quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Semiótica



Após a leitura do texto de Umberto Eco - O modo simbólico. In: Semiótica e filosofia da linguagem -, podemos perceber a sua importância para o estudo da obra literária, tendo em vista que toda a obra é simbólica. Nas palavras de Eco, "simbólica é a atividade pela qual o homem explica a complexidade da experiência, organizando-a em estruturas de conteúdo a que correspondem sistemas de expressão. O símbolo não só permite 'nomear' a experiência mas também organizá-la e, portanto, constituí-la como tal, tornando-a pensável e comunicável". (1991, p. 201).
Com base nessa definição, procure apresentar um estudo acerca de um (ou mais) símbolos presentes em uma determinada obra literária, evidenciando a sua função no sentido de representar a experiência humana presente naquela produção, lembrando que os símbolos são "escolhidos por sua capacidade de representar infinitos outros contextos mais ou menos semelhantes" (1991, p. 201). 

51 comentários:

  1. Semiótica
    A análise da semiótica vai nos ajudar a entender com clareza que a arte pode ser um discurso do poder e nunca para o poder. Essa teoria vai nos mostrar que o ícone é um signo de alguma coisa, mas o ícone como diz o teórico Pierce, é um signo aberto: é o signo da espontaneidade, da liberdade. A semiótica acaba de uma vez com a ideia de que as coisas adquirem significado quando trazidas sob a forma de palavras.
    Saindo da teoria e partindo para a vida real, fazemos essas trocas a toda hora, transformar em símbolo o que é real ou vice versa, representamos ícones como se fossem realidade, porém nem sempre compreendemos o teor mais profundo de cada significado real, seja ele qual for. O modo simbólico na arte: o símbolo é reconhecido como um modo particular de dispor os signos a fim de que eles se dissociem de seus significados codificados se tornam capazes de veicular novos conteúdos, o símbolo na presença do estético é uma arte entre várias estratégias poéticas possíveis.
    Partindo para análise de uma obra literária em suma podemos ver símbolos, signos, ícones, e nem sempre eles são interpretados na forma literal do significado ou de seu significante, na literatura o autor tem o poder de transformar qualquer coisa em realidade, onde um ser inanimado pode ter vida e ou um ser animado não passar de um símbolo ideal, um exemplo que darei para tentar mostrar meu entendimento a cerca deste assunto é um poema do autor romântico Álvares de Azevedo em seu livro de poemas “Lira dos vinte anos” no trecho poema:
    “Um cadáver de poeta”
    ... Tu fostes como o sol; tu parecias
    Ter na aurora da vida a eternidade
    Na larga fronte escrita...
    Porém não voltarás como surgias!
    Apagou-se teu sol da mocidade
    Numa treva maldita!
    Tua estrela mentiu. E de fadário
    De tua vida a página primeira
    Numa tumba se rasgou...
    Pobre gênio de Deus, nem um sudário
    Nem túmulo nem cruz! Como a caveira
    Que um lobo devorou!...
    Deixando de lado um pouco do romantismo das delicadas palavras do poeta e partindo para uma análise mais fria somente analisando seus signos, significados e significantes podemos encontrar frases que não condizem com a realidade que conhecemos, por exemplo na frase “Apagou-se teu sol da mocidade numa treva maldita” no sentido literal da frase ninguém tem um sol na mocidade para se apagar e treva são coisas do imaginário, sendo que cada obra pode ir para um caminho de múltiplas interpretações do mesmo signo, fazendo várias leituras em uma mesma obra, como podemos fazer no poema de Álvares de Azevedo de acordo com a teoria peirciana, ”o significado de um signo é sempre outro signo”, ou seja, a semiose, ação do signo de ser interpretando, é processo que se desenrola no tempo, processo de que também participa a literatura e outras produções simbólicas humanas.
    Em considerações finais do ponto de vista poético podemos transformar uma coisa em qualquer outra coisa, seja ela real ou ideal.
    Bibliográfia: http://estudospeirceanos.files.wordpress.com/2012/07/semiotica-e-literatura-por-carolina-boari-caraciola.pdf
    AZEVEDO Alvares de, Lira dos vinte anos, coleção a obra-prima de cada autor, “Um cadáver de poeta”, pag 105.
    ECO Humberto, O modo simbólico.

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  2. No conto “Nação Zumbi” da obra “Contos Negreiros”, o autor Marcelino Freire, faz uma analogia entre o “zumbi fantasma que vaga pela noite morta”, em relação ao personagem que participa do comércio de órgãos que quer vender seus rins, seus olhos e ao mesmo tempo o autor aponta a visão dos brasileiros em uma sátira comparativa a saúde brasileira, africana e da Etiópia. O autor constrói através deste conto a denuncia à banalização, e exclusão do humano na sociedade, por meio da linguagem representativa das formas verbais cotidianas como podemos observar nos fragmentosabaixo:
    E o rim não é meu? Logo que ia ganhar dez mil, ia ganhar… “foi aquele- lá- de – cima que me deu”… “dizem que na áfrica tem muita macacada. Tem muito leão e zebra… quem já foi lá? Nem eu… dizem que é bonito o hospital de lá é bom de internar. De se recuperar. Livre comércio de rim, sim. Isso Mesmo, o que é que há? Meu sonho não foi sempre o de voar”… “fácil é denunciar, cagar regra e caguetar. O que é que tem? O rim não é meu, bando de filho da puta? Cuidar de minha saúde ninguém cuida. Se não fosse eu mesmo me alimentar.”…“por que vocês não se preocupam com os meninos ai, soltos na rua? Tanta criança morta e inteirinha, desperdiçada em tudo que é esquina. Tanta córnea e tanta espinha. Por que no Brasil não se aproveita nada, ora bosta? Viu? Aqui se mata mais que na Etiópia, à míngua. (FREIRE, 2005 p. 53 à 55).
    A linguagem não é totalizadora, e sim aproximada da verdade, quebrando os limites entre ficção e realidade. O autor associa o povo brasileiro a um zumbi para delatar a situação de pobreza e abandono e que estão vivendo como mortos vivos.

