sábado, 1 de dezembro de 2018

Da teoria à crítica

Para além dos ensaios críticos, das relações a partir das teorias e das diversas configurações presentes na produção estética, há situações em que nos deparamos com um objeto - que nem pode ser classificado facilmente, talvez pelo fato de ser algo ainda a ser pensado e elaborado sob outro paradigma - que desafia os conceitos disponíveis assim como apreciações a partir do senso comum.
Um desses casos pode ser visualizado/assistido/lido no link abaixo disponível neste mesmo blog.

Ni una sola palabra de amor

http://criticaliterariaufpel.blogspot.com/2013/10/blog-post.html

Com base no material discutido e também em outras leituras que considerar adequadas, tente elaborar uma possível classificação do objeto em pauta, procurando explicar as bases do seu entendimento. Deixe claro em que corrente(s) da crítica literária sua leitura está amparada.
Afinal, se trata de um filme [apesar de não haver um roteiro preparado], de uma peça dramática [mesmo sem uma intencionalidade artística da gravação original], de uma mera provocação/anedota; enfim, organizar algo disponível no âmbito da história e da cultura é suficiente para que uma obra exista?
Prestem atenção que a gravação não foi alterada para a produção do vídeo

15 comentários:

  1. O vídeo pode ser analisado por diversas correntes literárias, sendo as mais sugestivas para análise a corrente sociológica e a psicanalítica.
    Ao observarmos a personagem Maria Teresa, percebemos que o seu estilo de roupa e cabelo indica que ela vivia aproximadamente nos anos 50. Nesse período, a liberdade feminina ainda era bastante limitada e a maioria das mulheres colocava no casamento todos os seus sonhos, sentimentos e ambições. Logo, uma ligação não atendida de Henrique, significava para ela o “fim do mundo”, já que o contexto social não a permitia nem a estimulava que tivesse outros objetivos na vida.
    Da mesma forma, a submissão e compreensão que ela demonstra, quando ele finalmente atende ao telefone e explica que estava ocupado (dormindo/trabalhando) e que o fato dele demorar em atender não confirmava os temores dela, também podem ser explicadas pela corrente sociológica, pois o homem, naquele contexto social, desempenhava o papel de único provedor da família e, consequentemente, necessitava trabalhar muito e descansar/dormir nos momentos de folga. Nesse caso, o vídeo seria a representação da conduta das mulheres da sociedade de uma determinada época.
    Porém, novas correntes literárias surgem quando a vigente, por si só, já não consegue explicar uma obra. Cândido (1985, p. 7) afirma que “a crítica moderna superou não foi a orientação sociológica, sempre possível e legítima, mas o sociologismo crítico, a tendência devoradora de tudo explicar por meio de fatores sociais.” Assim sendo, a corrente psicanalítica permite outra interpretação do vídeo e da personagem principal.
    Podemos perceber, em alguns trechos do vídeo, que Maria Teresa sofre de dependência emocional e não se responsabiliza pela própria felicidade, atribuindo a Henrique a obrigação de fazê-la feliz. Ademais disso, a insistência para que ele atenda, indica uma saúde mental patológica, pois bastaria um só recado para que ele ligasse. A partir daí, é evidente para uma pessoa equilibrada, que ele não retornou a ligação porque não pode ou porque não quis.
    Isso extrapola a capacidade da corrente sociológica de explicar a personagem, pois mesmo em um contexto social em que as mulheres eram dependentes economicamente e submissas aos homens, havia mulheres independentes emocionalmente e que sabiam ocupar o seu tempo na ausência masculina, seja dedicando-se aos afazeres domésticos, às atividades da igreja, aos cuidados a outros membros da família ou a convivência com as amigas. Sob esta perspectiva, talvez o produtor do vídeo estivesse querendo alertar a sociedade sobre a importância de cuidar da saúde mental.
    Quando analisamos o vídeo em sua totalidade, podemos compreendê-lo pela corrente desconstrutivista, pois ele não apresenta uma gravação linear e sim fragmentos dispostos, que não permitem a personagem ser interpretada de forma binária (bom/mau), visto que ora ela apresenta características que fará o telespectador vê-la mais como vítima e em outros como vilã.

