segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O [suposto] perigo da literatura

A literatura representa um perigo - muitos afirmam em contextos diferentes. Esse dito pode partir daquele que defende a produção literária como transformadora de forma positiva, como para aquele que condena as mudanças, responsabilizando a produção artística como fundamental para os problemas existentes. Em ambos os casos, pode haver uma deturpação do sentido da literatura e de sua função social [também na direção de sua função humanizadora, como prescreve Antonio Candido]. Esse problema pode se situar no apagamento das responsabilidades coletivas ao atribuir ao elemento artístico um poder que (talvez) ele não possua. O que sustenta a sua crítica e o seu elogio é o próprio significado simbólico que a literatura carrega consigo: como expiatória para justificar as decisões já tomadas - e ainda não totalmente diluídas e aceitas sem algum comprovação que não implique um conflito com as consciências individuais - e como motivadoras para mobilizar ainda mais um movimento em curso, em uma tentativa de mobilizar os grupos sociais na direção de si e de suas contradições. Em ambos os casos a literatura pode ser perigosa... mas apenas como potencial que depende do movimento maior da sociedade. E esse "apenas" é bastante significativo, posto que existe a censura sobre a arte e a literatura como forma de "controle", como se controlar a produção artística garantisse a permanência ou a transformação por si só.

Para refletir sobre essa problemática, acesse o link do blog de Crítica Literária em que consta um texto sobre a queima de livros:
http://criticaliterariaufpel.blogspot.com/2017/07/queimem-os-livros-bradam-os-pensamentos.html

Leia, na sequência, a seguinte citação de um texto de 1984, de Artur Danto, que discute sobre o descredenciamento filosófico da arte.

O objetivo é articular a questão da literatura em sua materialidade linguística [abordagem formalista e estruturalista] com a processo histórico e cultural a com base nos textos sobre literatura e sociedade. Procure, para tanto, apresentar um exemplo de uma obra que poderia ser "transformadora", apresentando os motivos da sua escolha.


"Em seu grande poema sobre a morte de William Butler Yeats, Auden escreveu: 'A Irlanda ainda tem sua loucura e seu clima/ Porque a poesia nada faz acontecer'. Ninguém, suponho, nem mesmo um visionário poético, esperaria que a lírica dispersasse a umidade da Ilha Esmeralda, e isso dá a Auden seu paradigma de impotência artística. A equiparação com a loucura da Irlanda é então mencionada para desencorajar a esperança comparativamente fútil, mas frequentemente alimentada, de que a quantidade correta de versos pode fazer algo acontecer - embora sua ineficácia na política irlandesa não represente o descrédito especial da arte, pois não está claro que no campo da política alguma outra coisa pudesse ser eficaz. 'Penso ser melhor para tempos como esses / Que a boca do poeta esteja silenciosa, porque, na verdade / Não temos o dom de estabelecer o direito de um estadista', escreveu Yeats como se fosse uma recusa poética de escrever um poema de guerra. E ele parece ter endossado o pensamento que Auden expressou a ponto de dignificar como arte as ações políticas fracassadas, mesmo que muito calorosamente motivadas: 'Conhecemos os sonhos deles; o bastante / Para saber que sonharam e estão mortos; / E o que senão excesso de amor / Os bestializou até que morressem? [...] Uma terrível beleza nasceu'. Que a política se torne poesia quando enobrecida pela fracasso é uma transferência sentimental, a qual duvido que fosse consoladora para os selvagens atiradores do Easter Rising, uma vez que estar empenhado de modo suficientemente sério na mudança política, a ponto de derramar sangue real, é exatamente não querer que a própria ação seja avaliada apenas como escrita desviada no meio da violência. Ter escorregado da ordem da efetividade para a ordem da arte, ter alcançado inadvertidamente algo equivalente ao pássaro dourado da sala do trono bizantino ou da figura desconexa de uma urna grega deve, então, ser um duplo fracasso para o guerreiro já derrotado.
'Sei que todos os versos que escrevi, todas as posições que assumi nos anos 1930, não salvaram um único judeu', escreveu Auden com sua característica e ardente honestidade. 'Aquelas atitudes, aqueles escritos, só servem a si próprios' (...) 
Essa é, naturalmente, uma demanda empírica, e é difícil saber o quanto ela é verdadeira simplesmente por causa das dificuldades no tópico da explicação histórica. Em certo sentido, o jazz foi a causa da Era do Jazz ou apenas um emblema de suas transformações morais? Os Beatles causaram ou apenas prefiguraram as perturbações políticas dos anos 1960? Ou será que a política simplesmente se tornou uma forma de arte naquele período - pelo menos a política associada à música - enquanto a história política acontecia num nível diferente de causação? Em todo o caso, como sabemos, mesmo as obras com intenção de fisgar a consciência para a preocupação política tinham a tendência, de modo geral, de provocar no máximo uma admiração dirigida a elas e uma autoadmiração moral para aqueles que as admiravam."

DANTO, Artur.  
O descredenciamento filosófico da arte. 
Tradução: Rodrigo Duarte. 
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. p. 35-37.