    Flamarion Silveira

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  3. O BICHO
    Vi ontem um bicho
    Na imundície do pátio
    Catando comida entre os detritos.
    Quando achava alguma coisa,
    Não examinava nem cheirava:
    Engolia com voracidade.
    O bicho não era um cão.
    Não era um gato,
    Não era um rato.
    O bicho, meu Deus, era um homem.
    Com a metodologia semiótica em O Bicho, de Manuel Bandeira, presente em Poesia Completa e Prosa, é um poema com características do estilo modernista, com tema constante em suas obras, “o cotidiano”. É uma composição em versos livres.
    Em um primeiro nível, é possível destacar o seguinte significado:
    Riqueza X Pobreza: uma pessoa ia passando em algum lugar e viu alguém remexendo o lixo à procura de comida. E isso impressionou.
    Num segundo nível, podemos organizar esses dados concretos num plano mais abstrato: a construção poética inicia um discurso narrado em primeira pessoa e emprega o verbo no pretérito perfeito. Revela, de imediato, tensão. O enunciatário fica em alerta para o que vem a seguir. O percurso narrativo vai mudando com a inserção de imagens. A tensão inicia-se com a figura (bicho) e continua na segunda oração com o adjetivo imundície. Um dos personagens do poema (o homem) se vê num estado tão lastimável, em situação tão miserável, que tem que se submeter a catar os restos que as outras pessoas deixaram. Passa a agir como um animal irracional, atendendo suas necessidades primárias. Geralmente não é visto pela sociedade; é um ser invisível.
    Marcas linguísticas: o uso do léxico catando e não escolhendo, e da palavra voracidade (ato animal diferente do ato humano de comer, degustação) define esse homem como um bicho, e daí percebe-se que o processo de construção do texto é metafórico, havendo uma ligação nos sentidos bicho X degradação humana.
    Num terceiro nível, podemos imaginar uma leitura ainda mais abstrata, que resume o poema em temas que se opõem. Oposições semânticas:
    • Classe dominante X Excluído
    • Afirmação da degradação humana X Negação da dignidade humana
    • Miséria X Fartura
    Não podemos esquecer a contextualização: Manuel Bandeira tornou-se um escritor atuante na crítica social tanto quanto ao governo como no tipo de vida de diversas camadas sociais. O sofrimento que ele retrata em O Bicho não é apenas do homem, mas também do poeta, numa forma de protesto que ataca as classes dominantes e faz dele uma ferramenta de luta social utilizando-se da literatura. Bandeira cria o equilíbrio na perturbação e, fazendo um diálogo entre a realidade estritamente poética e o mundo real que a circunda, gera poemas aparentemente bobos, que se explicam justamente na relação entre o individual e o universal.

    Com a leitura semiótica observamos os seguintes:
    • Leitura dos sentidos do texto
    • Leitura profunda
    • Leitura das entrelinhas ou verticalizada
    • Análise do texto. Desvelamento (temas parciais a partir das personagens do texto)
    • Informações explícitas e implícitas
    • Intenção da obra
    • Reflexão, desenvolvimento do raciocínio analítico (leitor crítico)
    • Oposições semânticas.

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  4. Na obra não ficcicional “ O queijo e os vermes” do historiador italiano Carlo Ginzburg, nos deparamos com o pensamento do moleiro Menocchio a respeito da origem da terra. Menocchio dizia, e por isso foi levado a julgamento pelos inquisidores, que a terra tinha origem na putrefação e que esta formou-se de uma massa como se fosse um queijo feito de leite e do qual surgem os vermes e que esses foram os anjos. Essa foi a maneira que o moleiro encontrou para simbolizar o seu pensamento sobre a origem da terra.

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  5. A revolução dos bichos é uma obra carregada de símbolos que possuem um significante que remetem a outro significado. A obra em questão faz uma crítica ao socialismo russo de Stalin, no livro chamado de “animalismo”. Este sistema de governo pregava a igualdade entre todos, entre outras matrizes do socialismo que de fato são boas. Entretanto com o passar do tempo, os porcos que representam o governo socialista, passam a se comportar como o antigo dono da fazenda que era capitalista. Uma passagem marcante é quando os porcos passam a andar sobre duas patas, igualando-se aos seres humanos (capitalistas). O Porco tem como seu significante um animal mamífero que entre outras características é considerado sujo. Entretanto, o significado dos porcos desta obra, é o governo socialista de humanos que mudaram seus princípios ao alcançarem o poder.
    Ulisses Coelho.

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  6. Neste trecho de Minha História escrita por Chico Buarque que segue abaixo, podemos compreender que se trata de uma mulher que foi deixada desamparada por seu amante. E assim como chegou foi embora sem dar notícias. Podemos interpretar o verso "Esperando, parada, pregada na pedra do porto" como símbolo de um prego, que prega algo em algum lugar com o objetivo de representar a longa espera da mulher por seu amado que está "pregada" em algum canto do mundo. A repetição do "p" pode ser interpretado como as batidas do martelo.

    "Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde
    E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
    Esperando, parada, pregada na pedra do porto" (Minha Música - Chico Buarque)

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  7. Nos contos de Dalton Trevisan encontramos, em quase toda produção do escritor, o João e a Maria. Personagens estereotipados que representam os homens e as mulheres que vivem em uma condição social semelhante. Acredito que podemos compreender esses personagens de uma maneira simbólica.
    Que outro modo, Dalton poderia aproximar-se mais dos homens e mulheres de baixa renda que chamando-os de João's e Maria's. A própria construção dos personagens dos contos, nos direcionam para uma compreensão do que e de quem o narrador fala. Assim, a crítica que tais contos nos permitem pensar, são justamente sobre como esses personagens são construídos em função daquilo que a maioria das pessoas pensam, daquilo que é convencionalizado.

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  8. Numa leitura semiótica, pode-se analisar o percurso do sujeito
    Simão Bacamarte, O alienista, de forma querer-poder-fazer. Durante
    o percurso gerativo de sentido, esse sujeito cumpre então vários papéis:
    sujeito do querer-ser e do querer-fazer – “A ciência, disse ele a
    Sua Majestade, é o meu emprego único (...)”; do sujeito quererpoder,
    sujeito realizado pelo fazer e pela obtenção dos valores desejados
    – “O principal nessa minha obra é estudar a loucura (...) descobrir
    enfim a causa do fenômeno e o remédio universal.”

