espalham luz divina,
    A quem a luz do Sol em vão se atreve:
    Papoula, ou Rosa delicada, e fina,
    Te cobre as faces, que são cor de neve.
    (...)

    Depois de nos ferir a mão da morte,
    Ou seja neste monte, ou noutra serra,
    Nossos corpos terão, terão a sorte
    De consumir os dois a mesma terra.
    (...)"
    Parte I Lira I

    Marília de Dirceu de Tomaz Antônio Gonzaga é uma obra de 1792, periodo Arcadismo, na qual existe a simplicidade de linguagem e de ideias da literatura clássica quinhentista. De acordo com Chklovski, a literatura é uma forma de pensar por meio das imagens que a linguagem apresenta, simplificando a compreensão do mundo, em Marília de Dirceu o autor faz o uso de metáforas e catacrese, em sua obra, salientando o culto aos sentimentos e a sensibilidade.

    " A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo o caso, estão fora de ti, como é que não podes vendar a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo?" (...)

    A Igreja do Diabo, Machado de Assis. Capítulo III - A boa nova aos homens.

    Nessa obra do período realista o autor usa a ironia para criticar a humanidade e a sociedade, fazendo o leitor refletir sobre os seus próprios atos. Machado de Assis afirma o que argumenta Tomachevski em Temática: " a competência do escritor está em fazer o leitor chegar a uma opinião". Esse é o verdadeiro fazer literário.

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  35. Uma das análises propostas pelo Formalismo Russo está relacionada ao fato de que ao produzir uma obra literária o autor escolhe o tema na perspectiva de seu meio cultural e das condições sociais de seu leitor, somado a isto o contexto histórico da região.
    Pode ser citado como exemplo aqui as obras de Machado da Assis, um autor que se fez presente em dois momentos literários no Brasil, o Romantismo e o Realismo, é possível perceber uma diferença significativa em suas obras tendo como marco desta mudança a obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
    Para análise da mudança tomemos por base as seguintes obras “A mão e a luva”, segundo romance publicado pó Machado no período do Romantismo, e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, obra considerada marco do realismo.
    A obra “A mão e a luva” narra a história de uma moça que busca ascensão social através do casamento alem de retratar a burguesia da época, quanto a estrutura deste romance é possível perceber uma superficialidade, personagens e estruturas simples e enredo previsível se comparado com uma obra complexa e inovadora como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” que foi uma obra que rompeu com os conceitos antes cultuados pelos romancistas. Em Memórias Póstumas, além da inovação de trazer ao foco um narrador já morto, Machado rompe com a estrutura de capítulos que por vezes são compostos apenas por pontos e outros que não acrescentam nenhuma nova informação.

    Caroline Ferreira Pinheiro.

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  36. Não consegui formar uma opinião concreta sobre o assunto. Sem mais.

