quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Psicanálise, imaginário, inconsciente, devaneio e literatura







Com base na citação de Sigmund Freud e levando em consideração as suas reflexões sobre o determinismo psíquico, comente o  fragmento abaixo:
"Presumo que esse desconhecimento consciente e esse saber inconsciente da motivação das causalidades psíquicas sejam uma das raízes psíquicas da superstição. Porque o supersticioso nada sabe da motivação de seus próprios atos casuais, e porque o fato dessa motivação pressiona pela obtenção de um lugar no campo de seu reconhecimento, ele se vê forçado a situá-la, por deslocamento, no mundo externo. Se existe tal conexão, ela dificilmente estará limitada a esse caso singular. De fato, creio que grande parte da visão mitológica do mundo, que se estende até as mais modernas religiões, nada mais é do que a psicologia projetada no mundo externo." (FREUD, Sigmund. Psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Imago, 1987, p. 223)

A mitologia e o imaginário se confundem na abordagem de Gaston Bachelard. Seus devaneios sobre o devaneio - parafraseando o título do capítulo da obra A poética do devaneio - partem de aspectos da mitologia e seus referenciais para possíveis leituras e relações com o cotidiano, levando em consideração aspectos presentes nos estudos freudianos. Responda, procurando fazer relação com algum exemplo literário, a seguinte pergunta formulada por Bachelard:
"Pelo devaneio acreditamos descobrir numa palavra o ato que nomeia. 
As palavras sonham que as nomeemos
escreve um poeta. Querem que sonhemos nomeando-as. E isto simplesmente, sem cavar o abismo das etimologias. Em seu ser atual, as palavras, acumulando sonhos, fazem-se realidades. Que sonhador de palavras poderia deixar de sonhar quando lê estes dois versos de Louis Émié: 
Uma palavra circula na sombra
e faz inflar as cortinas.
Com esses dois versos, gostaria de fazer um teste da sensibilidade onírica que toca a sensibilidade na linguagem. Eu perguntaria: você não acredita que certas palavras encerram uma sonoridade tal que chegam a ocupar espaço e volume nos seres do quarto? Portanto, que é que de fato inflava as cortinas no quarto de Edgar Poe: um ente, uma recordação ou um nome?" (BACHELARD, 2001, p. 47-48).

60 comentários:


  1. Psicanálise, imaginário, inconsciente, devaneio e literatura
    Será que ainda há o que discutir à cerca de tudo que já foi dito, descoberto, comprovado, analisado e concretizado por Freud?
    Na Grécia antiga houve um caso que foi objeto de estudo para o psicanalista anos e anos mais tarde. Tragédia grega, que conhecemos por “Édipo Rei”, que começa falando do rei de Tebas, Laios preocupado por não conseguir ter filhos procura um oráculo que lhe anuncia a tragédia... filho de Jocasta irá matar-lhe e a desposará... mais tarde eles têm um filho (por traição de Jocasta que o entorpeceu para ter-lhe em seus braços), porém Laios manda matar essa criança que é salvo e entregue para outro rei, Polibo, dão ao menino o nome de Édipo, este quando alcança idade adulta vai em busca de uma consulta com o oráculo que anuncia que ele será motivo de desgraça em sua família, Édipo desorientado sai de casa para não causar mal a seus pais, ao invadir outro reino depara-se com Laios que ordena que ele saia de seu reino, Édipo resiste lutando e acaba matando Laios sem saber que este era o Rei. Ao tomar o reino casa-se com Jocasta e com ela tem quatro filhos, quando toda verdade vem a tona por conta de uma carta escrita pela mãe adotiva de Édipo, que o rei que ele matou era na verdade seu pai e Jocasta sua legitima mãe novas desgraças recaem sobre o reino, Jocasta se mata e Édipo cega-se com um broche da rainha e sai a vagar.
    Essa tragédia tornou-se objeto de estudo para Freud que aprofundando-se na mente humana nos mostrou que o nosso inconsciente tenta trabalhar a nosso favor mas nem sempre consegue, no caso do “complexo de Édipo” como ele nomeou esse acontecimento da mente humana, “a psicanálise entende que há uma estreita e profunda relação sentimental entre mãe e filho que gera um prazer inconsciente.”
    Édipo em sua consciência havia saído de seu lar para evitar tal desgraça, porém a profecia havia de se concretizar em seu caminho cruzou seu verdadeiro pai, e veio a matá-lo, sua verdadeira mãe e veio a desposá-la... No seu inconsciente já havia um amor por aquela mulher (maternal) só que não reconhecido, por fim acabou como acabou.
    No entanto os estudos não param por aí em um outro texto “O Inconsciente e as condições da uma autoria” (SOUZA, p. 227). Vem nos falar que um outro pensador que tem se dedicado aos estudos sobre autor e obra é o poeta Frances René Passeron, ele faz uma relação entre o criador e sua obra que ele nomeia de “conduta produtiva”, ressalto uma de suas características “uma produção que compromete o autor”. Dando um exemplo que essa teoria possa ser rebatida ou consolidada, as obras de Caio Fernando Abreu, sabemos gay, escreveu na época da ditadura, onde falava-se “mal” da sociedade entre linhas, numa época de censuras a liberdade de expressão, mas será que suas obras o apontavam como gay, ou que ele estivesse falando “mal” da sociedade e da política? Não, não temos como colocar o autor dentro de sua própria obra a menos que ele tenha deixado isto claro.