    Referência:
    CÂNDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 7. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985.

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  2. Considerando o fato de eu não dominar o idioma falado no filme, é possível depreender que se trata das relações interpessoais e as diferentes expectativas que cada pessoa envolvida tem a respeito. A personagem central, Maria Tereza, apresenta uma tensão crescente à medida que não obtém resposta às suas chamadas telefônicas. Não saberia classificar esse tipo de exposição no âmbito do cinema. Talvez seja um curta-metragem, devido ao formato reduzido, respeitando o tempo não superior a 30 ou 40 minutos, com cenário minimalista e baixo custo de produção. Interessante notar que o que estamos vendo é a “tradução visual” das mensagens, reais e não ficcionais, deixadas na secretária eletrônica de Enrique, demonstrando as reações e expressões reveladoras da angústia e tensão de Maria Tereza. Do ponto de vista literário é igualmente difícil classificar esse formato, no entanto estou propenso a concordar que se aproxime mais da crônica, por se tratar do aspecto cotidiano da vida das pessoas, à maneira de Nelson Rodrigues, e da forma subjetiva e particular que o autor emprestou à obra (da perspectiva do cinema, pois o conteúdo é real). Reproduzo o pensamento de Perrone-Moysés num artigo por Mota em https://www.infoescola.com/redacao/cronica-literaria/:
    Na verdade, classifica-se como expressão literária híbrida, ou múltipla, de vez que pode assumir a forma de alegoria, necrológio, entrevista, invectiva, apelo, resenha, confissão, monólogo, diálogo, em torno de personagens reais e/ou imaginárias etc. [...] implicando sempre a visão pessoal, subjetiva, ante um fato qualquer do cotidiano, a crônica estimula a veia poética do prosador; ou dá margem a que este revele seus dotes de contador de histórias.
    Diz Mota, no mesmo artigo do site supracitado:
    O cronista observa o mundo e o apresenta aos leitores segundo sua interpretação, assumindo o papel do intelectual conectado com os conflitos de seu tempo. A liberdade com relação às regras que direcionam a prática jornalística concede ao cronista maior autonomia para divulgar visões alternativas a respeito de temas da atualidade e, não raro, suscitar perplexidades.


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  3. No curta-metragem NEM UMA SÓ PALAVRA DE AMOR ( Ni una sola palabra de amor), entendo que as correntes literárias designam da nova crítica , sociologia da literatura e crítica literária com ênfase na psicanálise.
    O contexto histórico e social que a personagem estava inserida era uma época, onde a maioria das mulheres dependiam financeiramente dos homens, e seus sentimentos todos apostados numa relação mesmo que existisse a possibilidade de não dar certo, na situação da Maria Teresa as suas aflições emotivas em relação ao enrique, foram todas expostas na gravação, como uma mulher forte, corajosa, audaz e ao mesmo tempo vulnerável pela carência afetiva, pois o Henrique não respondia suas ligações, no momento que o Henrique atende a sua ligação , ela mostra ser uma mulher totalmente compreensiva, fato que ela não mostrou durante algumas ligações em que revelou ser explosiva, possessiva e desconfiada, o ponto de vista a ser analisado está relacionado com a corrente crítica literária da sociologia , da nova crítica e com evidências na psicanálise.
    Penso que não há restrições para que uma obra possa existir, pois a narrativa histórica e cultural se transformam com o tempo, e os hábitos costumes de uma época devem ser considerados em qualquer contexto da sociedade, desde que tenha sentido e qualidade.
    Fonte: SOARES, Angélica. CORRENTES CRÍTICAS. Disponível em: . Acesso em: 04 dez. 2018.