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  37. Tenho para citar primeiro a obra de Guimarães Rosa Primeiras Estórias em especial o conto Darandina. A abordagem se fará ao pensamento polifônico, atendo-se à multiplicidade de vozes, bem como às inversões de valores sociais hierárquicos, que justifica o estar “à margem de nós mesmos”, visto que o conto Darandina versa sobre a loucura, causadora de estranhamento a olhares convencionais. Esses olhares, resultado da interface entre a verdade evidente e a verdade representada, são guiados por aparências que revelam seres e situações capazes de manifestar seus lados opostos, marginais, que compõem a formação do sujeito. Numa relação dialogada entre o eu e o outro, surgem dicotomias conceituais bakhtinianas, tal como a manifestação de um plurilinguismo que, além de implicar presença de várias linguagens, mistura comédia e uma possível tragédia num texto único. Esse conto nos permite fazer algumas reflexões como: a normalidade seria consequência de um “eu-sujeito” oprimido e a loucura uma manifestação da liberdade, enquanto ausência de regras, convenções e opressão? A partir desse questionamento, a construção de um peculiar diálogo, o confronto de diferentes pontos de vista sobre as forças da ordenação social e a reação desconcertante de um homem nu que, do alto de uma palmeira-real, localizada em uma praça pública, propõe novas ideias e novos conceitos, promovendo uma cômica inversão de valores sociais. Percebemos, no texto, que as ideias não estão prontas e nascem do confronto entre discursos, nasce do confronto marginal de vários “eus”.
    Segundo exemplo que tenho para citar é a obra de Franz Kafka a metamorfose, A temática da obra de Kafka é permeada pela desesperança e angústia do homem moderno diante do absurdo da própria existência, em um mundo cada vez mais incompreensível. O homem da modernidade sente os efeitos do que é ser moderno e muitas vezes não sabe lhe dar com esse fato. O personagem do conto de Kafka representa bem esse “conflito interior” do ser humano moderno. Quando lemos A metamorfose, pela primeira vez, nos deparamos de imediato com a informação de que Gregor Samsa, o personagem principal, se transformara em um inseto. Diante dessa cituação, que é a abertura do livro, nossa primeira atitude é de estranhamento. O relato nos parece irracional e inviável no plano da realidade. Em termos de análise literária o primeiro conflito se dá entre narrador e leitor. O leitor, pode imediatamente pensar que o personagem está sonhando ou simplesmente imaginando a situação. Analisando o personagem Gregor através do conceito de grotesco modernista podemos associar imagem e estado de espírito. Mesmo quando se misturam elementos humanos e animais na transição da realidade corpórea de um âmbito para outro ou na sobreposição das perspectivas – não há qualquer dissociação do elemento psíquico. Levando uma vida medíocre, solitária, e trabalhando como caixeiro viajante apenas para quitar uma dívida dos seus pais, Gregor sente o peso de sua ínfima importância como ser humano para o mundo e para os seus entes. Em Kafka, a estranheza não provém do eu, mas da essência do mundo e da falta de concordância entre ambos. Ou seja, em Gregor o conflito se estabelece entre ele o eu interior , e os elementos do mundo exterior. A família o rejeita, acha-o fraco e improdutivo. A indiferença se acentua quando ele passa a ser um inseto, e quando se dá conta da falsidade e da inutilidade da sua existência, se entrega ao extremo: a morte. Pergunto, então, será que Gregor, antes de se transformar corporalmente em um inseto, já não se sentia como tal? E mais, transformar-se num inseto não seria para ele a melhor maneira de não sentir o peso da indiferença alheia, pois se aproveitando da sua condição irracional pode também ser indiferente com os outros, e, assim, não sofrer?
    Eliani Ludwig

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  38. Levarei impresso amanhã.
    Maristela Cardoso da Rosa

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  39. Ao analisar obras literárias, segundo o formalismo russo, me deparo estar fragmentando (logo de início) todas as partes do texto, para descobrir como se dá sua estrutura, e assim buscar compreender (de acordo com o formalismo) a qual gênero literário a obra pertence ou mesmo a que outra obra pode estar relacionada, tanto nas suas intertextualidades quanto nas suas figuras de linguagens. E claro, perceber se o texto é uma obra literária.

    Analisarei dois fragmentos de dois textos segundo sua forma, sendo um poema e um romance
    O primeiro será o poema; Meus oito anos - Casimiro de Abreu.

    "...Como são belos os dias
    Do despontar da existência!
    - Respira a alma inocência
    Como perfumes a flor;
    O mar - é lago sereno,
    O céu - um manto azulado,
    O mundo - um sonho dourado,
    A vida - um hino d'amor!..."

    Casimiro de Abreu.

    No fragmento citado a cima, podemos identificar que é uma obra literária, ou seja, um poema, possuindo de acordo com suas formas em redondilhas maiores de 7 (sete) sílabas, rimas misturadas, o que difere da da norma clássica, possuí também rimas, de forma livre, e definindo também por uma estrutura que me permite identificar que este fragmento seja uma estrofe. Pela suas palavras noto que o poema se refere, nesta estrofe a uma saudade nostálgica, de uma infância pura, apresentada nestes versos: "...Como são belos os dias
    Do despontar da existência!
    Respira a alma inocência
    Como perfumes a flor..."