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  9. A ideia, em Peirce, é um fenômeno ou faneron, sendo tudo o que é, de qualquer maneira, em qualquer sentido, presente na mente, que corresponda ou não a qualquer coisa do real. Sua fenomenologia é batizada de faneroscopia e não aceita
    que a manifestação dos signos entretenham relações com os fatos fisiológicos ou
    cerebrais. Isso não quer dizer que os fenômenos sígnicos não tenham uma origem
    psíquica, mas essa origem não intervém em sua natureza lógica, assim como com os números cuja natureza lógica não se modifica pelo fato de serem pensados por uma mente humana. Como a Semiótica de Peirce não é psicologisante e recusa o sujeito do discurso ( crítica a Descartes ), ela é fundamentalmente social. Peirce
    sempre defendeu a natureza social do signo, não opondo, como o faz Saussure
    Língua/Fala, mas eliminando simplesmente o sujeito do discurso. O eu que fala é o lugar de comunicação dos interpretantes em situação, e toda situação é social. Esta recusa de um subjetivismo isolado aproxima Peirce de Bakhtine.
    Um objeto pode ser representado por um signo para um interpretante, e este interpretante se torna outro signo que produz uma mediação com outro objeto. O que é objeto torna-se signo que se torna interpretante, e o que é interpretante vira signo ou objeto, e assim por diante. A obra Madame Bovary de Gustave Flaubert, mostra um sintoma da decadência do romantismo e do advento do realismo na história literária, e como um sintoma da sociedade industrial. Ema Bovary é uma leitora assídua dos romances românticos que forjam sua subjetividade. Logo, seus traços subjetivos não emanam dela mesma enquanto pessoa, mas provêm das leituras que efetuou. O Romantismo chega a uma etapa em que esgota suas fórmulas e só faz produzir clichês.Em torno de 1850, um clichê de herói bravo como um leão já havia perdido a força argumental e se ainda podia afetar a percepção de uma moça é porque sua subjetividade era formada para crer mais em representações estereotipadas do que na experiência. É o que forja, em nossos dias, a subjetividade de muitos jovens que se fascinam pela indústria dos folhetins eletrônicos e da publicidade. Flaubert lança magistralmente um novo modelo de personagem que, pela experiência de se identificar com personagens de outras ficções já marcados pela incapacidade de progredirem simbolicamente , vai se tornar o símbolo de um novo movimento estético destinado a romper com uma representação do real que já ia se tornando ilusória e perigosa para a saúde mental. Bovary, inaugurando o bovarismo, é um processo semiótico que critica outro processo semiótico passado.

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  10. Conforme mencionado na reflexão proposta, o estudo dos símbolos é fundamental, já que uma obra literária é constituída por símbolos. Além disso, os símbolos permitem que a experiência humana esteja nomeada, de maneira convencional, visto que não há relação com o que está sendo representado. Para Peirce (1958): "O símbolo não é capaz de identificar, por si próprio, as coisas às quais se refere ou se aplica. Ele não mostra um pássaro, nem nos faz ver um casamento, mas supõe que somos capazes de imaginar tais coisas, associando a elas a palavra." Para exemplificar, sobre o ponto de vista semiótico, é possível analisar a Metamorfose de Kafka, e observar que a metamorfose não é física, mas é uma maneira para designar um momento na vida de Gregor que o fez começar a pensar e refletir sobre as coisas, pois antes disso, ele só tinha tempo para trabalhar e viajar à negócios.

    Referência:
    Ribeiro, Emílio Soares. Um estudo sobre o símbolo, com base na semiótica de Peirce. Estudos Semióticos. [on-line]. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es/

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  11. A semiótica é uma redoma de conhecimento estritamente ligada “[...] com os conceitos, as ideias, estuda como estes mecanismos de significação se processam natural e culturalmente. Ao contrário da linguística, a semiótica não reduz suas pesquisas ao campo verbal, expandindo-o para qualquer sistema de signos – Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Moda, Gestos, Religião, entre outros.”(http://www.infoescola.com/filosofia/semiotica/)

    Pode-se observar na obra “Memorial do Convento” de Saramago, a presença de símbolos.

    “No Memorial do Convento, o narrador, valendo-se de sucessivas comparações e metáforas, invade, poeticamente, o pensamento, a voz e a mente tanto do leitor quanto das personagens. Misturando-se a estas personagens, antecipando ações, rememorando fatos passados, esse narrador consegue estimular a imaginação do leitor e provocar, até mesmo, a visualização das cenas descritas na narrativa:

    ... o mundo é ele uma nora e são os homens que, andando em cima dele, o puxam e fazem andar. Mesmo já cá não estando Sebastiana Maria de Jesus para ajudar com as suas revelações, é fácil ver que, faltando os homens, o mundo para. (Saramago, 1999, p.65)

    Partindo de uma metáfora generalizada e simbólica, " o mundo é uma nora", e valendo-se da personagem Sebastiana Maria de Jesus para exemplificar um dos "homens" que fazem girar esse mundo, Saramago entrelaça o real no ficcional, concluindo com um silogismo dialético. Neste silogismo dialético, enunciando uma verdade maior, mais abrangente, guardada nas entrelinhas, que envolve a trama, o leitor e o mundo, entendemos estar o autor efetuando uma leitura oblíqua da realidade.”

    (http://www.scielo.cl/scielo.phpscript=sci_arttext&pid=S071658112006000100005)


    (Carolina Brahm da Costa)

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  12. Na obra do próprio Umberto Eco " A misteriosa chama da rainha Loana", o autor usa os símbolos da vida do protagonista Yambo como forma de trazer de volta suas lembranças. Através de discos, livros, quadrinhos, figuras... o protagonista reconstrói o seu mundo ao mesmo tempo que, através dos mesmo símbolos, reconta a história da Itália na primeira metade do século XX.
    Na mesma obra, o excesso de informações experimentado pelo protagonista através da leitura ao longo de sua vida leva ao esquecimento de sua própria história. A amnésia biográfica de Yambo simboliza a perda de sua identidade face ao mundo que o cerca.

    Vivian Anghinoni Cardoso Corrêa

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  13. Ao ler essa postagem, automaticamente, lembrei-me do conto "Aqueles dois" de Caio Fernando Abreu. Ele trata de uma suposta relação homoafetiva entre dois homens, que na verdade eram apenas bons amigos e eram subjulgados pela sociedade em que viviam. É um conto de leitura muito pesada e sentimental, que mexe com o leitor. Acredito que esses sentimentos de entrelinhas sejam o proposto. Vejamos abaixo:

    " Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.

    Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.

    Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.

    Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram." (Aqueles Dois, Morangos Mofados, 1982)

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  14. Na obra de Sérgio Sant'Anna, Um Crime Delicado o narrador-protagonista procura defender-se da acusação de estupro cometido contra uma moça muito atraente, mas manca. O texto sugere perversões sexuais, mas contém delicadeza e racionalismo suficientes para ser considerado uma eficiente peça de defesa, deixando no ar a existência ou não de um crime cometido contra o pudor onde o próprio protagonista não sabe o que realmente aconteceu.
    Exemplo abaixo:
    "Bati a porta e deixei rapidamente o apartamento. Ao passar em frente a um espelho, na portaria do prédio, constatei minha aparência suspeita, as roupas e os cabelos desgrenhados, o colete vestido pelo avesso. Enfrentei ainda o olhar do porteiro, que me fez sentir como alguém que fugisse depois de ter cometido alguma ação criminosa lá em cima. No entanto, comia um biscoitinho.
    Ao pôr um pé na calçada, pude descarregar toda a tensão represada dentro de mim.
    - Quem essa manca pensa que é? -exclamei para quem quisesse ouvir, enquanto arrancava do corpo o colete." (Pg.107)

    "À medida que o tempo passa, sei cada vez menos se Inês estava ou não desmaiada quando a possuí, se fui ou não um violentador [...]" (Pg. 132)

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  15. A Semiótica propõe como primeiro passo para análise, que se faça abstração das diferentes manifestações – visuais, gestuais, verbais ou sincréticas – e que se examine apenas seu plano de conteúdo. A semiótica, ao abordar um texto, não se preocupa com aspectos que estão fora dele, mas sim com os aspectos imanentes. Referimo-nos àqueles que podem ser observados na própria construção da obra. Com isso, não se quer afirmar que este tipo de análise abarque todas as complexidades dos textos e que as questões sociais não sejam também elementos construtores de sentido. O fato é que, para a semiótica, o contexto social não representa o mundo das coisas (como se costuma entender nas análises extratextuais), mas sim outros textos que dialogam com o que está sendo analisado. Para a semiótica, os textos são construídos a partir de um percurso gerativo de sentido (que se costuma chamar de plano do conteúdo), que vai do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto.
    um exemplo de semiótica está na obra de Vidas Secas, de Garciliano Ramos.

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  16. Com a passagem de Eco 1991 que define símbolos como sendo "escolhidos por sua capacidade de representar infinitos outros contextos mais ou menos semelhantes" (p. 201), lembrei-me da simbologia atrás da obra de José Saramago – A Caverna, aonde o shopping center da cidade define o rumo da vida das personagens. É no centro comercial aonde as pessoas procuram uma vida melhor com mais conforto e oportunidades, no entanto, elas acabam acorrentadas a um modo de vida no qual são iludidas por anúncios e vitrines, num lugar aonde não há janelas que possibilitem a visão do mundo real. E aí está a Caverna de Platão. Nela, porém a ordem é outra: ao invés das pessoas serem levadas à caverna devido a fatores externos como na obra de Saramago, o ser humano passa a ter a consciência de que aquela caverna em que todos estão acorrentados não corresponde ao mundo real. O símbolo da caverna é o mesmo nas duas histórias, no entanto, ela pode ser representada por contextos diferentes.

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  17. Para esta postagem, é possível trazer à luz a tradição barroca da literatura brasileira, cuja temática “se encontra na grande antítese entre vida e morte” (CANDIDO; CASTELLO, 1982, p. 17). O poeta barroco reflete a passagem do tempo na condição humana – toma a vaidade e o egoísmo como fatores que conduzem o homem ao arrependimento. Dessa essência, “deriva o sentimento da brevidade enganosa da vida, da transitoriedade dos predicados físicos da natureza humana, da fugacidade das coisas.” (Ibid, p. 17).
    Assim, foram escolhidos, para a análise, símbolos presentes em uma das poesias de Gregório de Matos (1636-1696):
    “Desenganos da vida humana metaforicamente”

    É a vaidade, Fábio, nesta vida,
    Rosa, que da manhã lisonjeada,
    Púrpuras mil, com ambição dourada,
    Airosa rompe, arrasta presumida.

    É planta, que de abril favorecida,
    Por mares de soberba desatada,
    Florida galeota empavesada,
    Sulca ufana, navega destemida.

    É nau enfim, que em breve ligeireza,
    Com a presunção de Fênix generosa,
    Galhardias apresta, alento preza:

    Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
    De que importa, se aguarda sem defesa
    Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

    O primeiro símbolo reconhecido na poesia de Gregório de Matos, e talvez o mais convencionalizado, é o da rosa como representação da brevidade da vida e da efemeridade da beleza. A nau, que navega breve, é outro símbolo e pode ser tomada como representação do tempo, que também passa e se esvai (ou “some no horizonte”, como a antiga embarcação). Por fim, a Fênix – ave mitológica imortal que renasce das próprias cinzas e que, com a presunção citada na poesia, funciona como representação da eternidade, desejada pela nau (planta, rosa, vida), mas nunca alcançada.

    Danielle R. Betemps, em 14/01/2014.

    Obra citada:
    CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: I das origens ao Romantismo. 11. ed. São Paulo: Difel, 1982.

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  18. A IMAGEM PERDIDA
    Como essas coisas que não valem nada
    e parecem guardadas sem motivo
    (alguma folha seca... uma taça quebrada...)
    eu só tenho um valor estimativo.
    Nos olhos que me querem é que eu vivo
    esta existência efêmera e encantada...
    Um dia hão de extinguir-se e, então, mais nada
    refletirá meu vulto vago e esquivo...
    E cerraram-se os olhos das amadas,
    o meu nome fugiu de seus lábios vermelhos,
    nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço...
    E, no entretanto, em meio desta longa viagem,
    muitas vezes, parei... e, nos espelhos,
    procuro em vão minha perdida imagem!

    Mário Quintana

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  19. Na noção, de semiótica, apresentada por Umberto Eco de que toda obra é simbólica, acredito que o poema de Manuel Bandeira, Trem de Ferro encaixa-se perfeitamente, pois com palavras que representam o dia-a-dia – café com pão – e outras palavras apresentando uma menina, por exemplo: “Menina bonita/Do vestido verde/Me dá tua boca/Pra matar minha sede”, pode-se perceber uma maquina de ferro, isto é, Manuel Bandeira faz uso do português, misturando várias ocasiões, fatos e paisagens, para dar a ideia à quem lê o poema, de que “aquilo” é um Trem de Ferro. Então não há apenas uma palavra, mas todo o texto é simbólico, pois a compreensão do Trem de Ferro se dá através da leitura de todo o poema, que se completa. Para melhor entender, segue abaixo o texto na integra.
    Trem de Ferro
    Café com pão
    Café com pão
    Café com pão

    Virge Maria que foi isso maquinista?