    BIBLIOGRAFIA:
    http://www.brasilescola.com/filosofia/a-tragedia-edipiana-complexo-Edipo.htm
    SOUZA, Edson Luiz, O inconsciente e as condições de uma autoria.

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  2. Freud, ao criar a psicanálise pinçou da dramaturgia do grego Sófocles o herói Édipo, o qual usou como exemplo paradigmático do que ocorre a todos os mortais. Em sua obra, pode-se perceber a quantidade de citações que fez, notadamente, de seus dois autores preferidos: Goethe e Shakespeare. Ele aproveitava as falas dos personagens para exemplificar suas idéias, porque já havia percebido que todo grande escritor, em suas obras, fazia de seu personagem um porta-voz do desejo inconsciente.
    Freud sempre deu relevo à articulação entre psicanálise e literatura, considerando inclusive os três grandes gêneros – teatro, romance e poesia – como outros dialetos do pensamento inconsciente. Através da arte, o ser humano dá a perceber seus mais recônditos desejos de grandeza e onipotência. Através dessa expressão indireta – a literatura –, pode satisfazer seus desejos soterrados, recalcados, evidenciando a dificuldade em renunciar a eles.
    As obras de Shakespeare, como as de Dostoiévski, são consideradas obras-primas da literatura na medida em que, com sua linguagem metafórica, podem, de forma esteticamente apurada, presentificar o inconsciente, justificando e valorizando o processo interpretativo que vem dar alguma inteligibilidade ao sofrimento humano. São autores desse quilate que permitem a aproximação entre literatura e psicanálise já que ambas podem, através da uma relação dialógica, promover a prática da dúvida em permanente confronto com a pretensa univocidade do sentido. É através dessa realidade dada aos personagens, notadamente aos personagens trágicos, já que são os mais representativos, que podemos interpretar, na dimensão do inconsciente, o que acontece a todos os homens.
    É a verdade da incompletude do ser que a psicanálise descobre na literatura, impossibilitando uma relação de adequação entre as palavras e as coisas, mostrando a impossibilidade de uma perfeita correspondência entre a linguagem e a realidade da qual fala. É esse outro saber que o autor criativo pode apresentar, saber que aparece através das fantasias, da poesia e dos romances e que pode ser interpretado como uma verdade sempre parcial, associada ao desejo em permanente deslocamento metonímico através de objetos substitutivos.
    Freud disse que não havia sido por acaso que três obras-primas da literatura universal, Édipo Rei, de Sófocles, Hamlet, de Shakespeare e Os irmãos Karamassovi, de Dostoiévski, tratavam de um mesmo assunto, o parricídio. E, em todas elas, a motivação para o assassinato teria sido a rivalidade sexual por uma mulher.
    Bachelard em A poética do Devaneio retoma a problemática dos impulsos psíquicos manifestos pelo inconsciente, contrapondo-se a idéia de que a poesia se constitui, basicamente, de causalidade e liberação, como justifica a teoria da sublimação das paixões e dos desejos na visão psicanalítica do fenômeno criador mediante abordagem freudiana. Para Bachelard, a imagem poética aparece como um novo ser da linguagem, não podendo ser comparada a uma metáfora comum que serve de instrumento para liberar instintos recalcados. Nesse sentido, o filósofo reflete que a poesia é um dos destinos da palavra, e quando se busca a tomada de consciência da linguagem ao nível dos poemas, atinge-se uma ingenuidade maravilhante capaz de elevar o espírito de modo a tocar o homem da palavra nova, em suas palavras: “Tentando sutilizar a tomada da consciência da linguagem ao nível dos poemas, chegamos à impressão de que tocamos o homem da palavra nova, de uma palavra que não se limita a exprimir idéias ou sensações, mas que tenta ter um futuro. Dir-se-ia que a imagem poética abre um porvir da linguagem”