32 comentários:

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  2. A arte, através de seus elementos, não tem o poder de por si só mudar e corromper uma sociedade. O que acontece, na maioria das vezes, é a literatura transcrever movimentos que estão sendo (ou já foram) feitos pela própria sociedade em questão. Entretanto, há pessoas (em sua maioria, a elite) que não concordam com essa transcrição, e preferem que elas permaneçam ocultas, tentando censurá-las. Fato similar aconteceu com “O Código da Vinci”, de Dan Brown, onde católicos protestaram contra a adaptação do livro de mesmo nome, sendo definida como “um conjunto de ofensas, calúnias, e erros históricos e teológicos” pelo arcebispo Angelo Amato. Mesmo o livro sendo uma obra de ficção, os fatos reais neles contidos foram verossímeis o bastante (e realistas, no caso do passado da religião) para causar incômodo na igreja.
    Em outro caso, o caso de “Madame Bovary”, Gustave Flaubert, autor da obra e um dos maiores nomes do realismo, foi levado aos tribunais, acusado de produzir uma obra “execrável sob o ponto de vista moral”. Emma Bovary, personagem principal do livro, é uma dona de casa entediada com a rotina pequeno-burguesa, que opta por cometer adultério em nome da busca da própria felicidade. Flaubert apenas escreveu sobre o que acometia a sociedade do século XVIII, não foi o causador de tais fatos. As mulheres já se viam insatisfeitas com os próprios casamentos antes de “Madame Bovary”, o que o livro fez foi retratar o que já se via. Portanto, a literatura pode ser interpretada como uma transcrição de fatos, mas não como causadora dos mesmos, tendo em vista que as obras por si só não dispõem de tal poder para mudarem uma sociedade, apenas para mudar quem as usa para tentar mudar a si mesmo.

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  3. A literatura é vista como um perigo pelos que detém o poder nas relações políticas, sociais e pessoais, pois a sentem como uma ameaça ao status quo. Assim como um romance, com viés libertador dos costumes sociais, pode deixar um pai apreensivo, caso sua filha “inocente” o leia, também o acesso, por parte da população, de obras críticas sobre o sistema, podem deixar um governante preocupado com o fato que isso possa transformar a sociedade e esta se rebelar contra um poder visto até então como natural. No entanto, a literatura, por si só, não tem o poder de transformar uma pessoa ou uma sociedade. Ela é um testemunho de um contexto que a produziu e é a expressão das contradições e anseios que já haviam em quem a lê. Dá mesma forma que um fósforo não incendeia uma lenha molhada, porém transforma em uma fogueira uma lenha senha e embebida em álcool, a literatura só fará efeito em um leitor que já está predisposto a se transformar.
    O livro “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, é uma obra que pode ter um viés libertador, pois ao mostrar toda a exploração pela qual a América Latina passou no decorrer da sua história, poderia tornar consciente uma população que até então não se percebia como explorada, uma vez que essa situação já vem de tantos anos que se tornou naturalizada na sociedade. Este livro chegou a ser banido na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai durante as ditaduras militares destes países, por ser considerado uma ameaça ao poder instituído. Ele tornaria consciente uma população da sua condição de explorada em nível internacional no passado e no presente. Porém, o seu caráter libertador é limitado, visto que poucos latino-americanos leram esta obra. E mesmo se tivessem lido, esta conscientização reverteria em uma libertação prática ou apenas no nível teórico?

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  7. O poder transformador da arte pertence muito mais a percepção de seu consumidor do que ao produto inicial de seu criador, ao retratar sentimento geral ou estado político um autor pode empregar a mais triste e agressiva franqueza em suas palavras e ainda assim não surtir efeito, é através do movimento pessoal de cada leitor, quanto a entendimento e reflexão sobre cada obra, que acaba ocorrendo o surgimento de realidades transformadas. Tomando-se por exemplo a graphic novel “Maus” de Art Spiegelman, nessa obra observa-se desde a capa, seja em qual for a edição, expressões de dor e o símbolo de um grande mal que assolou nossa sociedade, a suástica nazista. Em seu interior humanos são substituídos por animais na esperança não de tornar uma história real de sofrimento mais palatável e sim de provocar a clareza com que ocorre a segregação e a doutrinação nas ruas e vielas de um estado, em suas palavras uma história real que não altera nomes e nem números ao apresentar pontos extremamente baixos da vivencia humana, a história lida aqui, acompanhada das ilustrações do próprio autor, carrega uma dor que à olhos despercebidos pode se tratar de mera adaptação ou devaneio artístico. Uma história real cujo o autor não teme em apresentar o símbolo e a força de um movimento que matou sua mãe, enfraqueceu seu pai de forma irrecuperável e matou muitos milhões de pessoas, apenas uma obra e mais do que o bastante para que se entenda a dor causada por pensamentos absolutistas, genocidas e hegemônicos. Mesmo com esse trabalho tão claro e tantos outros com o mesmo tema ainda se vê seu assunto como dúvida em diversos círculos da sociedade e ainda em outros como razão para se comemorar, idolatrar ou procurar a recuperação de tais ideais tão desumanos. A obra existe e é acessível, mas seus efeitos cabem apenas a cada um de seus leitores.