    Percebo também a função dos travessões usados nos versos citados abaixo, que mostra uma pausa em cada colocação dessa pontuação, como se fosse um respirar e sentir as belezas da natureza.

    "...O mar é – lago sereno,
    O céu – um manto azulado,
    O mundo – um sonho dourado,
    A vida – um hino d’amor..."

    Outra obra que me proponho a citar, fazendo referência a outra época, será a de Miguel de Cervantes - Dom Quixote.

    Este é apresentado como um romance, devido a sua forma estar em capítulos, e esses capítulos possuem um narrador e também seus personagens. Identifico isto neste fragmento citado abaixo:

    sendo este um dos capítulos, "...Capítulo VII - Da Segunda Saída do Nosso Bom Cavaleiro Dom Quixote de La Mancha..."

    narrador; "...Naquilo se estava, quando principiou a dar bardos Dom Quixote, dizendo:..."

    personagens; "... - Aqui, aqui, valorosos cavaleiros! Aqui é mister mostrar a possança dos vossos valorosos braços, que os cortesões levam a melhoria no torneio! ..."

    Referências Bibliográficas:

    http://www.infoescola.com/livros/meus-oito-anos/

    CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote: ed. Nova Cultura. SP : São Paulo, 2003. p. 55

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  41. Don Quijote de la Mancha

    Se para os formalistas russos um texto para ter literariedade tem que produzir e não reproduzir, encontramos em “Don Quijote de la Mancha”, um texto que não so podemos identificar lo pela sua estrutura como um Romance, senão que também define estre gênero, e a partir dele, todos os romances escritos pelo mundo todo, levariam um pouco dele, transformando a si mesmo num paradigma a ser seguido, não só por uma nação , como também para a Literatura mundial.
    A escrita em prosa, e a divisão em capítulos, e a sua extensão fazem dele um Romance, cria significantes e cria significados para a visão do herói épico clássico, mostrando aqui o nascimento de um herói que não é levado pelas circunstancias a se tornar um, e sim na pratica ele sai para se tornar um, tentando mudar o mundo, embora não obtenha sucesso na empreitada a não ser em mudar a si próprio; já na segunda parte ele continua a mudar a si mesmo e ainda consegue transformar o mundo.
    Algo inovador também foi o fato de as diferentes vocês em que ocorre a narração, inclusive uma passagem em que ele fala com o leitor, ou em forma de diálogos, alternando assim o narrador, inédito e impensável até então.
    O que começou como uma parodia irónica das novelas de cavaleiros, com uma crítica de como era a escrita das mesmas e seus costumes, na segunda parte , existe uma crítica a sociedade, e as instituições político- religiosas da época, com uma visão mais humana do individuo; e aquela loucura que vemos inicialmente em Don Quijote, vai dando lugar a uma grande lucidez , ao mesmo tempo que se perde a lucidez de Sancho, dando lugar a certa loucura. Aqui é valido nos perguntarmos, o que é loucura? Quem a valida ou a define? Loucura ou Idealismo?
    A continuação mostraremos algumas figuras de Linguagem presentes nesta obra: Paralelismo, aparece uma menção direta a obra conhecida como Amaudí de Gaula, da qual o Quijote compara suas aventuras; a ironia, ao se autoproclamar cavaleiro por um dono da pousada – “No me levantere jamás de donde estoy, valeroso caballero, fasta que la vuestra cortesía me otorgue um don que pedirle quiero, el cual redundará em alabanza vuestra y em pro del género humano” ( quijote pag. 41), metáfora, “- Pues no hay más que hacer- dijo el cura-, sino entregarlos al brazo seglar del ama,...”( quijote pag 67), eufemismo,” pero de muy poca sal em la mollera.”(pag. 72), se diz de quem não é muito inteligente; hipérbole, “-Yo valgo por ciento- replico Don Quijote.(quijote pag.131); antítese, “- Las heridas que se reciben em las batallas antes dan honra que la quitan;”( quijote pag136); prosopopeia, “-Asi es-dijo Sancho-, pero tiene el miedo muchos ojos, y v elas cosas debajo de tierra, ...”( quijote pag.177).
    Esta é uma pequena analise desta grandiosa obra , a segunda obra mais lida, e traduzida no mundo apôs a Bíblia. Ao analisar estes dois textos podemos perceber que embora com estruturas diferentes, e pertencer a géneros diferentes , ainda assim nos levam a uma aventura a ser saboreada a cada palavra, e torna impossível ficarmos somente numa leitura superficial, e para tal o formalismo se faz tão necessário como ponto de partida para iniciarmos uma analise mais a fundo, com ajuda de outras áreas.
    Edgardo Piriz Milano