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  4. A psicanálise se contenta em definir as imagens por seu simbolismo. Mal é detectada uma imagem pulsional, mal é descoberta uma lembrança traumatizante, a psicanálise coloca o problema da interpretação social. Omite-se todo um campo de pesquisas: o próprio campo da imaginação. Ora, o psiquismo é animado por uma verdadeira fome de imagens. Ele quer imagens. Em suma, sob a imagem, a psicanálise busca a realidade; omite a investigação inversa: sobre a realidade buscar a positividade da imagem. É nessa investigação que detectamos essa energia de imagem que é a própria marca do psiquismo ativo. (BACHELARD, 1991:17). Para Bachelard, esses elementos passam a constituir a energia primordial da imaginação, movimentando as forças psíquicas do indivíduo na sua relação com o mundo material sendo, portanto, os arquétipos da psique humana. A imaginação positiva ou negativa se refere ao inexistente, possui graus, ou seja, pode haver falta ou excesso. Em Branca de Neve e os Sete Anões podemos perceber a presença do imaginário, da identidade, da beleza, da bondade e a superação da maldade. Branca de Neve nasceu como desejou sua mãe: linda e branca como a neve. Assim, a imagem criada através do anseio da mãe, se tornou real. Deste modo, a beleza da menina já estava no inconsciente materno.

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  5. PSICANÁLISE, IMAGINÁRIO, INCONSCIENTE, DEVANEIRO E LITERATURA

    Comentando a citação de Sigmund Freud extraída da obra Psicopatologia da vida cotidiana, torna-se relevante comentar sobre a luta constante do aparelho psíquico entre o Ego (o desejo) e Superego (as restrições), devidamente mediada pelo ID (o mediador).

    "Sem o conhecimento da verdade não se muda nada" (CANDIDO, 1999: 6) vai ao encontro da presunção de Freud quanto ao "desconhecimento consciente" que, juntamente com o saber inconsciente da motivação das atitudes por este justificadas, as superstições se instauram.

    O meio, por motivos e causas diversos, impõe uma moral dogmática aos quais os indivíduos devem se moldar e que, ao decorrer dos tempos, tende-se a ser tornar cultural a um povo (as inúmeras e curiosas superstições dos Turcos oriundos de uma nação ainda não islamizada, por exemplo).

    Estes arquétipos junguianos, ou seja, este "consciente do inconsciente coletivo", são absorvidos pelo superego dos indivíduos exposto a certos tipos de discursos
    de maneira inquestionável (logo, sem reflexão, que vai contra o princípio sartriano existencialista).

    Logo, as atitudes dos seres humanos se moldam a estes conceitos e preceitos que, pelo aparelho psíquico, são regulados podendo gerar ainda mais conflitos se influenciados por discursos "libertadores" que causem reflexões ou contatos com outras "verdades".

    Quanto à "poética dos devaneios" de Bachelard, torna-se relevante citar que o não-dito seguido de um dito causa, frequentemente, um sentimento de "inflar as cortinas". Eis um exemplo oriundo da obra "l'étranger" de Albert Camus (1942), quando Marie percebe, num banho público, que Meursault estava de luto decorrente da morte de sua mãe:

    "Quando nós nos vestimos, ela aparentou estar bastante surpresa por me ver com uma gravata preta e ela me perguntou se eu estava de luto. Eu lhe respondi que minha mãe havia morrido. Já que ela queria saber quando, eu lhe respondi ´ontem.´ Ela recuou um pouco, mas não fez nenhuma observação. [...] À noite, Marie havia esquecido tudo."