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  8. A literatura, como qualquer outra arte, era tida como a grande vilã pela sociedade, principalmente pela burguesia, para muitos a literatura envenenava a cabeça de suas crianças com 'bobagens'. Somente no Brasil durante a ditadura militar cerca de 140 livros de autores brasileiros foram impedidos de circularem porque os regimes autoritários tinham como objetivo restringir a liberdade de expressão e opinião, e para isso a arte precisava ser silenciada.
    A censura literária foi tida para muitos como: "a melhor coisa que poderia ter acontecido", pois para a maioria dos pais seus filhos estariam livres de serem corrompidos, no entanto, viveriam em uma total ignorância. A arte deveria, desde sempre, ter sido tida como um aspecto importante para a formação cultural, política e educacional da sociedade.
    Santiago Contagioso, escritor peruano, em 2016 disse durante uma entrevista: "Agora, quando escrevo livros para crianças, não me deixam colocar os maus! Nem bruxas, nem ogros, nem monstros... A culpa é do afã da sociedade por criar uma bolha para os filhos às custas de obrigar os escritores a criar literatura sonsa". Com isso, lembra-se que a obra "Alice no país das maravilhas" apesar de ser tida como um clássico infantil, já foi censurada na China por ser fantasiosa demais para as crianças.
    "O apanhador no campo de centeio" de J.D. Salinger, um dos clássicos da literatura, foi alvo de perseguição por que pais acusavam a obra de conter palavras de baixo calão e tratar temas como prostituição e rebeldia como algo banal, o que para eles poderiam influenciar negativamente os adolescentes.
    Ao meu ver, a obra de Salinger não é imoral ou motivo para que adolescentes sigam o exemplo ou atitudes do protagonista. Apesar de usar gírias, palavrões e tratar de forma aberta a sexualidade adolescente, o autor discutiu ao longo de sua obra os medos e as dúvidas de um adolescente que não sabe o que realmente deseja da vida. O protagonista, Holden, é visto em diversos adolescentes que sofrem pressões de todos os lados para seguirem as regras e restringirem- se pessoalmente, talvez esse seja o verdadeiro motivo pela perseguição que o livro sofreu, por que Salinger trouxe à tona o medo que a sociedade tinha, e pessoalmente ainda tem, ela não quer adolescentes contestando se o que foi idealizado para eles era o certo ou se era o que realmente queriam. "Muitos leitores viram Holden Caulfield como um símbolo da pura individualidade irrestrita em face da opressão cultural".
    A literatura não inventa fatos, ela os apresenta. A literatura não altera ou mente sobre fatos históricos e sociais, elas apenas relata a verdade que muitos escolheram não ver. A Literatura, como qualquer outra arte, deveria ser tida como a melhor amiga da sociedade e a verdadeira vilã deveria sempre ter sido a ignorância, pois fechar os olhos e fingir não ver nunca trouxe nada de relevante para a sociedade.
    "A literatura é o sonho acordado das civilizações. Portanto, assim como talvez não haja equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura". - Antonio Candido.

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  9. É plausível supor que a literatura represente algum perigo, do contrário os livros não teriam o peso simbólico que sustentam. Há pouco tivemos em nosso meio universitário a Semana Acadêmica de Letras, cujo tema foi “Língua e Poder”. Durante o evento pudemos apreciar a discussão dos mais variados temas, desde culturais, a sociais e políticos. Então, se língua é poder, este poder é capaz de provocar várias reações, inclusive medo. Medo de transformações, medo de inovações, medo de reflexões. No entanto, não creio que a Literatura tenha o poder, em si mesma, de transformar a sociedade, senão de ser um testemunho do seu tempo e de seu contexto, e então, assim, ser capaz de transformar o indivíduo. A história nos mostra alguns exemplos do perigo que ela representa, sobretudo para os que detêm o poder. Basta que recordemos um certo episódio de queima de livros em praça pública, curiosamente organizado por estudantes numa espécie de competição, instigados pelo poder governamental em nome da purificação e do nacionalismo, no início da dominação nazista na Alemanha, na primeira metade do Século XX. Umberto Eco também contribui para o pensamento do perigo que representa a Literatura. Em seu livro “O Nome da Rosa” (1980), título que revela uma expressão da idade média que significa “o imenso poder das palavras” , mostra a preocupação dos monges de uma abadia em esconder o conhecimento, representado pelos livros de sua imensa biblioteca. Sim, a Literatura pode representar perigo para uns e outros, principalmente àqueles que julgam ser capazes de conter esse perigo censurando escritores e obras. E também àqueles que impedem a reflexão, o pensamento crítico e negligenciam o ensino e a cultura, ações (ou omissões) simbolicamente representadas pelo recente incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
    1.Wikipedia, disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Nome_da_Rosa, acesso em 27/11/18.


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  10. Nenhum livro por si só é capaz de criar uma mudança em uma sociedade. Porém, cada obra tem um impacto diferente em cada leitor.
    Pegando como exemplo a graphic novel Persépolis, da autora Marjane Satrapi. A sociedade que é mostrada na história passa por uma grande transformação, e isso pode ser um paralelo traçado com qualquer sociedade atualmente. A questao do feminismo trazida pela autora, por si só, não vai resolver todos os problemas do machismo no mundo. Mas se esse livro, que pode ser pego em qualquer biblioteca pública no país, for lido por uma jovem inserida em um contexto familiar social machista, pode provocar, através da reflexão da leitora, uma pensamento sobre sua própria condição, e assim, causar uma transformação em seu mundo.

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  11. A literatura é perigosa por deixar registros históricos, ela chega depois, mas tem olhar crítico, pois tudo que resta dela é testemunho. É vista perigosa muitas vezes por aqueles que têm o poder, como aconteceu no regime militar, período o qual várias obras foram censuradas.
    "Feliz ano novo" de Rubem Fonseca, considerado um dos principais livros do autor, foi publicado em 1975, e teve sua publicação e circulação proibidas em todo território nacional um ano depois. Sob a alegação de conter "matéria contrária contrária à moral e aos bons costumes".
    A história relata um violento assalto, que acontece na virada do ano, a uma mansão da Zona Sul do Rio de Janeiro. Durante o assalto ocorre estupro e assassinatos por parte dos três assaltantes. "Eu tava pensando a gente invadir uma casa bacana, que ta dando festa. O mulherio tá cheio de joia e eu tenho um cara que compra tudo que eu levar. E os barbado tão cheio de grana na carteira".
    E já no assalto, percebe-se sarcasmo e muita crueldade "Os homens e mulheres no chão estavam todos quietos e encagaçados, como carneirinhos. Para assustar mais ainda eu disse, puto que se mexer eu estouro os miolos". Porém a obra é um reflexo real, eles mesmos entendem a situação a qual passam, estão famintos na noite de réveillon e não querem comer "frango de macumba com farofa", conforme Pereba. Ao final, "quando Pereba chegou, eu enchi os copos e disse, que o próximo seja melhor, Feliz Ano Novo".
    Embora as violências no livro possam parecer "gratuitas", o autor registra a vida urbana brasileira de forma bastante realista, o livro sofreu censura por conta do teor de violência mas é óbvio que foi principalmente porque expõe os problemas sociais que contribuem para a violência acontecer. A literatura de forma nenhuma poderia ser tratada com "desprezo" em vários momentos na nossa sociedade, a ponto de ser censurada/proibida, pois relata a verdade, e seus efeitos pertencem apenas a cada um de seus leitores.