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  42. Sagração
    Rocinante
    pasta a erva do sossego.

    A Mancha inteira é calma.
    A chama oculta arde
    nesta fremente Espanha interior.

    De giolhos e olhos visionários
    me sagro cavaleiro
    andante, amante
    de amor cortês e minha dama,
    cristal de perfeição entre perfeitas.

    Daqui por diante
    é girar, girovagar, a combater
    o erro, o falso, o mal de mil semblantes
    e recolher no peito em sangue
    a palma esquiva e rara
    que há de cingir-me a fronte
    por mão de Amor-amante.

    A fama, no capim
    que Rocinante pasta
    se guarda para mim, em tudo a sinto,
    sede que bebo, vento que me arrasta.


    Segundo o Formalismo Russo, observando do texto acima podemos dizer que existe literariedade, desde que produz um novo significado, por suaestrutura podemos afirmar que trata-se de um poema, embora de forma livre com cinco estrofes, uma de dois versos, uma de três versos, uma de sete e uma de quatro.
    Com uma licença poética própria deste tipo de texto, “de giolhos” existe um paralelismo com o Quijote de Cervantes, “Rocinante, Mancha, Espanha”; Prosopopeia, “olhos Visionarios”; comparação” o mal de mil semblantes”; Hipérbole ...minha dama, cristal de perfeição entre perfeitas”; aliteração, “andante, amante”; metáfora, “ A fama, no capim que Rocinante pasta...”
    A diferença com o texto original é, que aqui Carlos Drummond de Andrade a través da interpretação de um quadro inspirado também na própria obra de Cervantes, tenta captar a alma, com a qual o pintor a fez, é, ao mesmo tempo que nos remete ao original , também reverencia a quem pinto tal quadro, uma forma de homenagear ambas leituras, a de Cervantes e de Portinari.

    Edgardo Piriz Milano

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  43. Citações em espanhol do livro Don Quijote de la Mancha, Edicion del IV centenario. Real Academia Española

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  44. O que caracteriza o formalismo russo ou crítica formalista é a recusa à abordagens extrínsecas ao texto, o que significa dizer que a psicologia, a sociologia e a filosofia, que até então serviam de base para entender ou estudar a literatura foram negadas como instrumentos de análise e entendimento da obra literária.

    A literatura devia ser compreendida a partir das qualidades intrínsecas contidas no próprio texto ou produto literário. Ela não deveria ser entendida como a expressão do pensamento do autor. O que significa dizer que a literatura era formada por palavras, e não por objetos e sentimentos. A literatura deveria ser estudada por si só, daí a necessidade de contextualização da literariedade.
    Na obra de Graciliano Ramos Vidas Secas a comparação que fez o personagem Fabiano consigo mesmo em “Você é um bicho, Fabiano!”, é uma metáfora explícita que contém a obra. Fabiano é um vaqueiro, ele se considera um bicho e se orgulho de vencer as dificuldades tal qual um bicho.