    Marie ficou, de alguma forma, chocada com a cena de um ex-colega de trabalho ter ido nadar um dia após o enterro de sua própria mãe. Percebe-se que a simbologia de uma gravata preta, conforme teoria de Gadamer sobre Semiótica, instaurou uma curiosidade por parte da colega de Meursault. No entanto, ela não imaginaria nunca que a Senhora Meursault havia morrido há tão pouco tempo. O recuo discreto de Marie, porém percebido pelo narrador, se sucedeu por um conflito psicológico inevitável em virtude de um enunciado "absurdo" aos paradigmas sociais na qual a obra está circunscrita.

    Este conflito interno de Marie produziu um "não-dito" que está em sincronia com o "inflar da cortina" citado por Bachelard realizado pelo "absurdo" existencialista de Camus.

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  6. Freud, no seu Determinismo Psíquico, diz que não há um pensamento independente de outro. Que sempre há uma continuidade de pensamentos e que cada ato mental é precedido por uma intenção consciente ou inconsciente.
    A respeito do “inflar as cortinas”, acredito que seja a força da palavra, que incorporada ao quotidiano crie vida, tem o poder de mover e de mudar. Afinal, a palavra faz parte do ser humano.
    No livro que estou lendo, e que está me impressionando “ O queijo e os vermes” do Carlo Ginzburg, tem uma parte que fala “...não se pode pronunciar uma palavra sem o sopro do espírito [...] não podemos pronunciar uma palavra sem a respiração e por isso se fala no espírito da boca e espírito dos lábios...”

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  7. Utilizo para este post o livro de Carl JUNG Psicologia e religião para analisar do ponto de vista psicológico o personagem Hermano em Mãos de Cavalo de Daniel Galera.
    Toda a problemática da memória tal como num testemunho real dado por uma pessoa sobre eventos da sua vida de há muito guardados necessita obviamente passar por alguns filtros, ou quando possível passar pelo confronto com outras memórias de modo a melhor complementar o quebra-cabeça. E se tais confrontos já se mostram problemáticos quando reconstituímos uma pessoa ou evento a partir das lembranças de outros, torna-se muito mais difícil quando analisamos um evento ou um personagem partindo unicamente do material que ele nos fornece acerca de si mesmo ou dos eventos que afirma ter vivenciado.
    O paralelo com a psicanálise aqui é válido. Um terapeuta (crítico literário ou leitor) não utiliza tanto o material que seu paciente (o narrador) fornece ao falar sobre si mesmo (discurso) ou aquilo que relata (texto), mas também e principalmente os lapsos, atos falhos, silêncios, entonação, ênfase, entre outros fenômenos da comunicação presentes no discurso do paciente no momento em que fala sobre si mesmo (intertextualidade).
    O ato de covardia de Hermano durante sua juventude, torna-se o eixo de complexibilidade deste personagem, suas escolhas e a obsessão em ajustar as contas com um passado ao mesmo tempo tão presente e do qual não consegue se desvencilhar. “Inúmeras vezes, nos últimos anos, tinha interrompido seja lá o que estivesse fazendo pra procurar o primeiro local reservado e encolher os ombros, cerrar os punhos, socar paredes e às vezes até libertar uma ou duas lágrimas com o desejo de que fosse possível voltar no tempo e defender o Bonobo do espancamento que resultou na sua morte, nem que isso implicasse a sua própria morte, porque era a coisa certa a fazer, a atitude que o homem que ele gostaria de ter sido teria tomado naquelas circunstâncias, à revelia das conseqüências” (Mãos de Cavalo p.176) Essa angustia perdurará até o momento certo onde pode finalmente se encarar, encarar o passado e escalar sozinho o Cerro Bonete.
    Em Galera quem reconta a cena do ajuste de contas com o passado é o próprio narrador e como tento argumentar é um personagem previsível, que num dado momento ao invés de se dirigir para a casa de Renan a fim de irem juntos escalar o cerro Bonete no altiplano boliviano conforme tinham de há muito combinado, toma uma rota inesperada, desvia do traçado original e se dirige ao bairro de sua adolescência e “reconhece de imediato que rua é aquela” (p.148) quando avista um grupo de adolescentes perseguindo um jovem exatamente no mesmo local onde Bonobo havia sido morto ao cair num buraco cavado para a colocação de um poste de iluminação pública “consegue enxergar dois postes refletidos no espelho retrovisor. Qual dos dois seria?” (p.148) e ai tem curso a cena de enfrentamento de Hermano contra o bando de adolescentes.
    Tal cena, nesse somatório improvável de coincidências (mudança de rota, passagem casual pelo bairro, local onde Bonobo foi morto, grupo de adolescentes agressores) acontece realmente na imaginação do narrador. Mas mesmo sendo uma experiência psíquica não quer dizer que seja menos real, já que conforme Jung “a única forma de existência da qual temos conhecimento imediato é a psíquica” (p.14) e mais adiante ao não separar de forma estanque o que é objetivo (realidade que pode ser aferida por instrumentos e é presentificada de forma semelhante por diferentes indivíduos) e o subjetivo (forma de realidade que existe somente na mente de um único indivíduo) Jung afirma: “se um homem imaginasse que eu sou seu pior inimigo e me matasse, eu estaria morto por uma mera fantasia. As fantasias existem e podem ser tão reais, nocivas e perigosas quanto os estados físicos.” (p.14)