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  12. "Queimar um livro não significa destruí-lo. Um minuto de escuridão não nos tornará cegos." (Salman Rushdie)
    No mundo inteiro, de um canto a outro, a literatura era (em alguns países ainda é) considerada um dos maiores perigos para a sociedade, principalmente para os regimes autoritários e para os religiosos mais conservadores. Suas explicações diziam, de forma bastante simplificada, que a arte incentivava os "problemas" da sociedade e a transformava negativamente.
    Assim, era feito o controle excessivo de informações, o bloqueio da liberdade de expressão e a destruição de todo tipo de material que retratasse essas situações "problemáticas". Contudo, a produção literária em si não é capaz de transformar uma sociedade (positivamente ou negativamente), ela apenas representa algo que está acontecendo ou que já aconteceu, e faz o leitor refletir sobre isso.
    Desse modo, diversas obras censuradas e "transformadoras" poderiam ser citadas aqui, pois são muitas. Contudo, o livro As Vantagens de ser Invisível, de Stephen Chbosky, é um clássico exemplo que a censura está mais perto do que imaginamos, afinal, trata-se de uma obra ainda considerada recente e que possui temas como a incerteza dos jovens na adolescência, a homossexualidade, drogas, suicídio, etc. A narrativa sincera de Stephen, mesmo apenas retratando a realidade, foi censurada em diversas escolas dos Estados Unidos por tratar desses assuntos tão abertamente com o público, como se tivesse o poder de transformar algo que já está estabelecido, o que é um grande equívoco. Cabe a cada leitor decidir se deseja ou não ler uma obra.

    Maria Eduarda Azevedo Soares

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  14. “A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.” (CANDIDO, 1995. p.249) “A literatura busca satisfazer à necessidade universal de fantasia e contribuir para a formação da personalidade” (CÂNDIDO, 2012. p.85). “Ao longo da vida, a literatura colabora para a formação da personalidade e estimula o senso crítico, desenvolvimento social, cognitivo, emocional e argumentativo formando um indivíduo responsável e atuante na sociedade.” (CÂNDIDO, 1995, p. 249). “A literatura como força humanizadora, não como sistema de obras. Como algo que exprime o homem e depois atua na própria formação do homem.” (p. 82)
    O papel que a literatura desempenha na sociedade é que ela provoca não apenas uma certa inclinação para lado do valor, mas para o lado da pessoa, no caso, o escrito (que produz a obra) e o leitor, coletivamente ao público (que recebe o seu impacto). Muitas obras literárias estão carregadas de situações e comentários nos quais se pode discernir uma crítica, ou uma análise a um determinado aspecto ou vários aspectos presentes, por exemplo, na sociedade.
    Em várias ocasiões, surgiram obras literárias que representavam uma onda de revolução e que, por isso, foram censuradas/proibidas por causa de interesses pessoais, principalmente os de regimes totalitaristas. A literatura deve ser compreendida como uma necessidade no nosso quotidiano, pois é um meio de que dispomos para demonstrar os nossos desejos e ideologias. A literatura sem dúvida contribui para o enriquecimento intelectual e cultural de cada leitor, pois desenvolve o espírito crítico e desperta o leitor para novas experiências e proporciona entretenimento, conhecimento do mundo, sensibilidade e reflexão sobre a realidade.
    A Literatura tem uma importância na sociedade por que é um tipo de manifestação que tem por finalidade recriar a realidade a partir da visão de um determinado autor (o artista), com base nos seus sentimentos, pontos de vista e técnicas narrativas. Tudo isto recorrendo apenas às palavras.
    Mao Tsé Tung , levou a cabo uma Revolução Cultural no âmbito de provocar uma alteração radical de mentalidades, o que levou à perseguição de intelectuais e destruição de grandes obras de literatura.
    A obra: Felizmente Há Luar!, de Luís de Stau Monteiro foi proibida pela censura do Estado Novo até 1974, pois nela se chama a atenção para a injustiça da repressão e das perseguições políticas no Portugal de Salazar.
    Em Os Maias, de Eça de Queirós, a crítica aos tipos sociais, às atitudes e imoralidades da sociedade está mais do que presente.
    A literatura confirma-se como um elemento de construção social que remove o leitor da estabilidade e da passividade, quando lhe propõe novas investigações e por conseqüência, novos questionamentos, enfim, inquietações e dúvidas.