    Juliana Garcia Rodrigues

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  45. A obra “Macunaíma” de Mario de Andrade do movimento modernista, que se influencio antropofagicamente das vanguardas européias, isto é, ter uma postura crítica diante das influências culturais européias, ‘dirigindo o que interessasse e ‘excretando’ o resto. O antropófagos ‘digeriram’ do movimento futurista a proposta de destruição do passado decadente, exaltação pelas formas do mundo moderno ( automóveis, aviões, e um eterno culto á velocidade), a tentativa de uma arte nova e realmente nacional.
    Em Macunaíma a influência futurista é percebida pelo uso da técnica cinematográfica na composição da obra com cortes bruscos no discurso do narrador para dar ligar á fala dos personagens, especialmente de Macunaíma. A utilização desta técnica nos dá claramente noções de velocidade, simultaneidade (apresentação de duas ou mais ações de fatos ao mesmo tempo) e continuidade na narrativa. Vê-se claramente isto no trecho do capitulo III “CI, MÃE DO MARO”
    “(...) Ci aromava tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza.
    - Puxa! Como você cheira, benzinho”!
    Que ele murmurava gozado. E escancarava as narinas mais. Vinha uma tonteira tão macota que o sono principiava pingando das pálpebras dele. Porém a Mãe do Mato inda não estava satisfeita não e com um jeito de rede que enlaçava os dois convidava ao companheiro para mais brinquedo. Morto de soneira, infernizado, Macunaíma brincava para não desmentir a forma só, porém quando Ci queria rir com ele de satisfação:
    - Ai que preguiça!...”
    No fragmento acima temos uma série de cortes que atribuem ao texto um dinamismo, uma maior velocidade, por exemplo, na frase: “(...) Ci queria rir com ele de satisfação:”, esperamos que o autor nos narrasse qual a reação de Macunaíma frente ao pedido de Ci (Ci queria “brincar” com Macunaíma). Mas, o que temos é um corte brusco com a introdução direta da fala “- Ai que preguiça!...”. Vemos também uma simultaneidade entre a descrição da cena e a atuação dos personagens, ou seja, tudo acontece junto como se fosse uma cena de cinema, não há uma descrição separada da ação.
    Outra característica de originalidade na narrativa da obra é a destruição da gramática, por exemplo, a utilização de minúsculas no começo do parágrafo (- Puxa! como você cheira, benzinho!...) . Essa ruptura gramatical também se percebe no primeiro capitulo no fragmento: “ (...) Porém respeitava os velhos e freqüentava com aplicação a murura a poracê o torê o bacororô a cuicuicogue (...)”, vemos aqui a ausência de vírgula que além de ser uma escolha estilística, da a ideia de velocidade e continuidade.
    Outra obra que posse a originalidade fundamental que o formalismo russo apresentou como base para a própria definição de literatura é a obra “O Alienista” de Machado de Assis. No começo do capitulo XI, vê-se a singularidade/desautomatização do texto que decorre do estranhamento provocado pela inclusão do leitor no universo dos habitantes de Itaguaí

    “E agora prepare-se o leitor para o mesmo assombro em que ficou a vila, ao saber um dia que os loucos da Casa Verde iam todos ser postos na rua.
    Todos?
    Todos.
    -É impossível; alguns sim, mas todos...
    Todos. Assim o disse ele no ofício que mandou hoje de manhã à câmara.”
    De este modo, o leitor é convidado a sentir o mesmo espanto dos moradores de Itaguaí ao saber que todos os reclusos da casa Verde iam ser libertos. Sendo assim, o leitor deixa a posição de espectador para assumir o estatuto de personagem (leitor incluso). A desautomatização de corre também da reiteração intensiva do vocábulo todos, pronunciado quatro vezes em diferentes tons de surpresa.

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  46. Professor,
    Estou participando de um congresso no Uruguai portanto só agora estou conseguindo fazer minha postagem para garantir a participação.
    Misael.

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  47. Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. (O Cortiço, Aluísio de Azevedo, cap.III, pág.37)
    No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai. (Memórias sentimentais de João Miramar, Oswald de Andrade,3.Gare do Infinito, pág. 74,)

    Segundo Chklovski, a literatura é uma forma de pensar por meio de imagens, as quais são representadas pela linguagem. E esse argumento é pode ser comprovado através de infinitas obras literárias, porém, tomo como exemplo as obras O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, e Memórias sentimentais de João Miramar.
    Em ambas as citações representadas acima, pode-se observar a existência de metáfora. Na primeira citação, “o cortiço” é uma possível representação de todos os habitantes do lugar, afinal não é o cortiço que abre sua “infinidade de portas e janelas alinhadas”, e sim, seus moradores. Já na segunda, nos deparamos com a mesma figura de linguagem, como pode-se observar em “a voz preta de mamãe”, o que possivelmente significa uma voz triste, e em “a reza do Anjo que carregou meu pai” pode-se inferir que trata-se de uma oração para o pai que morreu.

