domingo, 2 de setembro de 2018

Sobre o cânone literário brasileiro

[REIS, Roberto. Cânon. In: JOBIM, José Luís (org.) Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago, 1992]
Roberto Reis afirma que para que se possa trabalhar o conceito de “cânon” é importante ter em mente que por trás de noções como linguagem, cultura, escrita e literatura está presente a noção de poder, pois o que se pretende, ao questionar o processo de canonização de obras literárias é, em última instância, colocar em xeque os mecanismos de poder a ele subjacentes. Considerando a linha de raciocínio dentro de uma dinâmica das práticas sociais em que a escrita e a leitura têm sido utilizadas como instrumentos de dominação social, o conceito de literatura seria entendido como uma prática discursiva.
O texto, em geral encerrado na moldura do livro, transita por uma sociedade na qual existem hierarquias de classe estratificando os indivíduos que compõem aquela sociedade. (...) O processo de canonização não pode ser isolado dos interesses dos grupos que foram responsáveis por sua instituição e, no fundo, o cânon reflete estes interesses e valores de classe.
O cânon é um evento histórico, visto ser possível rastrear a sua construção e a sua disseminação. Não é suficiente repassá-lo ou revisá-lo, lendo outros e novos textos, não canônicos e não canonizados, substituindo os ‘maiores’ pelos ‘menores’, os escritores pelas escritoras, e assim por diante. Tampouco basta – ainda que isto seja extremamente necessário – dilatar o cânon e nele incorporar outras formações discursivas, como a telenovela, o cinema, o cordel, a propaganda, a música popular, os livros didáticos ou infantis, a ficção científica, buscando uma maior representatividade dos discursos culturais. O que é problemático, em síntese, é a própria existência de um cânon, de uma canonização que reduplica as relações injustas que compartimentam a sociedade.
É também fundamental lançar mão de outros paradigmas de leitura, estabelecendo o contexto histórico como solo da interpretação. Ou seja, está em jogo uma maneira de ler, uma estratégia de leitura que seja capaz de fazer emergir as diferenças, em particular aquelas que conflitem com os sentidos que foram difundidos pela leitura canônica, responsável em última análise pela consagração e perenidade dos monumentos literários e via de regra reforçadora da ideologia dominante, subvertendo, desse modo, a hierarquia embutida em todo o processo.” (REIS, 1992, p. 76-77).

Realize um comentário que desenvolva pelo menos uma das questões abaixo:
Historicamente a literatura (bem como as demais artes) tem sido um veículo eficaz de transmissão de cultura?
O cânone literário leva em consideração autores e obras fora dos padrões do ocidente europeu?
O significado de qualquer juízo de valor sempre depende, entre outras coisas, do contexto em que foi emitido e de sua relação com os potenciais destinatários e sua capacidade de afetá-los ou mesmo convencê-los?

37 comentários:

  1. Considero a Literatura uma forma prazerosa de aquisição de cultura, em termos gerais, tomando a palavra Literatura relativa ao texto literário, excetuando-se aqui os textos acadêmicos, científicos, jurídicos, etc. É uma forma empírica de conhecimento do mundo. Obviamente, dou preferência aos textos que me agradam, seja qual for o motivo. Embora também leia os que desagradam, uma vez que os tenha começado, salvo raras exceções. Todos eles virão compor, o que aprendi em Como Falar Dos Livros Que Não Lemos, minha Biblioteca Interna, sobretudo aqueles cuja leitura venha a abandonar.
    Através da Literatura tomamos conhecimento do mundo a nossa volta. A contemporaneidade está nos livros que estão sendo publicados, no pensamento dos escritores vivos, nas discussões que se seguem acerca dos seus conteúdos. No entanto, é de suma importância absorver os clássicos, a Literatura consagrada, as obras canônicas. Lembro de estar lendo uma crônica de jornal em que o autor, cujo nome me escapa, sentia-se impotente, como leitor contumaz, em não poder ler tudo o que lhe desperta interesse, pois “o dia ainda tem somente 24 horas e eu tenho tanto a fazer”. Então, recomenda como um consolo a si próprio, que os clássicos já seriam suficientes para consumir uma vida de leitura prazerosa e necessária. Nesse sentido, lembro ainda de uma entrevista com o escritor Moacyr Scliar, em que o entrevistador lhe pergunta sobre algum arrependimento na vida, ao que ele responde: “arrependo-me de comprar mais livros do que sou capaz de ler”.
    Portanto a Literatura, dentre as demais artes, talvez seja uma das melhores maneiras de se transmitir cultura. E o hábito de ler, a melhor maneira de fugir da opressão, embora aqui haja a necessidade visceral de muito discernimento.