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  15. Ray Bradbury autor de Fahrenheit 451 diz que “há várias formas de se queimarem livros”. E existe, a censura é uma forma de queima de livros, diversos livros são tirados de prateleiras de bibliotecas e livrarias ou sequer chegam a serem publicados. A censura é muito comum em governos autoritários, a melhor forma de fazer com que a população não se revolte contra um governo autoritário é tirando o acesso à cultura.
    Há diversos casos de livros que foram banidos por motivos diferentes, por irem contra a “moral da família” geralmente ligado a questões religiosas ou por serem considerados radicais ou revolucionários. Um exemplo de livro que foi banido de bibliotecas foi o livro Sangue e Chocolate da autora Annette Curtis Klause, a história trata de uma fantasia que envolve lobisomens, e apresenta violência quando transformados eles lutam até a morte, porém o que tornou o livro banido em algumas escolas em uma ação por parte dos pais, é que a personagem principal é sexualmente resolvida, e na visão dos pais, isso se tornava perigoso. Para os pais o sexo ainda é um tabu e a exposição a esse assunto pode desvirtuar os jovens, a literatura Jovem-Adulto é recomendada para jovens de 15-29 anos.
    Para Candido (2006) “A literatura, porém, é coletiva, na medida em que requer uma certa comunhão de meios expressivos (a palavra, a imagem), e mobiliza afinidades profundas que congregam os homens de um lugar e de um momento, para chegar a uma "comunicação".” Portanto, é possível concluir que a literatura por si não pode ter o poder transformador, e irá precisar de uma massa. No caso de Sangue e Chocolate, os pais geralmente gostam de fingir que os filhos não tem conhecimento o que sexo é, mas a falta de informação pode trazer problemas e a omissão dela é pior ainda.

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  16. O que acontece com a literatura em termos de “apagamento das responsabilidades coletivas ao atribuir ao elemento artístico um poder que (talvez) ele não possua” é quase o mesmo que acontece com os video games, as pessoas precisam culpar alguma outra coisa para tirar o peso [de criar mal os filhos, por exemplo] de si. A literatura de forma alguma é transformadora - só seria se existisse um ser humano ultra evoluído que conseguisse escapar das amarras intelectuais dessa nossa sociedade e pudesse de fato reconhecer o poder da literatura, o poder de adquirir conhecimento através da leitura. Porque se fosse, não estaríamos adorando histórias em quadrinhos, como X-men, encarando-a somente como história de super heróis de uma forma ignorante o suficiente para que não percebamos que é uma metáfora sobre como as minorias são vistas e tratadas na nossa sociedade. História em quadrinhos esta que teria muito potencial para transformar pensamentos devido ao seu alcance mundial e popularidade. Mas tudo isso se as pessoas conseguissem tirar uma lição para si.

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  17. As obras literárias tem influência sobre as pessoas, num governo onde exista alguma ditadura evidentemente que haverá censura há certos tipos de livros, que externe oposição à ideologia de domínio daquele governo(...),a literatura coadjuva em todos os aspectos cada autor difunde suas teorias, pensamentos ,convicções..., não agradando a todos, por isso que a literatura é social.
    Vou citar o ensaio de Oscar Wilde “A alma do homem sob socialismo” que é uma crítica aos burgueses da sua época em Londres, pois estava inserido numa sociedade onde existiam desigualdades sociais, ele cita no livro que “O homem que luta contra as injustiças sociais é um homem livre, ainda que viva no cárcere, enquanto o homem que desistiu de lutar, já está encarcerado, ainda que goze da mais plena liberdade”, ele advertia as pessoas sobre o autoritarismo da elite conservadora, visto que estas pessoas eram dominadas pelo sentimento do egoísmo, e por esse motivo que havia concentração de renda, transformação dos trabalhadores em peças de trabalho, acreditava que a pobreza E a propriedade privada eram as causadoras da “desgraça humana”, Incentivava os pobres a saírem daquele ciclo de vida caracterizada pela opressão das classes dominantes da época.
    A história de vida do Oscar Wilde foi conhecida por uma sucessão de tragédias, e mesmo assim ele tentou resgatar das pessoas por meio de seus livros, o lado humano numa sociedade tão elitizada, preconceituosa e egoísta como ele mesmo descreve.

    Janaína Oliveira.

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  18. Em cada cantinho do mundo e em diferentes momentos históricos, a literatura e as artes em geral tidas como sinônimo de perigo, em especial pelas classes e grupos dominantes, uma vez que, possuir a tendência natural de mostrar as mazelas de suas ideologias, além de formar um individuo mais consciente e critica de sua realidade. Pois, podemos conhecer determinados aspectos do pensamento social.
    Através da literatura e das artes em geral, podemos revolucionar a nós mesmos, pois nos permite formar um senso critico a respeito do mundo que nos rodeia, uma vez que nos é apresentado um novo horizonte, recheada de novas possibilidades. Através do desenvolvimento social, cognitivo e argumentativo. E assim permitindo ao cidadão ser mais critico, responsável e atuante na sociedade em que vive.
    A história da civilização humana é cheia de acontecimentos em que vemos determinados grupos ou regimes censurarem ou destruir obras e coleções inteiras, a fim de, autopreservação de sua ideologia. Como ocorreu durante toda a existência da antiga União Soviética, que destruiu um numero indeterminado de obras literárias ocidentais. Durante a ascensão do nazismo na década de 30, na Alemanha, foram queimados aproximadamente 20 mil livros em praça publica, contudo, o ato de destruir livros não é exclusivo de regimes autoritários ou totalitários, visto que, durante a década de 50, nos Estados Unidos, tido como democracia foram queimados em bibliotecas livros supostamente comunistas.
    A obra literária assim como tipo de arte, nos permite pensar e conhecer outros pensamentos, também permite conhecer a variação do pensamento ao longo das eras, o que leva a conhecermos e compreendermos melhor a nossa própria realidade, levando inevitavelmente a critica-la. Não se pode ser ingênuo, a ponto de acreditar que censurando ou queimando um livro, não terá revolução. Pois, a literatura em si não provoca revoluções, mas as ideias e o conhecimento adquirido através dela sim. Além do mais, queimar um livro é apenas um ato simbólico, uma vez que, o livro é a representação de uma ideia e não a ideia em si.