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  48. De acordo com o texto acima cito as obras “Memórias Sentimentais de João Miramar”, de Oswald de Andrade, e “Primeiras Estórias”, de João Guimarães Rosa, nas quais podemos encontrar através da linguagem utilizada este “filtro da realidade” comentado acima.
    “Memórias Sentimentais de João Miramar” é uma obra em que o autor se apropria do manifesto antropófago para mostrar que é preciso se apropriar do conhecimento do outro para podermos passar a dar conta de quem somos. Com isso no decorrer dos fragmentos aparecem elementos que têm sentido irônico como, por exemplo, as expressões estrangeiras utilizadas ao longo da obra, que seria uma forma de o escritor criticar as influências de outros países no Brasil.
    Um exemplo da obra que confirma esta ideia é o prefácio e o fragmento 46:
    Prefácio
    (...) o fato é que o trabalho de plasma de uma língua modernista nascida da mistura do português com as contribuições de outras línguas imigradas entre nós e contudo tendo para uma construção de simplicidade latina, não deixa de ser interessante e original (...)

    Fragmento 46 ANGLOMANIA
    “Tomamos board-house francesa em Albany Street não longe do Hyde Park. Durante o dia almoçávamos a cidade visitando entre jardins múmias do British Museum.(...)”
    Outro elemento importante presente nesta obra, de Oswald de Andrade, é o emprego de metáforas, como, por exemplo, nos fragmentos 3 e 33.

    Fragmento 3 GARE DO INFINITO
    “No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai.”

    Fragmento 33 VELEIRO
    “Esquecia-me olhando o céu e a estrela diurna que vinha me contar salgada do banho como estudara num colégio interno.(...)”

    Esta obra surgiu devido à necessidade de novas técnicas literárias e, também, pela importância do cinema para o ideário modernista. Com essa necessidade de inovação, surgiu a técnica cinematográfica, que consiste em uma nova forma de fazer literatura. Com o surgimento desta técnica, também surgiram as expressões: “simultaneísmo”; “palavras em liberdade”; “imaginação sem fios”; “estilo telegráfico”; “ver com os olhos livres”, que são atribuídas pelo autor como uma novidade, ou seja, uma nova maneira de narrar e contar a história. Essas expressões são empregadas nesta obra experimental de Oswald de Andrade, na qual o autor utiliza características cinematográficas e de outras artes para empregá-las através da palavra, ou seja, da literatura.
    Um dos fragmentos que pode ser citado é o fragmento 1 “O penseiroso”:
    “Jardim desencanto
    O dever e procissões com pálios
    E cônegos
    Lá fora
    E um circo vago e sem mistério
    Urbanos pintando nas noites cheias
    Mamãe chamava-me e conduzia-me para dentro do oratório de mãos grudadas.(...)”

    Neste trecho somos levados para algum momento dentro da vida da personagem. Isso pode ser percebido porque a palavra passa a ser imagem no momento da leitura, ou seja, o leitor ao ler o fragmento projeta no seu imaginário um cenário cinematográfico.