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  2. Segundo Márcia Abreu, o que faz um texto ser ou não "literário" são as formulações derivadas de uma ideologia. Partindo desse ponto de vista, é notável que a "literatura inesquecível" é imposta aos leitores como uma forma de domínio, visto que pertence a um sistema cânone. Esse sistema dá voz à elite, ao poder, e a transmissão da cultura através da arte transmite apenas a cultura que, grosso modo, teve "permissão" para ser transmitida. Não é necessário, entretanto, ler apenas obras escritas por minorias para desbancar a canonização. O que importa é o conteúdo escrito, e não quem o escreve.

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  3. Expressões como “os clássicos” que remetem ao cânone literário, geralmente fazem referência a grandes escritores e extremamente conhecidos como Shakespeare. A presença europeia universalizou a ideia de canonização, o próprio termo passa a ser generalizado a partir da Igreja Católica e esta que permitiu a posição que foi dada a Shakespeare, um Santo da Poesia. O nosso torcicolo cultural definiu o modo como vemos a literatura, os nossos períodos literários podem possuir características tipicamente brasileiras mas sempre têm um início europeu. Um exemplo disto é O Cortiço de Aluísio Azevedo, obra naturalista, movimento este que tinha grande prestígio na Europa na época e que foi fortemente influenciado por uma literatura francesa, foi considerado um documento histórico do século XIX no Brasil.

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  5. A literatura ao longo da história, aborda várias formas de trabalhar com a linguagem, registrando e saudando a memória, assim a mesma reflete a diversidade na abordagem de diferentes escritas que atravessam as fronteiras, poeticamente a literatura através de lapsos sucessíveis e admiráveis, constrói a identidade(cultura) do povo.
    Hippolyte Taine definiu que a literatura obedece a leis inflexíveis: a da herança, a do meio, a do momento, logo tem-se a concepção de que essa expressão da sociedade, prestigia a multiplicidade (através dos gêneros e estilos literários) sobre a singularidade (contexto), assim a literatura perpetua valores.
    A transmissão da cultura dá-se ao fato de que todos os livros que conseguiram alcançar uma posição na história (cânones), deixaram marcas estéticas e simbólicas. Toda essa herança é o que permitiu as transformações recentes nas práticas culturais, especialmente com o surgimento de novas mídias.
    A longo prazo pensando em possíveis novos meios e momentos, os quais a literatura estará inserida, novas transformações e a garantia da herança cultural dar-se-ão se as relações entre as artes tradicionais com as novas mídias e formas de expressão, forem embasadas no conceito de que a cultura sempre será o hieróglifo mais sensível e valoroso, porque com o passar do tempo, é ela que irá permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato.

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  6. A literatura sempre foi um marco importante ao longo dos anos, através dela podemos "vivenciar" histórias de diferentes tempos. Nem sempre foi algo que toda a sociedade tinha acesso, porém a acessibilidade foi mudando e assim adquirindo vários públicos. A partir do realismo, a ideologia predominante era a preocupação de retratar a verdade em que a sociedade se encontrava, antes era necessário mascará-la. Creio que a partir desse movimento literário a transmissão da cultura é de certa forma mais verdadeira e se baseia na realidade que o país se encontrava, pois antes tudo era idealizado e tinha como foco as classes mais alta da sociedade. O público agora possuía mais acesso e a linguagem já não era tão rebuscada, a leitura era mais compreensível e retratava o que a população vivia.
    A literatura acompanha seu público e vai se transformando ao passar do tempo assim como as demais artes. Através dela podemos aprender sobre o que ocorreu nas décadas passadas e entender o contexto em que as pessoas viviam, portanto acredito que é sim um meio eficaz de transmissão da cultura.