    Agora sim
    Café com pão
    Agora sim
    Voa, fumaça
    Corre, cerca
    Ai seu foguista
    Bota fogo
    Na fornalha
    Que eu preciso
    Muita força
    Muita força
    Muita força
    (trem de ferro, trem de ferro)

    Oô...
    Foge, bicho
    Foge, povo
    Passa ponte
    Passa poste
    Passa pasto
    Passa boi
    Passa boiada
    Passa galho
    Da ingazeira
    Debruçada
    No riacho
    Que vontade
    De cantar!
    Oô...
    (café com pão é muito bom)

    Quando me prendero
    No canaviá
    Cada pé de cana
    Era um oficiá
    Oô...
    Menina bonita
    Do vestido verde
    Me dá tua boca
    Pra matar minha sede
    Oô...
    Vou mimbora vou mimbora
    Não gosto daqui
    Nasci no sertão
    Sou de Ouricuri
    Oô...

    Vaou depressa
    Vou correndo
    Vou na toda
    Que só levo
    Pouca gente
    Pouca gente
    Pouca gente...
    (trem de ferro, trem de ferro)


    BANDEIRA, Manuel. Trem de Ferro. Disponível em: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/trem.htm. Acessado em: 14 de Jan. 2014.

    ECO, Umberto. O modo simbólico. In: _____. Semiótica e filosofia da linguagem. Tradução: M. Fabris e J. L. Fiorin. São Paulo; Ática, 1991.

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  20. O conto “O machete” de Machado de Assis traz como protagonista um homem que toca violoncelo, que ao fim vê sua mulher o abandonar para fugir com seu amigo que tocava machete (cavaquinho). Ao observar o conto podemos ver que o violoncelo é o símbolo que representa a classe mais altas e com melhor formação na sociedade, ao passo que o machete é símbolo das camadas mais baixas e pobres da sociedade.

    Caroline Ferreira Pinheiro.

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  21. Semiótica é a ciência que estuda os signos e todas as linguagens e acontecimentos culturais como se fossem fenômenos produtores de significado. Ela lida com os conceitos, as ideias, estuda como estes mecanismos de significação se processam natural e culturalmente. Ao contrário da linguística, a semiótica não reduz suas pesquisas ao campo verbal, expandindo-o para qualquer sistema de signos – Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Moda, Gestos, Religião, entre outros.
    "Signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele." (p.58)
    Santaella, L. (1983). O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense.
    A obra Macunaíma de Mario de Andrade deve ser lida através do viés da Semiótica, pois é uma leitura cheia de simbologias como na cena em que Macunaíma e seus irmãos se banham na agua em que embranquece simbolizando as três etnias que formam o povo brasileiro ou na interpretação de que o corpo de Macunaíma representaria o Brasil como um país grande e sua imaturidade estaria simbolizada na cabeça pequena do herói.
    Fabiane Cassana Rosa

    http://www.infoescola.com/filosofia/semiotica
    http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/macunaima

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  22. No livro de Tabajara Ruas “O Amor de Pedro por João”, temos uma representação simbólica já no título da obra.
    O leitor pode se surpreender ao começar a ler e ver que Pedro e João não aparecem na história. Com o decorrer da leitura, perceberão que estes nomes apenas simbolizam que Pedro e João são personagens genéricos, que podem ser quaisquer pessoas, de qualquer sexo e com qualquer nome.

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  23. A Semiótica busca tirar o leitor da sua zona de conforto e fazer refletir sobre o mundo atual.
    A Obra Contos Negreiros de Marcelino Freire...
    As imagens que compõem a capa da obra “Contos Negreiros” de Marcelino Freire (2005), questionam o espaço social, cultural e histórico. Por meio da linguagem é possível refletir sobre a leitura intersemiótica; ao apresentar noções gráficas sobre o texto e epistemologia, esse novo quadro é indispensável às diferentes ciências da linguagem, traz inquietações progressivas para o estudo da língua, por que o texto é uma textura que exprime um fato, que depende do meio a qual se encontra situado.
    Mariane Krüger

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  24. Em Memórias de minhas putas tristes “Era enfim a vida real, com meu coração a salvo, e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz de qualquer dia depois dos meus cem anos”. (2005, p. 127), nesse trecho o autor desfaz a imagem que o leitor cria, através da semiótica, de que o narrador e protagonista queria somente sexo por prazer, mas o leitor passa a ter uma imagem de que realmente ele ansiava por amor com a bela jovem.

    Maristela Cardoso da Rosa

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  25. Poema das sete faces

    Quando nasci, um anjo torto
    desses que vivem na sombra
    disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
    As casas espiam os homens
    que correm atrás e mulheres
    A tarde talvez fosse azul
    não houvesse tantos desejos.
    O bonde passa cheio de pernas:
    pernas brancas pretas amarelas.
    Para que tanta perna meu Deus,
    pergunta meu coração.
    Porém meus olhos
    não perguntam nada.
    O homem atrás do bigode
    é sério, simples e forte.
    Quase não conversa.
    Tem poucos, raros amigos
    o homem atrás do óculos e do bigode.
    Meu Deus, porque me abandonaste
    se sabias que eu não era Deus
    se sabias que eu era fraco.
    Mundo mundo vasto mundo,
    se eu me chamasse Raimundo
    Seria uma rima, não seria uma solução.
    Mundo mundo vasto mundo
    mais vasto é meu coração.
    Eu não devia te dizer
    mas essa lua
    mas esse conhaque
    botam a gente comovido como o diabo.
    Carlos Drummond de Andrade
    Segundo Ecco:
     
    Chamamos DENOTATIVAS às marcas cuja soma (ou hierarquia) constitui e identifica a unidade cultural à qual o significado corresponde em primeira instância e sobre a qual se baseiam as conotações sucessivas. Ao contrário, chamamos CONOTATIVAS às marcas que contribuem para a constituição de uma ou mais unidades culturais expressas pela função sígnica anteriormente constituída. (.....) as marcas denotativas diferem das conotativas apenas enquanto uma conotação deve basear-se uma denotação precedente.
     

    É possível entrever Drummond, no que se refere ao momento histórico em que se situa o Poema de Sete Faces, como um poeta conflituado com o mundo, buscando na própria dialética existencial a explicação do sem-sentido da vida. Seu drama começa ao ser lançado nos adversidades do mundo sob as ordens de um “anjo torto”: anjo que representa as desarmonias entre o poeta gauche e o mundo. Para o gauche visualista, o mundo é um espetáculo que passa, assim como o bonde, à revelia de qualquer indagação ou explicação. Na oscilação entre o real e o irreal, na busca entre essência e aparência é que a cena se movimenta.
    Referencias:
    .filologia.org.br/revista/artigo/
    Priscilla Dutra

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  26. “Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas.”( Livro: O pequeno Príncipe)

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  27. Ó mar salgado, quanto do teu sal
    São lágrimas de Portugal!
    Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
    Quantos filhos em vão rezaram!
    Quantas noivas ficaram por casar
    Para que fosses nosso, ó mar!