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  19. Literatura pode ser vista como uma intensificadora de conteúdo e de movimentos, uma vez que, transcreve movimentos que estão sendo, ou já foram feitos pela própria sociedade. A qual se sente ameaçada pela literatura por ter medo ou receio do julgamento posterior de seus atos, e tendo em vista que a arte eterniza tudo que cria, o que é visto, pela sociedade como perigoso.

    Usam como pretexto a afirmação de tê-la como algo ‘’transformador’’, que é capaz de modificar pessoas, quando a arte em si, não tem o poder de sozinha corromper ou transformar uma sociedade. Através de um questionamento simples isso fica mais claro, o que é considerado Literatura Perigosa, é em si, indução ou identificação? Ao ler uma obra, ela não irá corromper seus valores pessoais e sim se adequar a questões já existentes, conscientes ou inconscientes, caracterizando a identificação.

    Na minha concepção, ela não é, necessariamente perigosa, e sim incômoda para quem prefere ‘’fechar os olhos’’ para qualquer relato que vá contra os seus próprios ideais, como identifiquei no livro O Cortiço de Aluísio Azevedo, que apesar de ser o romance exemplar da estética realista-naturalista e de ser muito importante na literatura brasileira, provoca incômodos com sua realidade detalhada ao longo do livro, mostrando, dentre outros fatores a miséria, a ambição, a sujeira, a baixeza dos personagens, a homossexualidade e a prostituição.

    Foi mostrada uma sociedade movida, basicamente, por fixação em ascensão social (status), motivos financeiros e desejo, apesar de a primeiros olhos parecer um certo grau de indução comportamental os detalhes de vários pontos mostrados no livro, quando talvez o real incômodo tenha sido com a identificação dos mesmos e com a detalhada representação da sociedade, onde a própria viu seus segredos e caprichos expostos.

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  20. A literatura não representa um perigo real e sim o q ela é capaz de fazer com que uma sociedade reflita e então faça.
    "Toda revolução começa com uma faísca", essa é uma frase da obra distópica Jogos Vorazes, e que representa o motivo da literatura ser as vezes considerada perigosa. Ela tmpossui o "poder" de fazer com que os leitores reflitam sobre sobre diversas coisas e assuntos, até mesmo tabus e então comecem com pequenas atitudes a mudança que levariam a una "revolução".
    Nota-se a preocupação e a censura a certos livros até hoje, como por exemplo a retirada de A Culpa é das Estrelas, de John Green, de escolas norte-americanas por abordar a morte para um público jovem, o que já nos abre a questão sobre cultura.
    Jogos Vorazes ainda pode ser apresentada como uma obra " transformadora" pois apresenta uma revolução popular contra um governo autoritário totalitário que poderia trazer medo para governos iguais que acreditassem correr riscos pela representação da obra.
    Embora a mudança se dê de forma mais individual como adolescentes lendo o romance Will & Will, de John Green e David Levithan, inseridos em uma sociedade homofóbica e percebendo como na história, que não há problema algum em ser gay.
    Esse então é o suposto perigo da literatura, a reflexão e pensamento crítico que ela traz ao leitor que a lê e como as obras podem ser transfoadoras até mesmo individualmente.

    - Kathelen Dutra Goes

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  21. A literatura, por mais que se fragmente e se adeque à todos os tipos de gostos, entre muitos povos e culturas diferentes, não é suficiente para concretizar grandes transformações, independentemente das intenções de cada autor na obra. Ela não possui validade alguma sem que já houvesse um movimento vigente quanto a qualquer busca de mudança e isso, no fim das contas, faz dela uma ferramenta apenas um recurso a mais para criticar, conscientizar e, quem sabe, introduzir o leitor a se posicionar não só perante a obra como também à realidade representada nela.
    No livro Eu Sou O Mensageiro, de Markus Zusak, o autor busca equivaler o homem medíocre à de Conheça Ed Kennedy: taxista, patético jogador de cartas que se torna o mensageiro, o escolhido para socorrer pessoas de casos aos quais ele nunca daria importância se não o tivesse desafiado.
    Essa obra de Zusak deixa a noção de que o mais simples dos homens pode fazer toda a diferença não só na vida das pessoas como também na sociedade como um todo, com apenas simples gestos e palavras, ainda mais quando levamos em consideração que o mundo em que vivemos onde as pessoas tendem a se tornar individualistas e, muitas vezes, como o próprio Ed descobriu, não conhecem as angústias e anseios nem dos que estão mais próximos de você.

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  22. A literatura pode até ser considerada perigosa por alguns aspectos, mas em si ela não faz nada, você pode lê-lá e ainda sim nada mudar, a literatura só irá impulsionar algo que já foi pensado, é preciso que alguém levante e faça alguma coisa, pois os livros continuaram no mesmo lugar.
    Uma obra transformadora para o tempos em que estamos seria Eu me chamo Amanda, uma autobiografia de uma mulher trans, essa obra considero que seria transformadora porque ser uma pessoa transsexual ainda é considerado um tabu e claramente quem deixaria seu filho ler algo sobre isso? E os mais conservadores ainda tem muito preconceito com a comunidade LGBT.