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  7. Vou comentar a terceira questão:

    O juízo de valor depende da relação entre escritor e destinatário. Existe uma cultura hegemônica que tende a rejeitar tudo que causa estranhamento, ou seja, tudo que ameaça a sua posição de poder. Na nossa sociedade, as minorias (negros, pobres, mulheres, idosos, etc.) são considerados inferiores e são convencidos disso pela cultura hegemônica. Portanto, uma obra que mostre a visão de mundo, a partir de uma dessas minorias, é vista como uma contradição e rejeitada por ser considerada inferior. No entanto, se essas outras formas de percepção do mundo, que coexistem com a cultura hegemônica, fossem valorizadas como uma visão que tem a contribuir, o ser humano se desenvolveria muito mais enquanto grupo social.

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  9. A literatura tem sido uma das grandes redes de reforço tanto culturais como sociais, por isso, historicamente tem sido um eficaz veículo de transmissão de cultura, por que quando olhamos para as obras canônicas da literatura ocidental percebemos bem rápida a exclusão de diversos grupos sociais, étnicos e sexuais do cânon literário e entre as obras-primas que compõem uma quantidade grande da chamada “civilização” não estão representadas outras culturas, como por exemplo: africanas, asiáticas, indígenas, muçulmanas, pois o cânon com que nós geralmente lidamos está centrado no Ocidente e foi construido no Ocidente, o que significa, por um lado, apoiar um tipo de cultura baseada na escrita e no alfabeto, e por outro significa dizer que, com toda a chance, o cânon está repleto de construções com bases que sustentam esse saber ocidental.

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  10. A literatura como veículo de transmissão cultural não só ganha força com cada obra no campo como também em outros aspectos da arte, atestando a sua eficácia. Essa constante histórica é mais do que visível quando espectros da mídia (atuais e não atuais) são consultados, já que, bem possivelmente, é essa cúpula que molda uma grande fatia social do que somos e vamos ser. Filmes, livros, músicas e outras manifestações do sentir ou do belo arquitetam muitas situações no dia a dia, vide diversos movimentos culturais que acontecem no mundo atual. O rastro que deixamos na sociedade surge, em grande parte, por causa daquilo que consumimos e isso pode ser usado como forma de solidificação do argumento de que sim, a literatura e qualquer outro meio artístico transmite e transmitiu a cultura de maneira perdurável, já que a sociedade espelha esses meios e os meios espelham a própria sociedade. Entretanto, é importante salientar o fato de que essa competência dos veículos é um pouco jovem, mostrando-se mais forte nos tempos recentes e, de certa forma, complexa de se entender quando se fala nos períodos mais antigos.

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  11. A literatura, como outras formas de arte, é um ótimo veículo para difusão da cultura devido a maneira com que ela pode fácilmente ser espalhada entre pessoas, ainda mais nos tempos de hoje, com os avanços técnológicos tornando as artes ainda mais acessíveis.
    As obras literárias antigas são capazes de nos passar informações de tempos nos quais seria impossível acharmos por outro meio, graças a ela sabemos de eventos, costumes, culturas e entre várias outras coisas as quais não teríamos acesso caso obras literárias não existissem, juntamente com as outras formas de arte como dança, música, pinturas, entre outras.
    Até hoje a literatura é extremamente importante, não só apenas pelo seu passado mas pelo seu futuro também, pois registros atuais poderão ser de grande importância daqui a alguns anos, sem mencionar a influência que as artes tem na sociedade, pois muitas vezes nos espelhamos nos costumes que encontramos em certas obras, fomos básicamente construídos em cima das influências que elas emanam sobre nós, por isso creio que toda obre de arte é um meio viável de transmissão cultural.

