sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Sobre liberdades...

No dia da consciência negra disponibilizamos um texto de Machado de Assis que, de tão atual, dialoga diretamente com o humor dos quadrinhos de Helio de La Peña e Alê Magalhães

Machado de Assis é arqui-inimigo de protagonista em romance que aborda  racismo contra o escritor - Jornal O Globo


Abolição e liberdade

Crônica publicada no jornal Gazeta de Notícias, em 19 de maio de 1888.

Bons dias!

Eu pertenço a uma família de profetas après coup, post factum, depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário fôr, que tôda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar.

Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.

No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que acompanhando as idéias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas idéias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado.

Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembléia que correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.

No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:

Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que…

Oh! meu senhô! fico.

– …Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho dêste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos…

Artura não qué dizê nada, não, senhô…

Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha.

Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete.

Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Êle continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.

Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí pra cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe bêsta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas tôdas que êle recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.

O meu plano está feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes da abolição legal, já eu, em casa, na modéstia da família, libertava um escravo, ato que comoveu a tôda a gente que dêle teve notícia; que êsse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar, (simples suposições) é então professor de filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na terra, para satisfação do céu.

Boas noites.

Texto extraído de - Assis, Machado de. Obra Completa, Vol III. 3ª edição. José Aguilar, Rio de Janeiro. 1973. p. 489 – 491.

 

 14.05.1888_Edição do jornal A Gazeta de Notícias publica a Lei que extingue  a escravidão no Brasil. (… | Escravidão, Abolição da escravidão, Libertação  dos escravos

 Quadrinho 1  - Alexandre Magalhães 

https://www.uol.com.br/ecoa/amp-stories/helio-de-la-pena-e-ale-magalhaes-em-quadrinho-para-dia-da-consciencia-negra/index.htm


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Da morte da ética – Entre esquemas e jeitinhos: os atalhos e as picardias que alimentam ao gigante

 As discussões continuam na sua proposta de relacionar reflexões críticas a partir da literatura brasileira, o que acaba por ressignificar a própria noção de distopia quando pensamos nas contradições presentes no processo de formação histórica e cultural do Brasil. Para dinamizar essas discussões, selecionamos as seguintes obras:

Memórias de um sargento de milícias - Manuel Antonio de Almeida

CANDIDO, Antonio. Dialética da malandragem. | by César Marins | Medium

 livro-memorias-de-um-sargento-de-milicias PLANO CRÍTICO ANÁLISE CRÍTICA

  https://www.youtube.com/watch?v=plgf82cIXMk

 

LITERATURAMANUEL ANTÓNIO DE ALMEIDA_ _  . . _ . Mu,  47 , ._: ..› . . .  , .  . . ...  › . í L .  ,. z/. ax.  .. ....

https://pt.slideshare.net/JulianaRodrigues114/hq-memrias-de-um-sargento-de-milcias-manuel-antnio-de-almeida

 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjh9onVxoftAhW9IbkGHZGHCTEQFjAAegQIAxAC&url=http%3A%2F%2Fpaginapessoal.utfpr.edu.br%2Fmhlima%2FAntonio_Candido_-_Dialetica_da_Malandragem-1.pdf%2Fat_download%2Ffile&usg=AOvVaw2Cxi20b7-kyjOEc1TErpDb

 

Verão Tardio - Luiz Rufatto

 

As ruínas de O verão tardio, de Luiz Ruffato – Impressões de Maria

 http://www.aescotilha.com.br/literatura/ponto-virgula/o-verao-tardio-luiz-ruffato-companhia-das-letras-resenha-critica/

http://www.suplementopernambuco.com.br/edi%C3%A7%C3%B5es-anteriores/67-bastidores/2267-luiz-ruffato-fala-dos-bastidores-de-o-ver%C3%A3o-tardio.html?fb_comment_id=1867918503314415_1885316851574580

 

Não verás país nenhum - Ignácio de Loyola Brandão

Não Verás País Nenhum | Amazon.com.br 

https://istoe.com.br/devemos-nos-indignar-contra-a-loucura-que-esta-ai/

https://homoliteratus.com/nao-veras-pais-nenhum/

 

 

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Cidades de medo – violência, morte e degradação no abandono urbano das periferias

As discussões continuam com base nas obras de Ferrèz, Roberto Saviano e Paulo Lins. A violência naturalizada pela desigualdade nas grandes cidades e o conflito social permeado pelo trânsito de personagens que se confundem com pessoais "reais" é o mote de reflexão que pretendemos desenvolver a partir dessas narrativas.

 

Capão pecado - Ferrèz

Capão pecado | Amazon.com.br

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-40182013000100006

 

Os meninos de Nápoles - Roberto Saviano

Amazon.com.br eBooks Kindle: Os meninos de Nápoles, Saviano, Roberto,  Pinheiro, Solange

https://www.revistabula.com/12243-jurado-de-morte-roberto-saviano-lanca-novo-livro-e-afirma-que-italia-e-um-pais-cruel/

 

Cidade de Deus - Paulo Lins

Cidade De Deus | Amazon.com.br 

Cidade de Deus 

Lugar de preto? A política de remoções das favelas e a representação do  negro no longa-metragem Cidade de Deus

 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

“Teje” preso! – O autoritarismo que subverte a literatura policial brasileira

 A narrativa policial brasileira e as questões que envolvem o autoritarismo são o foco da nossa discussão. Pensar como o gênero policial dialoga com as contradições da nossa própria formação cultural se torna um desafio quando a necessidade de crítica acaba esbarrando em aspectos que evidenciam problemas para além de uma leitura superficial acerca do tema e das produções literárias preocupadas com essa temática.

Assim, sugerimos como fio condutor dessa reflexão as obras:

Oeste – A guerra do Jogo do Bicho, de Alexandre Fraga

10 Livros da nova geração da literatura policial brasileira para ter na  estante... - Listas Literárias | O Blog literário mais visitado do Brasil

O caso Morel, de Rubem Fonseca

De Frente com os Livros: Resenha: O Caso Morel - Rubem Fonseca

Que fim levou Juliana Klein, de Marcos Peres

 Que Fim Levou Juliana Klein? - livrofacil

 

E para subsidiar aspectos dessa abordagem, seguem alguns links para textos e discussões relevantes:

http://www.digestivocultural.com/colunistas/imprimir.asp?codigo=1254

https://blog.jovempan.com.br/tem-metodo/2019/05/02/resenha-afetiva-vi-oeste-a-guerra-do-jogo-do-bicho/

http://wwws.fclar.unesp.br/agenda-pos/estudos_literarios/4605.pdf

http://www.douglaseralldo.com/2015/11/romance-policial-ou-literatura-um-olhar.html