    Janaína de oliveira

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  4. O vídeo, que é um vídeo pois apresenta uma sucessão de imagens em movimento e possui um formato de vídeo, que provavelmente é mp4 ou AVI, que são os formatos aceitos na plataforma de um blog, pode ser considerado um curta-metragem pelos parâmetros de duração estipulados a este, com até 30 minutos, às vezes 15. Também parece ser um curta alternativo, pela forma das gravações, sem se importar com grandes produções e por fazer uso de plataformas como Youtube e Vimeo, para a divulgação, sem um estúdio de cinema. Mas possui produtores, diretores, etc, tudo que um curta precisa (sendo alternativo ou não). Se pegarmos uma definição simples do Google Dicionário sobre obra como “aquilo que resulta de um trabalho, de uma ação”, então usar gravações reais, disponíveis, e alguém adequá-las a imagens e a produção de um vídeo pode sim isso caracterizar como uma obra. Quanto ao embasamento teórico de uma corrente literária para a definição do que é a produção audiovisual em questão é o do formalismo, em que a caracterização como um curta parece ser mais forte considerando seu valor estético.

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  5. A gravação relata uma situação entre um casal (Maria Teresa e Enrique). Para mim, considero a obra um curta-metragem, pois de acordo com o dicionário ele se designa por ser: "um filme com duração de até trinta minutos, de intenção estética, informativa, educacional ou publicitária". Assim sendo, a principal abordagem do curta-metragem é fazer com que as gravações de Maria Teresa se tornem mais distintas para quem está ouvindo/assistindo. Isso ocorre porque se apenas ouvíssemos as gravações, não saberíamos identificar, por exemplo, a época em que a situação ocorre, apenas poderíamos fazer suposições.
    Maria Teresa relata que está insatisfeita com seu relacionamento, reclama que Enrique não atende as ligações, o acusa de ser mentiroso e reitera que não recebe a devida atenção que merece. Contudo, quando Enrique atende suas ligações, Maria Teresa recua e transparece ficar submissa na presença da figura masculina. O que quero dizer com todas essas características citadas, é que essa gravação poderia ser de qualquer época, afinal, muitos relacionamentos ainda são assim, com a mulher sendo o lado frágil e o extremo machismo a pressionando. Porém, com elementos presentes no curta-metragem sem alterar as gravações (o cenário ao redor e a forma como Maria Teresa se veste), demonstra uma outra época, onde os direitos femininos eram ainda mais escassos do que hoje.
    Contudo, admito não ser um trabalho fácil de ser identificado. Segundo Bóris Tomachévski “Não se pode estabelecer nenhuma classificação lógica e segura dos gêneros: sua distinção é sempre histórica, isto é, justifica-se unicamente por um dado tempo”. Assim, considero esse curta-metragem uma obra, pois a gravação de Maria Teresa é um testemunho de uma situação que foi e ainda é presente em nossa sociedade.

    Maria Eduarda Azevedo Soares

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  7. “Ni una sola palabra de amor”, é um curta-metragem, dirigido pelo argentino El Niño Rodriguez, é interpretado por uma atriz sozinha em uma sala pequena, na qual ela “dubla” as chamadas de Maria Teresa que liga diversas vezes para Enrique, no entanto ele não atende então ela deixa recados na secretária eletrônica, dos quais ficaram gravados em uma fita cassete. Anos depois a secretária foi vendida no mercado de pulgas e foram descobertas as ligações.
    Apesar das cenas mostrarem uma mulher nos anos 50 no curta-metragem, os verdadeiros Maria Teresa e Enrique falaram que o momento se passou em 1998, na minha percepção o uso de figurino é uma relação com a vida da mulher nessa época em que era oprimida e geralmente as mulheres casadas não trabalhavam. E no seu discurso Maria Teresa revela que ele não a ajuda financeiramente e toma as oportunidades dela. Algo muito comum nos relacionamentos antigamente e mesmo hoje em dia, pois está intrínseco na sociedade, atribuído a função de provedor ao homem e a mulher trabalha apenas para se auto satisfazer, pois quem a sustenta é o homem.
    Após uma briga, ele vai para casa de um amigo, porém deixa ela com responsabilidades de ambos, com contas para pagar, problemas de negócios. E ela desesperada tenta contatar ele, no entanto sem sucesso. Apesar de continuar tentando contatar o marido, a cada ligação perdida ela se sente mais frustrada, falando tudo que está sentindo, em certos momentos está com raiva, outros cansada, até que ele a atende. Então, tudo muda, o tom de voz se altera com uma voz doce e aceitando tudo que o marido fala.
    O autor não se baseia na história real, ele a reproduz. Ele atribui um conceito que ele acha que se encaixa nessa história. Segundo Tinianov “A obra representa um sistema de fatores correlativos. A correlação de cada fator com os outros e a sua função com respeito ao sistema.” Creio que se encaixe com o estruturalismo, pois os elementos se completam, cenário, o diálogo e figurino. Não existe uma narrativa natural, todas as narrativas são uma escolha e uma construção.