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  8. continuação1
    Essa forma encontrada pelo narrador para ter uma segunda chance de “salvar” Bonobo e por consequência a si mesmo, sem que o texto saia da realidade, sem intervenção divina ou de algum fator que coloque em descrédito o conjunto da narrativa, que nesse ponto dá uma volta sobre si mesma mantendo o mesmo tom realista.
    Abordamos aqui a previsibilidade do personagem, sua responsabilidade e toda a construção narrativa até este momento aponta na direção de que realmente Hermano irá à casa de Renan e juntos partirão para a Bolívia afim de escalar o Cerro Bonete. Não há nenhum indício que outro curso narrativo terá lugar. Nenhum indício que o personagem terá uma segunda chance de se redimir do passado.
    Mas os acontecimentos vão se sucedendo como numa sequencia cinematográfica e o personagem Hermano “vê a cena toda do alto” (p.149) a comparação com o personagem de Mad Max é o mote utilizado no texto. Um herói solitário enfrentando forças e inimigos numericamente superiores. É uma fantasia recorrente no imaginário de muitas pessoas e presente em várias narrativas. Este tema, esta fantasia, leva as pessoas comuns a se identificarem com grupos de bravos idealistas que a custa de sua própria vida defendem os ideais que acreditam mesmo quando completamente cercados ou quando as chances de vitória são diminutas desde os 300 do espartano Lêonidas até Luke Skywalker.
    Hermano afirma “faz tempo que não se entrega a fantasia com tanta vontade” (p.153) e que fantasia é essa senão aquela que tem acalentado durante 15 anos, a fantasia da segunda chance, de provar seu valor diante de si mesmo enfrentando seus fantasmas, escalando o seu Cerro Bonete já que ninguém além dele conhece o que realmente ocorreu na noite em que Bonobo foi morto. Faz parte da escalada ao cume do Cerro “a noção de que na verdade é um homem solitário e renegado que está abandonando todas as conexões com sua vida passada pra buscar algo em suas origens, dirigindo seu veículo por uma terra hostil até que o acaso lhe dá a oportunidade de fazer justiça com sua bravura.” (Mãos de Cavalo p.154)
    Após a cena do enfrentamento e dando a tarefa por concluída Hermano responde à Renan durante a conversa telefônica “Já fui pro Bonete e já voltei” (Mãos de Cavalo p.155). A própria maneira como Hermano encara ao garoto ao qual acabou de salvar é textualmente a descrição de si mesmo “tem a impressão de que está encarando a si mesmo quinze anos atrás. É como se o garoto fosse uma versão dele próprio que reagiu de maneira diferente a um certo episódio que ele faz de tudo pra não lembrar, mas lembra, em flashbacks com cortes rápidos” (Mãos de Cavalo p.157) Essa projeção no outro, ou a reconstituição da cena em seu interior de modo a permitir o acerto de contas com o passado de forma alguma empobrece o personagem ou a própria narrativa, pelo contrário trás em si um germe de complexibilidade possibilitando aos leitores novos problemas e uma problematização maior da literatura brasileira contemporânea.