    Valeu a pena? Tudo vale a pena
    Se a alma não é pequena.
    Quem quer passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor.
    Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
    Mas nele é que espelhou o céu.
    Fernando Pessoa

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  28. A semiótica define o significado das artes, uma ciência um pouco complexa que vê o significante nos signos das artes em geral. Focada ao conteúdo da obra e não considerando o contexto social como interação do significado e sim dialogando com outras obras.ou seja, considera a intertextualidade e os signos como forma de interpretação.
    Marilene Nunes

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  29. A semiótica permite a compreensão do universo sígnico não verbal bem como dos signos verbais.O símbólico mostra-se na experiência complexa em que o homem organiza sua atividade tornando-a questionável e comunicativa.
    O simbolismo é representado na música de Chico Buarque/ 1971:


    Construção

    Amou daquela vez como se fosse máquina
    Beijou sua mulher como se fosse lógico
    Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
    Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
    E flutuou no ar como se fosse um príncipe
    E se acabou no chão feito um pacote bêbado
    Morreu na contramão atrapalhando o sábado.

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  30. VULGÍVAGA

    Não posso crer que se conceba
    Do amor senão o gozo físico!
    O meu amante morreu bêbado,
    E meu marido morreu tísico!

    Não sei entre que astutos dedos
    Deixei a rosa da inocência.
    Antes da minha pubescência
    Sabia todos os segredos...

    Fui de um... Fui de outro... Este era médico...
    Um, poeta... Outro, nem sei mais!
    Tive em meu leito enciclopédico
    Todas as artes liberais.

    Aos velhos dou o meu engulho.
    Aos férvidos o que os esfrie.
    A artistas, a coquetterie
    Que inspira... E aos tímidos - o orgulho.

    Este caçôo-os e depeno-os:
    A canga fez-se para o boi...
    Meu claro ventre nunca foi
    De sonhadores e de ingênuos!

    E todavia se o primeiro
    Que encontro, fere toda a lira,
    Amanso. Tudo se me tira.
    Dou tudo. E mesmo... dou dinheiro...

    Se bate, então como o estremeço!
    Oh, a volúpia da pancada!
    Dar-me entre lágrimas, quebrada
    Do seu colério carremesso...

    E o cio atroz se me não leva
    A valhacoutos de canalhas...
    É porque temo pela treva
    O fio fino das navalhas...

    Não posso crer que se conceba
    Do amor senão o gozo físico!
    O meu amante morreu bêbado,
    E meu marido morreu tísico!

    Manuel Bandeira.

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  31. O termo Semiótica vem do grego semeiotiké que significa “a arte dos sinais”.
    Ela é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. A semiótica se ocupa do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da idéia; por isso dizemos que ela é mais abrangente que a lingüística, pois esta se restringe ao estudo dos signos lingüísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, ao ponto que a Semiótica tem por objeto qualquer sistema sígnico.

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  32. Semiótica é a produção natural de sentido, independentemente da natureza (verbal, pictórica, etc.) que possibilita tanto a elaboração do referencial histórico do universo de realidade quanto do referencial simbólico do universo imaginário. Corroboro minha leitura com o conto "Teoria do medalhão", de Machado de Assis em que:
    "- Creia que lhe agradeço; mas que ofício, não me dirá?
    - Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão. Ser medalhão foi o sonho da minha mocidade; faltaram-me, porém, as instruções de um pai, e acabo como vês, sem outra consolação e relevo moral, além das esperanças que deposito em ti. Ouve-me bem, meu querido filho, ouve-me e entende. És moço, tens naturalmente o ardor, a exuberância, os improvisos da idade; não os rejeites, mas modera-os de modo que aos quarenta e cinco anos possas entrar francamente no regime do aprumo e do compasso. O sábio que disse: 'a gravidade é um mistério do corpo', definiu a compostura do medalhão. Não confundas essa gravidade com aquela outra que, embora resida no aspecto, é um puro reflexo ou emanação do espírito; essa é do corpo, tão-somente do corpo, um sinal da natureza ou um jeito da vida. Quanto à idade de quarenta e cinco anos..."
    ASSIS, Machado. Teoria do medalhão. In:__. Papéis Avulsos. Livraria Garnier, 2000.

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  33. O método semiótico é estabelecer ligações entre diferentes códigos ou tipos de linguagem. As análises baseadas nessa teoria são úteis, portanto, para revelar as relações do verbal com o não verbal. Nesse sentido, a semiótica auxilia o leitor a compreender as aproximações e distanciamentos entre a literatura e outras manifestações artísticas. Ao dar voz a essas imagens e palavras, segundo Pignatari a arte é o oriente dos signos. As situações práticas da linguagem envolvem, em geral, a atuação simultânea de símbolos, índices e ícones. O leitor precisa ficar atento o diálogo entre a literatura e outros sistemas semióticos. O leitor, portanto, deverá se atentar não só para o texto escrito, mas para imagens, sons, movimentos, expressões corporais e faciais, traços, símbolos. Com isso, ele terá a oportunidade de interagir com outros códigos de linguagem e, consequentemente, envolver-se com outras artes. Um exemplo é a literatura silenciosa que através das entrelinhas que se consegue compreender o texto.
    A literatura silenciosa constitui lugar a partir do qual os indivíduos
    destituídos de voz, por força das desigualdades sociais (e raciais),
    estabelecem a sua auto representação. Ao tecerem as estratégias dessa
    literatura, realizam-se como sujeitos da comunicação, isto é, manejadores de
    códigos através dos quais respiram e colocam em prática seus projetos de
    superação da exclusão social. (p.38)
    (...)
    a expressão literatura silenciosa adquire um significado paradoxal, pois indica
    uma textualidade que está ausente dos espaços literários legitimados, mas que
    ao mesmo tempo, insinua-se como uma presença em potencial. Trata-se de
    uma situação que resulta da construção de uma ausência e de uma presença
    incompletas, ou seja, os discursos que debatem essa textualidade fixam-se
    numa faixa, sem negar de todo a outra. (p.42) (PEREIRA,2OO2)


    PEREIRA, Edimilson de Almeida. (2002). “Canto poemas: uma literatura silenciosa no
    Brasil.