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  12. A literatura é pode ser um excelente transmissor de cultura. Um autor, ao escrever, transmite sua visão e conhecimentos de mundo, não importando o gênero da narrativa. Entretanto, não é uma grande gama de obras que chega à maioria das pessoas. Geralmente, o cânone, e atualmente, os best-sellers são os livros que conseguem chegar às prateleiras de livrarias e bibliotecas. Infelizmente, estes se resumem a um pequeno grupo cultural, a literatura que vem se espalhando pelo mundo desde a invenção da imprensa: branca, euro centrada, e hoje em dia, também norte-americanizada. Não digo que a cultura trazida por um livro de Shakespeare ou Stephen King seja inválida, mas seguimos tendo mais do mesmo quando poderíamos ter mais acesso a informações, visões e opiniões de autores do mundo inteiro. É muito importante que se reveja o que é considerado cânone literário para que o leitor seja tirado de sua bolha, e assim, aumente infinitamente sua capacidade de absorção cultural.

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  13. A literatura te sido sim um veículo eficaz para a transmissão de cultura, pois quando uma história é escrita ela nara, muitas vezes, o cotidiano e consequentemente a cultura de uma população, e o cânone literário brasileiro mostra (em maioria nos livros do século passado) o cotidiano de uma classe mais alta, deixando um pouco de lado a cultura que tinha nas periferias, pois a periferia podia até escrever, mas não publicava e não era canonizada. Não sendo canonizada não era vendida, não era lida e não era transmitida.
    Sendo assim, a literatura é sim eficaz para transmitir cultura, mas não transmite o todo de uma cultura, apenas uma parte. Mas a literatura contemporânea tem mostrado mais lados culturais, com mais olhares diferentes sendo publicados, mais publico diferente consumindo essa literatura, faz com que culturas diferentes que não chegariam a essas pessoas tão facilmente ou que não seriam ou não serão canonizadas, ganhem leitores e consequentemente com a tecnologia em mãos essas culturas sejam compartilhadas e mais facilmente transmitidas e tenham mais alcance, mesmo que continuem em seu anonimato, longe de serem canonizadas.

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  14. A literatura, na minha concepção, pode ser considerada como um veículo de transmissão de cultura ao longo de séculos pois tem o poder de transmitir valores e tradições de diversas sociedades, religiões e eventos históricos ao redor do mundo, possibilitando, na maioria das vezes, a interpretação dessas questões com uma visão crítica e peculiar de cada autor(a) e seu posicionamento em relação a elas. Tendo isso em mente, pode-se afirmar que nem todo cânone literário leva em consideração os padrões ocidentais/europeus (com exceção de obras literárias tidas como clássicas que, por sua vez, são em sua maioria ocidentais), uma vez que há a existência de obras como, por exemplo, "Wagahai wa Neko de Aru" do autor japonês Natsume Soseki e "Half of a Yellow Sun" da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, trazendo uma narrativa e enredo oriental e africana, respectivamente, em suas obras. A falta de conhecimento de obras que não são ocidentalizadas pode ser justificada a partir dos resquícios da colonização e pela valorização do pensamento eurocêntrico. Dessa forma, as obras literárias mais acessíveis no mercado serão aquelas que têm a possibilidade de agradar um maior número de consumidores, ao que se refere o conceito de Indústria Cultural, dos filósofos Adorno e Horkheimer.

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  15. O Cânone sendo uma espécie de lugar para obras consagradas, e sendo ele inserido em uma sociedade hierárquica e desigual, e sendo a literatura (elemento deste cânone), algo verossimilhante, a sociedade no qual os autores de livros canônicos vivem, presenciam e possui maior acesso, o Cânone espelhará essa mesma realidade social.
    Mesmo que de uma forma de difícil acesso às pessoas que não vivem em sua maioria o que mais se retrata no nível idealizado na literatura, ainda assim, a literatura veicula e transmite a cultura, bem como as demais artes (que muitas vezes a conseguem fazer em maior alcance).
    E isto historicamente, mas de formas diferentes. A literatura com a sua forma mais duradora e concreta, possibilitando seu acesso por mais anos e gerações. As outras artes, como a música, de forma com maior acesso e alcance rápido.
    Voltando ao exemplo da literatura, mesmo que ainda não sendo algo de fácil acesso, quando se acessa, se tem sim um veículo com grande eficácia de transmissão cultural, sobretudo, quando se chega a obras além das canônicas, onde se achará maior diversidade de conteúdo e conseqüentemente um ambiente mais diverso culturalmente.