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  49. (continuando)
    Já em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, a questão universal apontada pelo autor é o domínio da linguagem. Sendo assim, a temática e a ironia marcante na obra deste grande escritor se resume na assertiva de que o real não esteja nem no começo e nem no fim, mas no meio da travessia. Esta travessia é necessária para tentarmos encontrar respostas para o sentido da vida, da existência e para tentarmos buscar as respostas, quando estas forem possíveis; esta busca deve ser feita através da linguagem. A linguagem aproxima-se minimamente do real, pois o mundo só faz sentido porque pode ser lido pela linguagem.
    Pode ser citado o trecho do conto “A terceira margem do rio”:
    “(...)Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia.(...)”
    Outro elemento presente na obra de João Guimarães rosa é a metáfora, encontrada, por exemplo, no conto “O espelho”, no qual o narrador em 1º pessoa, diante de um espelho, questiona e tenta explicar a falta de sentido do mundo.
    Citações do conto “O espelho”:

    “(...) O espelho, são muitos, captando-lhe as feições; todos refletem-lhe o rosto, e o senhor crê-se com o aspecto próprio e praticamente imudado, do qual lhe dão imagem fiel(...)”

    “(...) Resta-lhe argumento: qualquer pessoa pode, a um tempo, ver o rosto de outra e sua reflexão no espelho. Sem sofisma, refuto-o.(...)”

    “(...) Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente...”

    De acordo com estes trechos e com os outros contos que compõem o livro Primeiras Estórias, pode-se perceber que os personagens são movidos em direção a um objetivo (a busca pelo sentido da vida), na tentativa de alcançá-lo, mas o que se revela como essencial não é alcançar esse objetivo, mas aquilo que se aprende durante a travessia, ou seja, só racionalmente não podemos entender o mundo porque existe um mundo a parte. A verdade, o real, o lógico, a apreensão do mundo real e significativo não existe é improvável e inalcançável.

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  50. "Fräulein botara os braços cruzados no parapeito de pedra, fincara o mento aí, nas carnes rijas. E se perdia. Os olhos dela pouco a pouco se fecharam, - cega duma vez. A razão pouco a pouco escampou. Desapareceu por fim, escorraçada pela vida excessiva dos sentidos. Das partes profundas do ser lhe vinham apelos vagos e decretos fracionados. Se misturavam animalidades e invenções geniais. E o orgasmo. Adquirira enfim uma alma vegetal. E assim perdida, assim vibrando, as narinas se alastraram, os lábios de partiram, contrações, rugas, esgar, numa expressão dolorosa de gozo, ficou feia."

    Em Amar, Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade, a passagem de Fräulein em visita à floresta da Tijuca com a família Sousa Costa mostra ocorrências de concretização do abstrato e personificação do inanimado. Esses são recursos que poderiam evidenciar a literariedade de uma obra em uma visão formalista, já que se tratam de ocorrências de linguagem figurada. A razão, elemento abstrato, "escampa" como o céu que não tem mais chuva, se tornando concreta como um elemento da natureza palpável. Da mesma forma, Fräulein é "escorraçada" por um elemento não humano - os sentidos ganham autonomia e poder de pessoa, constituindo um elemento ativo que desorienta a governanta, em seu primeiro contato com tal paisagem.

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  52. "Teresa

    A primeira vez que vi Teresa
    Achei que ela tinha pernas estúpidas
    Achei também que a cara parecia uma perna

    Quando vi Teresa de novo
    Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
    (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

    Da terceira vez não vi mais nada
    Os céus se misturaram com a terra
    E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas."
    BANDEIRA, Manuel.
    Disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/NjcwMjAw/

    A fusão do poema ocorre pela escolha e a forma como é feita a ligação poética entre os termos, termos esses de cunho comum, como por exemplo, pernas, olhos face. Esses elementos formam uma singularização de sentido, pois há uma caracterização de uma pessoa e, ao mesmo tempo há uma quebra do que se é esperado, pois as combinações nada estão de acordo com o mundo real. Há, portanto um jogo de linguagem.

    “E de onde que o estais trazendo, irmão das almas?...
    Onde a caatinga é mais seca, irmão das almas
    Onde uma terra que não dá nem planta brava”
    NETO, João Cabral de Melo.
    Disponível em http://www.releituras.com/joaocabral_morte.asp

    Aqui percebemos os elementos linguísticos utilizados com significados mais concretos, como por exemplo, a terra em sua forma física e a seca, na sua forma mais abstrata, mas de fato fazendo referência a ação de não chover naquela área.