    Karen Dutra Goes

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  24. Muitas vezes a literatura/arte é interpretada de forma errônea, sendo vista como motivadora de muitos problemas existentes na sociedade. Porém, tudo que é relatado na literatura é resultado de alguma vivência e tem como papel principal promover a crítica. Até mesmo obras de ficção trazem consigo elementos que permitem o debate e a reflexão, sendo este último outro papel da literatura. Nesse sentido, é possível afirmar que a literatura apresenta características de como a sociedade está se moldando, mas não é produtora dessas mudanças. Conforme afirma Silva, “não são apenas as personagens de um livro que interagem (Dialogam) entre si, mas, quando uma pessoa lê um livro, está interagindo (dialogando) com esse livro.” (p. 145).
    Ao ler a primeira parte da postagem, imediatamente recordei alguns comentários a respeito de uma cena da novela A Força do Querer, da rede Globo, na qual os bandidos de um morro do Rio de Janeiro recebiam muitos fuzis. Estrategicamente, o chefe pediu que cada um dos membros do grupo ficasse com uma arma e a levasse para casa para que elas ficassem em lugares diferentes, com o objetivo de que caso a polícia aparecesse, não houvesse a apreensão de todas as amas de uma só vez. Vi muitas críticas a esta cena no que se referia à novela estar ensinando os bandidos como procederem para não serem pegos pela polícia. Mesmo não sendo um exemplo de obra literária, mas sim uma obra artística ficcional, é possível perceber que há uma certa resistência presente nos julgamentos da sociedade em relação à cena citada, mas não só a ela.
    Erroneamente sociedade responsabilizou a novela pela existência de problemas sociais no sentido de que se a polícia, a partir daquele momento, não apreender mais as armas dos bandidos, a culpa é da novela que os ensinou como fazer. Isso mostra a ingenuidade do telespectador que acaba apenas “aceitando o ponto de vista do texto [no caso, novela], sem pensar sobre ele ou discutí-lo”. (SILVA, 2009, p. 142).
    Outro exemplo, agora literário, temos na obra O Vendedor de Sonhos, de Augusto Cury, a qual retrata a história de um psiquiatra renomado que não consegue lidar com seus próprios conflitos internos e por isso tenta o suicídio. Considero uma obra transformadora por retratar uma crítica à sociedade moderna; uma sociedade que tem um dia-a-dia corrido, que não valoriza os pequenos momentos com a família, que passa cada vez mais tempo trabalhando para ter mais dinheiro sem pensar nas consequências que a falta de descanso pode trazer; uma sociedade que não pensa no outro, que não sente empatia, entre outras características. Diante disso, a obra permite uma reflexão sobre qual o verdadeiro sentido da vida, o que realmente importa, que tipo de sociedade queremos para o futuro. Dessa forma, não é uma obra que muda a sociedade, mas nos faz refletir sobre atitudes que temos no dia-a-dia.

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  25. Dom Casmurro foi publicado em 1899, é uma das grandes obras de Machado de Assis. A obra tem uma característica muito forte da sua personalidade, o olhar certeiro e crítico do autor sobre a sociedade brasileira. O livro aborda a temática do ciúme e gerou polêmicas em torno do caráter da personagem Capitu.

    Este livro é considerado um clássico brasileiro, porque mesmo após tanto tempo ainda consegue intrigar seus leitores. Em relação ao narrador, possui caráter subjetivo e parcial da narração, o leitor não consegue distinguir a realidade da imaginação de Bentinho gerando uma certa dúvida em algumas partes da história como: se Capitu o traiu ou não. Esse é o diferencial dessa obra, pois o romance abre a possibilidade ao leitor de interpretar os fatos e se posicionar a favor ou contra o protagonista. Acredito que essa obra seja transformadora devido a todos esses aspectos apresentados acima.

    A literatura pode ser considerada “perigosa”, porque ela embala o contexto social presente, mas tem um olhar crítico, possui um julgamento atrasado do que está em pauta. Ela não possui “utilidade” e por isso ela é importante/perigosa, é a favor da verdade. A arte está entre a lei e o tabu, não muda a realidade e sim dialoga, é um testemunho. “a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudicais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas.”
    – Antônio Candido, “O direito à literatura”

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  26. A literatura não muda a realidade, ela dialoga coma sociedade. A obsessão pela censura da literatura e de qualquer outra arte foi absurda, centena de livros foram censurados e impedidos de circularem por bibliotecas e em casos extremos chegaram a ser queimados em uma grande fogueira.
    Quando 20 mil livros foram queimados, Joseph Goebbes fez o seguinte discurco: "Esta noite vocês fazem um bem em jogar ao fogo essas obscenidades do passado. Dessas cinzas irá se erguer a fênix do espirito novo." Essas palavras chocam até hoje, pois "essas obscenidades a qual ele se refere são obras de grande autores como: Freud, Zola, Brechd, Proust, Hemingway, etc.
    A obra "A revolução dos bichos" de George Orwell foi escrita durante a Segunda Guerra Mundial. O livro foi censurado pois o autor faz uma sátira à ditadura de Stalin e contendo referências bastante críticas à união soviética, sendo em 1960 banido de muitas bibliotecas e anos depois em 1980 foi apontado como uma obra pró-comunista. Mesmo depois de tudo isso e passado os anos caóticos, a obra voltou a ser banida em 2002 nos Emirados Árabes por conter elementos contrários ao valores da cultura Islãmica.
    O livro foi considerado tão ameaçador por conter animais discutindo a construção de uma sociedade ideal e também armam uma revolta contra o seu dono, Sr Jone. Há na obra: "O homem é o nosso verdadeiro e único inimigo. Retira-se da cena o homem, e a cauda principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre. " Isso foi interpretado como uma afronta, pois como o escritor sendo homem, diria tamanha barbárie sobre a espécie humana e usando animais para mascarar o impacto que a frase causaria.
    A obra foi tida como uma ameça para a sociedade por que George ao escreve-a em 1945 mesmo utilizando-se de animais em seu texto, ele descreveu a vida das pessoas pobres, onde os colocam para trabalharem como escravos e reduzindo a quantidade de dinheiro e comida. Ao longo do libro, animais acabam por explorarem outros animais, ou seja, homens explorando homens.
    Neste livro foram abordados temas como a fraqueza humana, o poder, a revolução, o totalitarismo, a manipulação política, e o tema centra: "A animalização dos homens."