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  16. Historicamente a literatura (bem como as demais artes) tem sido um veículo eficaz de transmissão de cultura?

    A História e a cultura, muitas vezes, servem de influência para a literatura, inspirando a narrativa, a construção de personagens, tal como o local onde se passa a obra.
    Tomando como exemplo “Ilíada”, de Homero, podemos perceber que há ali um modelo de caráter a ser seguido pelos homens gregos, assim como seu comportamento e a tentativa de contar a história do surgimento e a formação desse povo. Homero utilizou da tradição oral, ou seja, das histórias que o povo contava, para compilar a narrativa, influenciado também pela mitologia grega, e principalmente pelos dialetos falados.
    A literatura toma parte também de transcrever como determinado idioma é falado e escrito, preservando-o e difundindo-o. Sem ela, seria difícil relatar fatos ocorridos no passado, e também variações linguísticas da língua.
    Infelizmente, a literatura nunca que esteve ao alcance de todas as classes sociais, e sim destinada a um público específico, como por exemplo, o Romantismo que foi criado para entreter a burguesia. Mas através do exemplo da “Ilíada”, é possível observar a literatura desempenha o papel de promover a cultura universal ou de determinado povo. Agora, com a evolução dos meios de comunicação, como a Internet, a literatura é facilmente acessada e disseminada para todos.

    Ana Beatriz Ferreira Munhoz

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  17. O termo "cânone" advém do grego "kanón" que, do ponto de vista da Língua Portuguesa e da literatura, possui o significado de, respectivamente: modelo e conjunto de grandes obras consideradas clássicas e genuínas.
    O cânone literário passou a ter mais reconhecimento, de uma forma bastante simplificada, a partir de uma lista de leitura obrigatória imposta aos estudantes do século XIX (observamos que apenas pessoas com poder tinham esse acesso). As obras escolhidas para preencher o currículo dos alunos, eram, em sua maioria, obras esteticamente perfeitas e que tinham como autores, homens brancos da alta sociedade. Até mesmo os personagens dessas obras possuíam esse perfil.
    Desde então, ouvimos falar dessas obras, como se elas de fato precisassem ser idolatradas o tempo inteiro. Essa cultura está tão enraizada em nós, que às vezes sentimos até mesmo vergonha em admitir não ter lido alguma obra consagrada.
    Analisando melhor o processo da canonização, percebemos o quanto tudo era preconceituoso. Autores e obras que fugiam dos padrões, eram simplesmente descartados, como se suas literaturas não tivessem valor algum para a sociedade.
    Ao contrário, eram essas obras sobre mulheres, negros ou pobres, que chamavam a atenção das massas. Pois, vamos admitir, o povo queria ter a sua realidade retratada como de fato era, e não essa "escolha" entre o mais bonito ou mais estético.
    Além disso, todos deveriam ter seu lugar ao sol, pois existe muitos escritores bons esperando apenas uma chance para serem reconhecidos.

    Maria Eduarda Azevedo Soares.