    Eliani Ludwig

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  34. A simbologia existente no capitulo VIII no livro “Don Quijote de la mancha”.
    Este capitulo é um dos mais emblemáticos do livro, pela grande simbologia existente nele existem três passagens importantes neste capitulo, a luta contra os moinhos, a luta contra ao frades e a seguir com o vizcaino .
    Na luta contra os moinhos esta simbolizando a luta pela liberdade do homem contra o poder opressor ( contra os encantamentos), neste caso possivelmente contra a igreja (os braços do gigante, e a igreja por toda Europa) e a inquisição espanhola ( lembrando que Espanha foi o único pais a ter uma inquisição por parte da igreja e outra por parte da monarquia, ambos poderes estabelecidos) e para tal utiliza a lança, já que o homem deve se manter afastado e lutar com todas suas forças e de qualquer forma ( a lança podia ser utilizada por qualquer homem na idade meia ), em prol do bem mais precioso que um homem pode ter” , sua liberdade”,
    Logo trava uma batalha com dois frades que acompanhavam uma comitiva, e atrás deles vinha uma carruagem com duas senhoras as que chamou de princesas, e logo de investir contra eles as liberta dos encantamentos dos frades endiabrados, e trata-as como princesas, novamente utiliza a lança para tal manobra, simbolizando também a lança do soldado romano que perfuro o corpo do cristo (mesma simbologia na investida contra os moinhos)
    Por último seu encontro com o “vizcaino”, que se bem inicia sua investida com lança, quando reconhece no outro um cavalheiro, muda a arma pela espada ( somente utilizada por cavalheiros), já que ela simboliza a retidão de caráter, honra e virtudes que um homem não deve perder jamais, e devem guiar-lhe durante toda sua vida.
    Este importante jogo de troca de armas dita a natureza de suas lutas e as diferentes necessidades que ela suscita no individuo, é que embora devamos lutar com honra, existem inimigos que não são merecedores de tal privilegio, mas, quando se trata de lutar por Liberdade, todo homem tem o direito de fazê-lo.

    Edgardo Piriz Milano

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  35. Em Os limites da interpretação (1990), Umberto Eco sustenta a teoria de que as criações literárias necessitam da colaboração dos que as lêem para serem compreendidas. Nesse sentido, a experiência individual do leitor é que dá o rumo para as diferentes interpretações que pode ter a obra.
    Uma obra clássica que evidencia a variedade de interpretações, tendo em vista a simbologia utilizada, o que a tornou atemporal, é 1984 de George Orwell. Em 1949, quando foi publicada, a obra foi tida como uma crítica às ditaduras nazi-fascistas da Europa, cujos crimes ainda ecoavam na sociedade da época. Já nos Estados Unidos, a interpretação dos símbolos utilizados foi outra: a crítica foi dirigida ao comunismo da hoje extinta União Soviética, época sob o poder tirano de Stálin. Entretanto, tendo em vista os símbolos atemporais utilizados pelo autor, a obra supera todas as conjunturas históricas, sendo ainda hoje, uma fonte de reflexão ficcional sobre todas as formas de poder totalitário.

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  36. Entregarei em aula.

    Lilian Cristine M. Bizarro

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  37. A Semiótica de Peirce não é considerada um ramo do conhecimento aplicado, mas sim um saber abstrato e formal, generalizado. Segundo este autor, as pessoas exprimem o contexto à sua volta através de uma tríade, qual seja, Primeiridade, Segundidade e Terceiridade, alicerces de sua teoria. Levando em conta tudo que se oferece ao nosso conhecimento, exigindo de nós a constatação de sua existência, e tentando distinguir o pensamento do do ato de pensar racional, ele chegou à conclusão de que toda experiência é percebida pela consciência aos poucos, em três etapas. São elas: qualidade, relação – posteriormente substituída por Reação - e representação, trocada depois por Mediação.
    Peirce preferiu, porém, por critérios científicos, usar os termos acima citados, Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. A primeira qualidade percebida pela consciência é uma sensação não visível, tênue. É tudo que imprime graça e um colorido delicado ao nosso consciente, aquilo que é presente, imediato, o entendimento superficial de algo. O segundo atributo é a percepção dos eventos exteriores, da matéria, da realidade concreta, na qual estamos constantemente em interação. É a compreensão mais profunda dos significados.
    A terceiridade refere-se ao estrato inteligível da experiência, aos significados dos signos, à esfera da representação e da simbolização. Neste âmbito se realiza a elaboração intelectual, a junção dos dois primeiros aspectos à sua vivência, ou seja, ela confere à estruturação dos dois primeiros elementos em uma oração o contexto pessoal necessário.

    Exemplo de obra: O Retrato de Cecília Meireles.

    Eu não tinha este rosto de hoje,
    assim calmo, assim triste, assim magro,
    nem estes olhos tão vazios,
    nem o lábio amargo.
    eu não tinha estas mãos sem força,
    tão paradas e frias e mortas;
    eu não tinha este coração
    que nem se mostra.
    eu não dei por esta mudança,
    tão simples, tão certa, tão fácil:
    - em que espelho ficou perdida
    a minha face?

    Cecília Meireles tem como tema mais constante em suas obras a precariedade da existência humana e da vida. Sua poesia parece desejar por atingir um mundo atemporal e imaterial em que a relatividade não existe e tudo é absoluto. Daí o desprezo pela matéria como algo que impede a perfeição e a plenitude da alma. São alguns desses temas que se encontra no poema Retrato, o qual o eu poemático faz um retrato de si mesmo, mostrando o antes e o depois do passar do tempo, assim mostra a fuga do tempo e da vida. E como menciona, é uma mudança tão simples, tão certa, tão fácil. Na verdade tão rápida que, quando abrimos os olhos percebemos que não somos mais crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos.. Não existimos mais. Tudo isso é retratado em um tom melancólico, mas que não atinge um desespero.

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  38. "Você vale pelo que diz, diz pelo que pensa, pensa pelo que lê"

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  39. CRÍTICA LITERÁRIA
    SEMIÓTICA

    A fim de evidenciar a representação humana em obras literárias, Decidiu-se que o tema Semiótica será observado na obra “Manon Lescaut” do abade Prévost originalmente escrito em língua francesa.

    Eis a passagem: Renoncour se encontra pela primeira vez com a bela Manon:
    “J'entrai avec peine, en perçant la foule, et je vis, en effet, quelque chose d'assez touchant. Parmi les douze filles qui étaient enchaînées six par six par le milieu du corps, il y en avait une dont l'air et la figure étaient si peu conformes à sa condition, qu'en tout autre état je l'eusse prise pour une personne du premier rang. Sa tristesse et la saleté de son linge et de ses habits l'enlaidissaient si peu que sa vue m'inspira du respect et de la pitié.”