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  8. O objeto a ser classificado pode ser catalogado como um curta-metragem pela sua duração e embasado pela literatura social e na corrente das tendências contemporâneas, pelo assunto da irresolução. A amargura se sobressai no momento que a atriz que interpreta Maria Tereza expressa sua aflição depois das primeiras mensagens gravadas, assolada pela preocupação de ter que lidar com o débito deixado pelo homem. Isso motiva Maria Tereza a desabafar e referir sobre os problemas. Todavia, o vídeo não mostra uma situação literal per se, mas uma questão a ser discutida, seja ela a irresponsabilidade do homem em uma relação contemporânea ou o próprio abuso dentro de uma união. Pelas falas na fita, é possível perceber que a mulher, enquanto não tem a resposta do (possível) marido, continua reclamando de seus problemas, ofendendo o rapaz, passando a mensagem e posição de que ela é independente e tem uma voz na relação. Entretanto, quando o homem atende, sua postura firme e personalidade sólida parece sumir, denunciando a insegurança da mesma personagem. No artigo "Dependência e construção da confiança: A clínica psicanalítica nos limites da interpretação", de Perla Klautau e Pedro Salem, a confiança (e a falta dela) pode ter uma certa binaridade enquanto aquele que provoca a insegurança não está presente. Esse vazio estimula a parte agressiva de alguém, e, com isso, também cresce a insegurança com a presença daquele que a provoca. Quanto à questão, sim, é possível que a obra exista simplesmente pelo seu lugar em um contexto histórico e cultural, uma vez que ela transmita algo e tenha um conteúdo.

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  9. Um dos milagres funcionais de Ni una sola palabra de amor é que a voz de María Teresa carrega a identidade de Enrique e justifica sua ausência. Por algo que ele responde com o silêncio, uma das mais intensas e claras mensagens de amor, mais claras e intensas até do que o clichê "eu te amo". Há duas poltronas e um retrato de uma mulher solteira. Maria Teresa não come, não dorme, não chora, não faz nada exceto falar e esperar, o que dá ao sujeito um leve esplendor beckettiano. O drama que é visto é o de uma dominadora falando com um fantasma. Enrique é uma pessoa cuja identidade - a identidade daquele momento concentrada no curta-metragem - consiste quase exclusivamente em não apoiar María Teresa. O que María Teresa parece oferecer a Enrique, enfim, é uma agenda: comprar lotes, morar juntos, se comprometer, "projetar o que precisa ser projetado e resolver o que precisa ser resolvido", pagar as contas, etc. Diante do vazio da vida, do qual o silêncio de Enrique parece dizer alguma coisa, María Teresa sabe que o amor é basicamente um entretenimento; e nós, através deles, sabemos que a comédia sempre aparece sob o drama do amor. O curta é simplesmente genial e mostra de uma maneira bem crua a angustia de Maria Tereza, deixando nós também dessa forma. Mas o que me incomodou mais foi pelo fato que ela formula na mente as coisas que pretendia dizer a ele, mas quando ele finalmente atende, ela volta a ser submissa,ignorando totalmente aquilo que tinha formulado antes.
    Nem todos amam da mesma maneira, devido a isso, para quem possui um amor acaba ficando ansioso e essa sensação seria denominada de efeito ansiedade da separação e como o próprio nome já diz, o medo de perder alguém está constantemente presente. A Attili (2006) utiliza da Teoria do Apego de Bowlby demonstrando a interferência do modelo de apego adquiridos na infância nos relacionamento da vida adulta. “Os adultos, da mesma forma que as crianças, têm necessidade de que alguém não os perca de vista, cuide deles quando estão doentes, conforte-os quando estão abatidos, acalme-os na aflição e os aqueça à noite. E isso vale tanto para homens quanto para mulheres (ATTILI, 2006. P.56)”.
    A expectativa de ser amado e o modo pelo qual nos ligamos á pessoa amada são fortemente influenciados pelas experiências que cada um teve quando criança com sua figura de apego, de tal forma que a relação mãe/criança pode ser considerada o protótipo do vinculo conjugal, não apenas por suas características gerais, mas individuais. Dessa forma afirmo que é suficiente que com apenas a história e a cultura, se crie uma obra.