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  18. Historicamente a literatura, no ocidente, sempre caminhou lado a lado com poder e assim funcionando com maneira de legitimar a dominação das elites hegemônicas, uma vez, que os saberes são produzidos a partir de dada condição histórica e ideológica. Sendo assim um eficaz veículo para transmitir a cultura, através das obras canônicas, e assim rejeitando tudo que cause estranhamento a hierarquia social.
    O cânon significando um conjunto de obras que irá transcender os séculos, transformando em patrimônio a humanidade ao qual deverá ser preservado para as novas gerações e o qual possui valor de não contestável. Partindo deste, principio se pode averiguar que a reunião dos textos canônicos da literatura esta resguardado por um tipo de autenticidade, como se estivera sido pactuado por um conjunto de pessoas que esta num nível supremo, quase que como deuses, a qual irão eleger obras e autores e excluir outros.
    Por razões que não são muito claras, preservam apenas algumas obras, fazendo uma espécie de aristocracia textual acima de quaisquer suspeitas. É esse cânon literário que irá nos dizer quais obras são superiores e quais são inferiores, quais deveram ser lidas, etc. Mas quem define o que? Quem formula tais regras? Quem diz o que é literatura?
    A literatura não é imune às relações ideológicas e às articulações de poder que envolvem os sistemas sociais. E ao longo dos séculos vem sendo um importante veiculo legitimador e transmissor da cultura hegemônica dominante, ao qual resguardada por pessoas que como “deuses” vão elencar qual obra deve ser canonizada ou extirpada, para que a cultura elitista continue sendo dominante. Ademais a literatura não é apenas uma questão de gosto, e sim uma questão de politica.

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  19. A literatura, assim os outros meios de manifestação artística, é um grande transmissor cultural. Através da leitura, não só descobrimos novos universos, como também aprendemos a olhar para a nossa própria sociedade de forma mais atenta e crítica.
    Enquanto Aristóteles afirmava que a Arte imita a vida, Oscar Wilde acreditava no oposto (“a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida”).
    A partir das diferentes visões acerca do tema, nos permitimos explorar o que já diziam os conceitos de mímese e verossimilhança. Uma obra, por mais fictícia que venha a ser, ainda é passiva de um longo processo de adequação sócio-histórico e cultural. Afinal, a história precisa ser coerente, tanto de forma interna quanto externa. O leitor ao mesmo tempo que deseja ser representado, busca de alguma forma, um modelo para seguir. Um personagem no qual se espelhar.
    Além de toda a técnica para escrever e preparar um bom produto, a arte também pertence ao campo emocional. Um bom livro vai transmitir emoção. E se é capaz de transmitir emoção, é capaz de transmitir conhecimentos históricos e morais.
    Tendo isso em vista, partimos para o "juízo de valor", aquilo que julgamos como sendo boa ou má literatura. Um conceito variável, que depende da visão de mundo tanto do autor quanto do leitor, assim como do contexto social em que eles estão inseridos.
    Por conta dessa forte relação entre arte e sociedade, é possível perceber que dificilmente a arte vinda de classes sociais menos privilegiadas eram aceitas e prestigiadas pela classe consumidora, logo não entravam para o cânone literário. Devido aos movimentos sociais que estão ganhando força na atualidade, muitas barreiras estão sendo quebradas na arte, de forma que obras que fujam do padrão literário imposto há anos ganhem seu espaço na comunidade leitora.

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  22. A palavra cânone está nas línguas românticas com o sentido de “norma” ou “lei”, por esse sentido quando pensamos em obras canônicas relacionamos com as chamadas “obras clássicas”, e são consideradas obras obrigatórias para todos lerem. Apesar de a literatura ser um veículo transmissor de cultura, o cânone exclui os grupos sociais, culturas, bem como etnias e sexo.
    Creio que a literatura permite transmitir cultura assim como as demais artes, mas ao mesmo tempo relacionando isso ao cânone, quanto a obras que mostram culturas de outros povos ou conhecimentos que não a ocidental, são ignoradas, e não recebem o dado merecimento, assim como a falta de reconhecimento de autoras ou autores negros, existe sim participação de mulheres, negros ou orientais no cânone, mas essa inclusão ainda é pequena, baseada na quantidade de autores brancos e europeus; O juízo de valor é uma questão muito pessoal, para cada pessoa cabe julgar o que é a boa literatura, sempre me foi dito para ler os clássicos no lugar de livros de literatura fantástica ou romances atuais, tal leitura me traria cultura, e sempre que buscava a leitura dos clássicos havia uma barreira que me afastava, hoje tento procurar essas leituras, pois vejo como criei um preconceito dessas obras por não ser parte do que eu considerava bom, acho que é necessário a leitura de textos que nos agradem e os que não agradam também, já que são capazes de nos trazer conhecimentos e experiências.