    Percebe-se que as condições em que se encontravam as “garotas de alegria” (termo utilizado para designar as jovens que eram levadas a força, apesar do consentimento dos pais, para os Estados Unidos no século XVIII a fim de se casarem com os homens já lá estavam estabelecidos no intuito de fundar uma família) eram deploráveis (“acorrentadas seis a seis pela cintura”) como se fossem seres humanos inferiores ou criminosas. Nota-se que este fato não “toca” o narrador, o que já causa estranheza para o leitor inserido em paradigmas contemporâneos, porém é uma das jovens (a sedutora, mulher fatal, Manon) que impressiona este personagem. A ausência do qualitativo “linda” ou “bonita” para descrever objetivamente Manon, tanto neste trecho quanto na totalidade da obra, dá margem a perceber que a linguagem do narrador é rebuscada caracterizando-o como um homem culto.

    Quanto ao aspecto social de prestígio, a passagem “... havia uma (garota) cujos ar e fisionomia eram tão pouco conformes à sua condição...” não se limita a mencionar que a garota era de fato especial por se destacar pela beleza, mas também por ela se portar como uma mulher oriunda de um berço de ouro, de uma família de condições respeitáveis e admiráveis (“... que em outro estado, eu a teria considerado como uma pessoa da primeira classe.”). O narrador se refere “em outro estado” por reconhecer que as suas condições (apenas a dela) eram incabíveis. No mais, o narrador insiste no fato de sua beleza especial por meio de recursos estilísticos cultos: “A tristeza e a sujeira de seu lenço e de sua roupa nem a deixavam feia que a sua vista me inspirou respeito e piedade”.

    Por meio da teoria da Semiótica, são perceptíveis este indício de barbárie contra a integridade humana e de sutileza nos recursos linguísticos da língua para dizer o não-dito, dando condições ao leitor de identificar os pensamentos e os sentimentos particulares do sujeito modal (narrador), conforme terminologia de Auroux (1988) citando Charles Bally (primórdios da teoria da enunciação).

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  40. De acordo com a semiótica, o texto é muito mais do que simplesmente analisar palavras, o texto depende de sentidos que vão sendo construídos de acordo com o contexto da sociedade e com o discurso escolhido para ele, o texto é muito mais complexo.
    Para exemplificar este tipo de construção de sentido da narrativa, buscou-se o famoso romance de Graciliano Ramos “São Bernardo”. É um romance em primeira pessoa que se torna diferente de outros por ser uma obra em estilo psicológico que trabalha com a ascensão e a decadência de Paulo Honório, que narra sua vida objetivando as questões sócias da época e todos os problemas encontrados por ele, sua vida social é marcada pela sua ganância. No desenrolar da narrativa conseguimos perceber o momento exato de sua ascensão e de sua decadência através da forma como o sentido da trama é construído, a decadência econômica e individual provocada pela ganância. O texto demonstra como a vida de uma pessoa pode ser transformada pelo meio social, como as hierarquias afetam o meio e fazem com que os seres almejem princípios que não faziam parte de suas vidas, neste caso de Paulo Honório, a questão que impera é o individualismo, uma das marcas do personagem que ao final se vê incapaz de buscar sentido para sua vida.
    RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 2001

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  41. Vivemos numa sociedade de símbolos, e a literatura como outro ramo do conhecimento expressa conceitos ou transforma realidades para ser mais inteligível sob a forma de símbolos. Assim Graciliano Ramos ao sair da prisão durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) à pedido do Partido Comunista escreve uma obra intitulada Infância em que relata sua realidade de infância triste e oprimida sob a figura paterna imerso numa família patriarcal onde o poder era exercido de forma discricionária e absoluta. Foi a forma encontrada para tratar de questões que vivenciou durante sua prisão na Ilha Grande de forma simbólica, onde podia discutir igualmente sua realidade sob um outro contexto.

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  42. No livro o exército de um homem só de Moacyr Scliar é citado na pág.142: " Os quatro ficam rindo dele; não o perseguem; invés disto ficam jogando futebol com o crânio do companheiro porco." Esta passagem se dá no ano de 1970. ou seja o autor usa o contexto de sua história para comentar os efeitos de uma certa latência sobre a sociedade brasileira, politicamente instável, que a copa do mundo de futebol produziu.
    Márcio Everson

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  43. Nas ondas da praia
    Nas ondas do mar
    Quero ser feliz
    Quero me afogar.

    Nas ondas da praia
    Quem vem me beijar?
    Quero a estrela-d'alva
    Rainha do mar.

    Quero ser feliz
    Nas ondas do mar
    Quero esquecer tudo
    Quero descansar.

    (Estrela da Manhã)

    Manuel Bandeira

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  44. “A rua assim, com as casas todas fechadas, parece outra. Já não se vê mais nas partes altas dos sobrados aquela faixa alaranjada e distante. Não é que o sol já haja entrado; lá ainda está aquela moeda em brasa, a dois palmos acima do horizonte, mas por tal forma envolvida na ‘evaporação’, que a sua luz já desapareceu de todo.

    Com as portas cerradas, assim silenciosas, mudas, as casas e as ‘firmas’ assumem um caráter de maior respeito, de maior importância... As firmas, que ele vai lendo escritas nas paredes ou nas placas de metal, soam diferente, com outro prestígio... Souza, Azevedo & Co... SOUZA... AZEVEDO... & CO... É de estarem as casas fechadas, eretas, mudas.” (MACHADO, 2010, p. 89)

    Na passagem citada acima, extraída do romance Os Ratos, de Dyonélio Machado, a descrição da cidade ao anoitecer faz uma associação importante. A linguagem utilizada para relatar a experiência de Naziazeno ao perambular pelas ruas já vazias simboliza ou configura uma imagem da cidade como organização maior, uma criatura indestrutível. Essa cidade é fruto dos esforços dos indivíduos e movida pelos importantes estabelecimentos que de seu corpo fariam parte, os quais só se mantêm pelo dinheiro, representado no sol que se põe como a “moeda em brasa”. A imponência e o silêncio dessa construção coletiva que é a cidade, mesmo quando a atividade comercial acaba e seus cidadãos se recolhem, faz com que ela seja, no relato da experiência, moldada como um órgão maior e imperecível que intimida o indivíduo. Dela o cidadão depende e a ela deve se conformar, pondo seus próprios esforços para que o dinheiro, sangue desse enorme organismo, continue a circular, garantindo a sobrevivência do indivíduo e da coletividade.

    Thais Barbieri
    16/01/2014 – 20:10

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  45. Lido! Entrego meu comentário em aula amanhã. (:

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