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  11. O vídeo é considerado um curta-metragem, ou simplesmente curta, é um filme de pequena duração. O Dicionário Houaiss define curta-metragem como "filme com duração de até 30 minutos, de intenção estética, informativa, educacional ou publicitária, geralmente exibido como complemento de um programa cinematográfico".

    A intenção do filme é mostrar várias situações do dia a dia onde não falamos o que pensamos e por mais preparado que esteja nunca sai como o planejado. Outra possível interpretação é, que Maria Teresa é uma mulher reprimida pelo seu companheiro e ela fica repassando na sua cabeça possíveis conversas, mas quando consegue falar com ele simplesmente nada daquilo que foi preparado é executado.

    A partir disso, o curta-metragem pode ser considerado um exemplo de “Tendência e Qualidade” teoria de Walter Benjamin. Os conceitos revelam a capacidade do autor em expor e desenvolver seu pensamento acerca do tema escolhido, seja este de aprovação social ou repulsa. É essencial que o escritor seja fiel a tendência corroborando e acrescentando importância à obra, ainda que o tema seja incômodo.

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  12. O material mostrado pode ser classificado como um curta-metragem, de acordo com a definição do mesmo encontrada no dicionário.

    Para mim, no curta ao reproduzirem uma sequência de mensagens encontradas em uma secretária eletrônica, os atores mostram situações tensas com relação ao relacionamento de Maria Teresa e Henrique, aparentemente na década de 50, onde a pressão social para se manter no casamento era grande sobre as mulheres, o que incluía perdoar seu marido sob qualquer circunstância, o que nota-se pela diferença no tom de voz de Maria Teresa em determinada parte do curta quando Enrique finalmente a atende.

    Atores assim como os do curta, reproduzem a vida real, reproduziram a história de Maria Teresa de acordo com as gravações e as demais conclusões ficam por conta dos telespectadores. Por conseguinte, as minhas são, retrato de parte da história da opressão feminina socialmente aceita nos anos 50, a submissão para com o marido, o descontentamento de Maria Teresa com o mesmo e seu descaso com ela, e com o relacionamento.

    Segundo Fernando Pessoa, ‘’A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são’’, os atores e o curta tiveram como intensão fazer com que sentíssemos o que as reais pessoas das gravações sentiram. Arte é visão, contemplação e conhecimento, um curta como esse traz traços da gravação na encenação relacionadas com outra época e questões sociais, posicionamentos, visão dos atores quanto a isso e uma certa contemplação dos sentidos humanos, não tem o porquê não ser o suficiente para uma obra, portanto, existe.

    Associo o que eu entendi até então, como uma obra crítica psicanalítica com analise freudiana, onde para Freud tem um caminho de retorno do romance ao mito, a psicanalise e o romance um olhar narrativo e a psicanalise e o mito as estruturas explicativas, permitindo reconhecer e produzir os modelos necessários. Algo sempre destinado ao outro, na obra em questão de Maria Teresa para Enrique, dos atores para nós.