    Brenda Da Silva Naparo

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  23. Historicamente a literatura (bem como as demais artes) tem sido um veículo eficaz de transmissão de cultura?

    Sim. A Literatura, assim como as demais artes, podem ser ótimos transmissores de cultura.
    Apesar de atualmente haver uma divisão na Literatura (culta e sub-literatura ou literatura de massa) ambas estão vinculadas à época e sociedade em que se originam, uma talvez com uma carga histórica maior e linguagem complexa, como a Literatura consagrada e os clássicos, e a outra vinda de uma forma mais acessível como os livros que estão sendo publicados. O artista busca referência e inspiração no meio em que está inserido, sendo assim, com os clássicos nós lemos sobre culturas, costumes e eventos de épocas que só poderiam ter sido registrados através dos livros. Com livros que ainda estão sendo publicados ou com a Literatura de massa, lemos sobre uma visão de mundo do autor na atualidade, momentânea ou poucos com referência histórica, mas que ao invés de terem um grande reconhecimento e serem sustentados com o passar dos anos por isso, sua produção e consumo partem do mercado, oferta e procura.

    Giulia Skieres

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  24. A literatura assim como a música, dança, pintura é uma forma de arte, e é através delas que uma sociedade é moldada, e por sermos sociedade que vive em constante mudança a literatura também passa por isso, pois antigamente o poema era muito usado, as cantigas de amigo, as odes, e depois surgiram as narrativas. crônicas, etc...
    Vale lembrar que por meio da literatura conhecemos a cultura de outros países, regiões.
    Além disso, por meio da literatura são relatados o momento histórico que é vivido, seja do passado ou do presente. A cultura gaúcha tem muito disso, por meio dos poemas, músicas, livros, são contados a história daquele povo, como por exemplo na obra "O tempo e o vento" de Érico Veríssimo, ou simplesmente o relato de como é a terra, a dança, as especifidades da cultura.
    Também podemos considerar a literatura como transmissora de cultura ao ler um texto e nele ser visivelmente possível identificar a língua falada, por exemplo "O trem bão dimais sô" "Eu não ia vortá, porque aqui é minha terra"

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  25. A literatura foi e é um veículo eficaz de transmissão de cultura, anteriormente dada principalmente através de obras canonizadas, a história e a ideologia eram diferentes. O cânone, atualmente, não deixou de existir, porém hoje temos mais "opções", acesso às demais obras não tradicionais e pouco valorizadas com a democratização das artes, a inclusão da cultura popular e urbana. A tecnologia nos da acesso às obras diversas, não somente às mais conhecidas, por isso, creio que a literatura transmite cultura "com mais força" para mais pessoas, sem alguma restrição como outrora.

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  26. Podemos dizer que nenhuma obra, quando é escrita, possui classificação a respeito de ser considerada literatura ou não. A partir do momento em que ela é disponibilizada aos leitores será possível saber qual será sua classificação, através de sua aceitação ou não, e também pelas problemáticas que aborda. Por ter sido escrita em um dado momento histórico-político-social, por um determinado sujeito histórico-político-social, ela vai demonstrar os valores presentes naquela sociedade e, para além disso, dará pistas sobre o funcionamento e o pensamento daquela sociedade, mesmo que alguns pontos possam não estar tão perceptíveis. O juízo de valor que essa obra irá receber, portanto, vai depender exclusivamente de cada público leitor. Vai depender das ideologias, das concepções de sociedade que aqueles indivíduos construíram ou estão construindo ao longo de suas vidas.
    Assim, no momento em que uma obra é considerada literatura, a probabilidade de ela transmitir cultura é grande, tendo em vista que sua circulação em várias escalas da sociedade irá aumentar. Por outro lado, essa obra, mesmo sendo considerada literatura por alguns, poderá não ser considerada por outros, visto que o juízo de valor emitido depende, também, da capacidade que essa obra teve de conseguir afetar o público.
    Esses conceitos podem ser relacionados, ainda, nessa perspectiva de avaliação do cânone. Enquanto o cânone não importa como juízo de valor, por possui um padrão pré-determinado pelas ideologias dominantes na sociedade à qual pertencem, todos que o lerem irão emitir um juízo de valor e isso também vai depender de qual momento histórico-político-social o leitor está inserido.

