quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O jogo do texto

Segundo Wolfgang Iser, "o jogo encenado do texto não se desdobra, portanto, como um espetáculo que o leitor meramente observa, mas é tanto um evento em processo como um acontecimento para o leitor; provocando seu envolvimento direto nos procedimentos e na encenação. Pois o jogo do texto pode ser cumprido individualmente por cada leitor, que, ao realizá-lo de seu modo, produz um 'suplemento' individual, que considera ser o significado do texto. O significado é um 'suplemento' porque prende o processo ininterrupto de transformação e é adicional ao texto, sem jamais ser autenticado por ele." 

In: LIMA, Luiz Costa (org.). A literatura e o leitor. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, p. 116.


7 comentários:

  1. O que pude compreender desse trecho é que o leitor tem uma participação ativa no processo de leitura: ele não somente lê de forma passiva, mas também cria um significado advindo do envolvimento direto com aquilo que lê, e a essa criação foi dado o conceito de 'suplemento' por Wolfgang Iser. O autor também considera que esse 'suplemento' é individual, pois é fruto de cada leitor, e é adicional ao texto por não estar intrínseco ou meramente ligado àquilo que está escrito.

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  2. Acredito que se o texto dá embasamento, é possível haver mais de uma interpretação sobre uma mesma obra (esta podendo ser um poema, um romance, um conto, etc). O que o autor está pensando no momento em que escreveu determinada parte do texto não é necessariamente o que o leitor do texto vai pensar/interpretar, eles podem ter visões diferentes. O leitor interage com o texto, se envolve com ele, não é somente um receptor passivo de informações. Através de seu contato com o texto, ele pode se identificar com o que está sendo dito e assim criar maior interesse por ele, motivando-o a continuar a leitura e pensar/pesquisar a respeito do que está sendo dito. Também é importante ressaltar que o autor não precisa confirmar ou não se uma dada interpretação de um certo leitor está correta ou não, como se fosse algo binário ("só existe uma interpretação correta e ponto"), o leitor pode ver coisas diferentes do que o autor pensou, coisas que nem passaram pela cabeça do escritor enquanto ele criava sua obra. Claro, não pode ser algo totalmente sem relação com o que está sendo dito na composição, mas aí que entra o fundamento no texto.
    É como uma letra de música: quantas vezes nos identificamos com certos trechos, mesmo a música não sendo explicitamente sobre nós? Mesmo que seja só um pedacinho dela que nos remete a algo relacionado com a nossa realidade? É aí que entra a identificação, a catarse, o que o texto te provoca, te faz sentir.
    Além disso, dois leitores não têm necessariamente a mesma visão sobre um texto, por isso é necessário ler, entender e criar sua própria opinião a respeito da obra, não ficar dependente da visão de outra pessoa sobre o texto em questão.

    Bem, essa foi a minha interpretação e minha opinião a respeito desse trecho de "O Jogo do Texto", espero que seja mais ou menos isso que o senhor esperava/queria que comentássemos aqui no Blog hehe.

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  4. O trecho supracitado, bem como a corrente da Estética da Recepção, ressalta a faceta do texto enquanto ato de comunicação jamais hermético, mas um processo discursivo na qual autor, obra e leitor têm papéis fundamentais.

    A Estética da Recepção vem romper com a ideia tradicional de estética, universalista, propondo que o leitor participará ativamente na recepção da obra ao conferir a ele um status de sujeito (idealizado) socio-historicamente localizado, portanto, com valores e percepções plásticas e únicas, moldadas por sua subjetividade, espaço e tempo.

    Contudo, mesmo que elabore significados para os textos, nunca receberá uma confirmação, já que tal corrente crítica pressupõe que não há interpretação primeira, mas sim inúmeras formas de compreender o mesmo texto a partir das inúmeras variações que o espectro histórico e social conferem. O texto existe enquanto discurso, o leitor existe enquanto sujeito que se apropriará do discurso já manipulado por um ente criador (o autor), originando uma nova gama de discursos numa dinâmica infinita.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. O trecho de Wolfgang Iser transmite a ideia de que um texto não é apenas um "jogo encenado" sem propósito, e que esse propósito é construído por cada leitor de diversas formas, partindo do pressuposto de que um texto não tem apenas uma versão final. No dicionário, a palavra 'suplemento' apresenta a descrição "aquilo que supre; o que serve para suprir alguma falta". Por isso, acredito que a palavra cumpre perfeitamente a metáfora que o autor tenta passar: o texto é uma parte, o leitor supre a parte que o falta a partir de sua leitura.

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  7. O referido excerto parte de um pressuposto fenomenológico que atenta à importância dos fenômenos de consciência, ou à contemplação destes, ligados à materialidade da obra. Os segmentos teóricos da estética da recepção, todavia, não tão somente incitam à noção de consciência transcendental, mas também recorrem à interpretação histórica, reiterando um posicionamento dialógico na análise literária. Para Jauss, a interpretação de uma obra do passado tenciona possibilidade de nova atribuição de significado, posto que, segundo os critérios da recepção, o fenômeno significativo construir-se-á em uma relação interdependente entre diacronia e sincronia para a compreensão total da obra.
    Iser confere à leitura a qualidade de processo de comunicação, isto é, o intercruzamento de vozes no ato de leitura contemplando a participação individual do leitor para a concretização da obra, por meio de suas interpretações nos “espaços vazios” ou lacunas, contanto que estas possuam coerência interna. Nesta perspectiva o leitor torna-se membro no processo de construção de significado como integrante das estruturas textuais, na medida em que interage com o texto literário e é modificado por ele na relação dialética estabelecida entre autor, texto e leitor, criando, destarte, um arcabouço volátil de significação possível.

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