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  27. A Arte, por meio da literatura, exibe a realidade de indivíduos e/ou sociedades, por isso se torna perigosa, pois muitos não estão acostumados em sair da zona de conforto, não fazem questão de ver tal realidade, que muitas vezes, assola multidões. Contudo, uma obra literária, não representa um perigo real, mas muitas vezes velado, silencioso, cutuca feridas internas, ou até externas, que estão cobertas pela crosta da cegueira.

    “Candido é autor da teoria que defende a literatura como elemento social não só porque aborda temas da realidade social, mas porque é capaz de transformá-la. A Metamorfose explora a solidão, os sentimentos de exclusão e as crises do homem contemporâneo. Por abordar com profundidade aspectos sociais, é uma referência da literatura universal.”http://bu.furb.br/sarauEletronico/index.php?option=com_content&task=view&id=137 . A obra nos apresenta um homem, trabalhador, simples, de uma vida corriqueira, que em certo dia acorda metamorfoseado, transformado em um inseto, ao mesmo tempo que ele tenta entender o que se passa em seu interior e exterior, tem que lidar com as pessoas que estão a sua volta, a família principalmente, mas com o passar dos dias Gregor Samsa é excluído por seus semelhantes até chegar a sua prostração. Não distante disso, temos a semelhança com a realidade, em que muitas pessoas não deixam seus "insetos" aparecerem, pois ferem sua suposta dignidade e o suposto amor recebido por seus entes queridos. A partir do momento que a obra literária nos abre para múltiplas interpretações e questionamentos sobre o que estamos lendo, permitimos que a metamorfose nos tome de tal maneira, que em muitas vezes não conseguimos nem lembrar de como éramos antes.

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  28. “Se há algum consenso entre ideologias autoritárias e totalitárias, aliás, este é provavelmente o desejo de queimar livros, ou seja, o desejo de queimar o conhecimento “do outro”, revelando uma grande dificuldade de tolerância ao pensamento diferente ou divergente.” (ERALLDO, Douglas).
    A literatura, como estudamos anteriormente, é um veículo eficaz de transmissão de cultura, valores e conhecimento. Tendo isso em vista, a literatura é facilmente colocada na posição de vítima ou de opressor, dependendo do ponto de vista de cada um, exatamente por ser capaz de transformar ideias. Um livro sozinho não é capaz de mudar uma nação ou o mundo, mas é capaz de mudar as pessoas e o modo como elas enxergam o mundo.
    A necessidade de queimar livros, dá-se então, pelo fato de apagar registros ou histórias que podem servir de ponto de partida para uma revolução ou um movimento de oposição ao que se está vivendo, ou ao que se é imposto, em sua maioria, pelas autoridades. Como aconteceu com vários livros durante o período da ditadura entre 1964 e 1985.
    Tomando como exemplo “O conto de Aia”, de Margaret Atwood, a personagem principal narra sua vivência e experiência como aia de uma família rica e importante dentro do novo Estado teocrático e totalitário, onde as mulheres são tidas como propriedades do governo e sofrem todo tipo de opressão desde estar obrigatoriamente disposta a gerar o filho da família a qual pertencem até na proibição do simples ato de pensar ou lerem livros.
    “Tento não pensar demais. Como outras coisas, agora os pensamentos devem ser racionados. Há muita coisa em que não é produtivo pensar. Pensar pode prejudicar suas chances.” (ATWOOD, Margaret O Conto de Aia).
    Entendo “O conto de aia” como uma literatura transformadora no sentido do que poderia acontecer em um futuro no qual as mulheres são tratadas como inferior em relação aos homens, excluídas de seu direito de pensar e expressar suas opiniões e em que o Estado controla literalmente a cabeça das pessoas que vivem nesse meio. Entendo como uma forma de “aviso”, principalmente no momento em que o conservadorismo e o autoritarismo estão em ascendência e uma necessidade imposta na sociedade de retorno aos valores tradicionais.
    Infelizmente não estamos tão longe de mais uma demonstração de “queima de livros” com a situação atual do país. O futuro presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, critica e quer banir a filosofia e metodologia de Paulo Freire, pedagogo, patrono da educação brasileira. Por quê? Simplesmente pelo motivo de que o educador incita que o pensamento crítico seja trabalhado nas escolas, ensinando e incentivando o aluno a pensar por si próprio, ser autônomo, construir sua própria opinião e ser capaz de argumentá-la. Mas é exatamente isso que o governo não quer que aconteça. É mais válido formarmos cidadãos alienados e que aceitem o que lhe é imposto sem questionar, do que pessoas com opinião própria e com pensamentos e ações revolucionárias, que questionem o que, por que, pra que certas ações de governo são tomadas.

    Ana Beatriz Ferreira Munhoz

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  29. Na minha tese de doutorado, "Entre lágrimas e risos: Os Serelepes e a memória do teatro itinerante" (UFSM, 2013), lidei com a arte (no caso, o teatro mambembe levada ao palco em tempos de repressão. Basicamente, o cartel de peças tinha uma estrutura calcada no melodrama que se caracteriza por sua "exemplaridade". Um dos depoimentos mais marcantes diz respeito à fala do antigo proprietário do Teatro Serelepe (irmão do palhaço Bebé, conhecido na região de Pelotas): "Nós subíamos ao palco em conformidade com todos os ditames de então, éramos artistas que não buscavam contrariar o sistema, mas se o juiz de paz de uma cidade qualquer, estando na plateia, "entendesse diferente" no palco o que lera no texto escrito, que lhe fora submetido antecipadamente, o nosso espetáculo poderia ser censurado, o teatro fechado e nós corríamos o risco de sermos presos." https://omelodramanoteatromambembe.blogspot.com/

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