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  28. A literatura, tal como qualquer outra arte, é muito importante para a cultura, pois é com ela onde as mais diversas formas de cultura se conectam e conseguem manter contato. A sociedade é multicultural, ou seja, existem diversas formas culturais espalhadas pelo mundo que possivelmente teriam sido esquecidos ao longo do tempo se não fossem pela literatura e pelo grande avanço tecnológico, ambos oferecem uma grande abrangência em relação ao território cultutral, pois é ainda mais fácil realizar essa fusão entre culturas como, por exemplo, um escritor ao lançar seu livro , seja ele de onde for ou qual gênero for, transmitirá o seu ponto de vista do mundo e muitas vezes suas experiências pessoais.
    Eu vejo a literatura como um modo divertido e instigante de estudo, é com ela onde descubro mundos e culturas diferentes do meu cotidiano, é com ela que viajo para diferentes lugares sem ao menos sair do lugar, e é com ela que me conecto com diferentes pessoas. Portanto, a literatura é sim uma importante transmissão de cultura, não somente ela, mas também as mais diversas artes como, música, teatro, cinema, etc.

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  29. Historicamente a literatura (bem como as demais artes) tem sido um veículo eficaz de transmissão de cultura?
    Não, mas a literatura contribuiu para a difusão da literatura tradicional fazendo com que certos autores, ficassem com o reconhecimento e notoriedade exigidos pelos preceitos da literatura convencional, entretanto diferentes obras não são incluídas pelo fato de serem consideradas inferiores, mas não pela qualidade de suas publicações, e sim pelo meio social que os autores das obras estavam inseridos, criando-se uma barreira e assim não atingiria todos os gregários.
    JANAÍNA PEREIRA

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  30. O cânone certamente reflete os interesses e valores de classe. Isso leva-me a pensar que a literatura e as demais artes foram, sim, um veículo de transmissão de cultura. Entretanto, a cultura transmitida era aquela considerada a cultura de valor, em detrimento de outras que não tiveram a mesma oportunidade de divulgação e visibilidade. Tal transmissão também se dá hoje em dia, porém a difusão de obras que não seguem o padrão do cânone se dá de modo mais livre, já que para um texto ser lido ele não necessariamente tem de estar publicado em livros de papel. A internet nos possibilita acessar as mais variadas produções literárias (que para alguns podem não ser consideradas literatura, o que faz o assunto ter maior complexidade). Apesar de sermos, sem dúvida, influenciados pelo que a ideologia dominante quer que leiamos, temos a possibilidade de ir além do cânone e não mais ter que fazer a leitura de "A" em detrimento de "B". O fato de percebermos que o cânone foi basicamente estabelecido (ou ditado) por homens brancos já nos mostra como estamos vivendo numa época diferente, na qual temos indivíduos que olham para o que é dado como padrão com um olhar crítico e reflexivo.

    Marina Dias dos Santos

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  31. A eficácia da literatura como veículo de transmissão cultural é tão palpável quanto abrangente o meio em que se propaga na sociedade, sendo esta expressão artística tão claramente elitista quando objeto de estudo é evidente o seu desintersse em ensinar ou transmitir. O grande cânone não tem serventia além de si, ao ser estudado e construído em isolamento da maior fatia social perde sua capacidade de propagar a cultura que tão tranquilamente carrega.

    Gabriel Pereira

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  32. A literatura é sim um instrumento de vasta transmissão cultural, de tal força capaz até de mudar o homem. Ela esta diretamente ligada a contribuição na formação de uma língua, auxiliando na sua manutenção e reciclagem quando abordada em seu aspecto conteporâneo. Ja sua vertente clássica, permite fazer analises entre o passado e o futuro, levando o leitor a amadurecer opniôes, refletir sobre causas e efeitos e melhorar argumentos. A literatura cumpre seu papel de transmitir conhecimento, cultura e principalmente transformação social.

    Suzy Noble

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