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  13. A obra Ni Una Sola Palavra De Amor (Nem Uma Só Palavra De Amor) é um curta-metragem feito a partir de gravações encontradas dentro de uma secretária eletrônica usada. Classificado como curta de acordo com as definições do dicionário: filme breve que, com duração e finalidade variáveis, pode ter um propósito educativo, artístico, comercial, informativo, etc. No entanto seu significado não está ligado somente a definição precisa do dicionário, para mim, trata-se de um poema que a vida escreveu sem querer e que, mesmo sendo triste, carrega uma estética bastante explorável.
    A questão de tratar um ocorrido melancólico como a gota d’água para revelar o que há de interno em alguém cativa para que a discussão se aprofunde além do curta, possibilitando o telespectador/ouvinte de usufruir dos mesmos sentimentos, ou outros, que Maria Teresa passa interpretados pela atriz Andrea Carballo. Pode tanto nos levar para uma visão puramente artística como para uma visão de papéis pré-definidos no meio social.
    O curta mostra Maria Teresa suplicando pela atenção, carinho, da pessoa amada, ao mesmo tempo que desabafa sobre o que lhe incomoda na relação dos dois. Relata que há ausência de Enrique mesmo que estejam juntos e, por isso, acabou respondendo-o de mesma forma que vinha sendo tratada na tentativa de demostrar as angústias que ela passa. A coragem demonstrada no momento em que fala com o aparelho é rapidamente apagada ao falar diretamente com Enrique, saindo de uma posição de extremo poder para uma de submissão. Uma cena que ainda pode-se encontrar presente nas relações da atualidade. Coloca em pauta a solidão da mulher que era privada até mesmo de gerar renda por si própria e lembrando, também, do antigo costume que obrigava a mulher servir ao homem, implicava em ter cuidado com as palavras usadas quando referidas diretamente à uma imagem masculina.
    As ligações de Maria Teresa não tem data se tratando de relacionamento quanto de posição social, estas gravações ainda trazem o reflexo de uma sociedade excludente.

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  14. Seguir à risca a definição técnica de um curta metragem não é o bastante para representar valor artístico, ao englobar várias mídias para fins no audiovisual a obra “Ni una sola palavra de amor” subverte definições ao possibilitar para si o novo. Talvez seja necessária uma visão crítica expressionista tal qual define Virgínia Woolf ao apontar a qualidade da análise como dependente da sensibilidade do crítico, o entendimento sobre várias correntes artísticas condiciona o que se pode pensar sobre a peça em questão. Para mim é mais interessante taxar uma obra assim como “experimento” do que classifica-la como algo já estabelecido, é no espaço entre as artes que se produz, desenvolve e se espalha o novo.

    Gabriel Pereira

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  15. O vídeo é um curta-metragem, feito com falas reais de uma secretária eletrônica, porém as cenas que foram feitas não seguiram a risca o tempo que se passou de fato aquelas ligações, pois foi feita uma idealização como se fosse os anos 50 pois percebe-se através das características, roupas, cabelo da personagem, e o próprio cenário, no entanto, o programa Fantástico da Rede Globo encontrou María Teresa e ela disse que aquelas ligações eram de 1998. Contudo, as cenas, cenário, e as falas casam muito bem pois se pensarmos em um plano maior normalmente quando se trata de um relacionamento romântico, em uma suposta separação, a mulher acaba sendo oprimida pela sociedade. A respeito da corrente literária, é possível relacionar com o romantismo, pois é visível que há um drama apresentado por Maria Teresa nas ligações, além do pessimismo apresentado por ela com o passar do tempo em que não é atendida. O romantismo tem como característica também, o individualismo, egocentrismo, e relacionando com o vídeo pode-se perceber que Maria Teresa é egocêntrica e individualista, pois só pensa no bem estar dela, sendo tão insistente nas ligações, não se importando com outros afazeres de Enrique, além de que cria várias paranoias, muitas vezes xingando-o, como se tivesse mudado totalmente de ideia, e não quisesse mais que ele voltasse.

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