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  53. Em 1999 é publicado O Chão que Ela Pisa, romance que narra a saga de dois amantes (ou mais... Dependendo da perspectiva.) em seus encontros e desencontros, ora de si, ora do outro, mas sobretudo em busca da música; desde a Índia, através do mundo e pelo submundo também.

    A história de Vina Apsara e Ormus Cama começa antes de seus próprios nascimentos, mas não termina mesmo depois de suas mortes (A trama tem início em 1947.) Ao tomar conhecimento do trágico fim de sua musa, Ormus compõem então um derradeiro hino, perpetuado nas páginas de Salman Rushdie e, posteriormente, na música do grupo irlandês U2.

    Na primeira estrofe de The Ground Beneath her Feet, percebe-se a presença de sinestesia, figura de linguagem que modifica a relação entre as sensações e os sentidos. No intuito de exaltar as qualidades da protagonista, o autor faz uma verdadeira inversão entre as sensações percebidas pelos sentidos da visão e da audição; sua voz é dourada e sua beleza tem ritmo. Como fica evidente no trecho transcrito:

    "All my life, I worshipped her
    Her golden voice, her beauty's beat
    How she made us feel
    How she made me real
    And the ground beneath her feet"

    (Ou em uma tradução livre:)
    "Toda minha vida, eu a adorei
    Sua voz dourada, o compasso de sua beleza
    Como ela nos fazia sentir
    Como ela me fazia real
    E o chão sobre seus pés"

    E o outro exemplo, que complementa a ideia geral da obra anterior, é o do paradoxo presente na última linha do conhecido Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes:

    "Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure."

    Rebeca Werner

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  54. Um dos elementos famosos na escrita de Machado de Assis, cuja escrita estava a frente de sua epoca, era o uso da ironia. Apesar de alguns criticos contestarem a obra em prosa de Machado como uma literatura que só tratou de temas universais, é visível a presenca da preocupaçao Machadiana com assuntos do Brasil, em sua Cronica publicada na Gazeta de Noticias em 13 de maio de 1888 Machado usa da ironia para tratar das questoes da escravidão
    Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico
    De mesma forma podemos observar a presença de ironia em obras de periodos anteriores como no poema de Alvares de Azevedo apesar desse elemento não ser comum em obras de cunho romantico do período
    VAGABUNDO
    Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
    Fumando meu cigarro vaporoso;
    Nas noites de verão namoro estrelas;
    Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso!
    Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
    Mas tenho na viola uma riqueza:
    Canto à lua de noite serenatas,
    E quem vive de amor não tem pobreza.
    Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
    Nas cavernas do peito, sufocante,
    Quando à noite na treva em mim se entornam
    Os reflexos do baile fascinante.
    Namoro e sou feliz nos meus amores;
    Sou garboso e rapaz... uma criada
    Abrasada de amor por um soneto
    Já um beijo me deu subindo a escada...
    Oito dias lá vão que ando cismado
    Na donzela que ali defronte mora.
    Ela ao ver-me sorri tão docemente!
    Desconfio que a moça me namora!...
    Tenho por palácio as longas ruas;
    Passeio a gosto e durmo sem temores;
    Quando bebo, sou rei como um poeta,
    E o vinho faz sonhar com os amores.
    O degrau das igrejas é meu trono,
    Minha pátria é o vento que respiro,
    Minha mãe é a lua macilenta,
    E a preguiça a mulher por quem suspiro.
    Escrevo nas paredes as minhas rimas,
    De painéis a carvão adorno a rua;
    Como as aves do céu e as flores puras
    Abro meu peito ao sol e durmo à lua.
    Sinto-me um coração de Lazzaroni;
    Sou filho do calor, odeio o frio;
    Não creio no diabo nem nos santos...
    Rezo a Nossa Senhora, e sou vadio!
    Ora, se por aí alguma bela
    Bem doirada e amante da preguiça
    Quiser a nívea mão unir à minha
    Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.
    (AZEVEDO, 2000: 233)chado de Assis ,
    (Thamires de Carvalho Marchezini)

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  55. Levarei o comentário impresso, amanhã!

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