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  9. continuação 2 final
    A partir da fala do narrador outros problemas sobre a memória são levantados, servindo ao mesmo tempo para confirmar o que já foi dito acima sobre a reconstituição de um passado, ou de um evento a partir da memória, bem como colocar algumas interrogações sobre o personagem Hermano dizer a verdade.
    Adiante no texto Hermano afirma não saber o nome de nenhum amigo do tempo em que morava no bairro Esplanada. “Todo mundo se chamava só por apelidos” (Mãos de Cavalo p.157) e “Engraçado que só os meus amigos tinham apelidos, mas as gurias nunca” (Mãos de Cavalo p.158). Seria isso um problema de memória (ou da falta dela) ou uma pista para aumentar ainda mais os cuidados com aquilo que está nos contando? Digo isso porque na página 33 aparece Morson Manera, nome e sobrenome de um de seus amigos e a mesma coisa se repete na página 86 com Wagner Montes. Tais indicações servem de indícios para colocar sob suspeita aquilo que o narrador está contando, afinal tal erro não partiu de Daniel Galera enquanto autor ou por um problema de revisão editorial, mas foi colocado no texto da forma em que se encontra justamente para nos dizer algo.

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  10. Deliberadamente não respondi às questões propostas no início do post, entretanto, mesmo assim julgo que minhas postagens sobre o tema não fogem ao tópico proposto sobre psicologia e literatura. Ou fogem?

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  11. Levando em conta as discussões em aula acerca da psicanálise, podemos comentar:
    - a respeito da citação de Freud - o psicanalista fala sobre o inconsciente do indivíduo, ou seja, aquilo que não compreendemos, ou melhor, está além do inconsciente e faz com que nossas ações sejam de determinadas maneira. Algumas de nossas ações e complexos podem ser manifestadas através dos sonhos, por exemplo, e essa seria uma maneira de "tornar isso consciente". Nosso consciente faz com que nossas ações sejam determinadas pelo que é social, que aquilo que pensamos e inferimos esteja relacionado, ainda que implicitamente, com o que vivemos.
    - a respeito de Barchelard - a psicanálise, relacionada a literatura, está ligada aos estudos da imagem e o que ela representa em uma obra, ou seja, o que representa um chama, o fogo, ou ainda, o frio em um poema. Freud, entre outros psicanalistas, utilizam em muitos momentos a mitologia para explicar tais hipóteses, fazendo relação com deuses e suas representações, analogias entre o que é físico e o que é psíquico. Podemos citar, por exemplo, os poemas de Alvares de Azevedo. Ainda que seja o momento do romantismo na literatura brasileira, temos várias relações com a morte, o amor forte, "ardente" do eu-lírico. No primeiro verso do poema Amor , temos: E na tua palidez / E nos teus ardentes prantos / Suspirar de languidez! (três últimos versos). A relação entre ardente e prantos, por exemplo, reforça aquilo que é doloroso e sofrido.

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  12. Quanto à atribuição de causalidade esta “(..)refere-se ao ato de atribuir causas às situações que ocorrem consigo próprio e com os outros. Esse comportamento é concebido como algo inerente ao ser humano, uma vez que as pessoas têm necessidade de saber como ocorrem os eventos em sua vida, de tal modo que possam prever, controlar e alterar o seu destino (Heider, 1958; Weiner, 1985).”
    (http://www.google.com.br/urlsa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=6&ved=0CEoQFjAF&url=http3A2F2Fwww.uel.br2Frevistas2Fuel2Findex.php2Feip2Farticle2Fdownload2F106422F9332&ei=LR7dUoaXL82EkQfNzIDYDg&usg=AFQjCNFnBd2FvTm2fCktSG_EUFtu3qHY0Q)

    Referente à superstição “(...)Freud supõe que "esta ignorância consciente- ewusste Unkentnks - e este conhecimento inconsciente- wtkewusste Ksntniss - do aceso psíquico é que são as raízes psíquicas da superstição” Já que o supersticioso ignora as motivações do acaso psíquico, e já que estes fatos precisaram de reconhecimento, ele se vê forçado a localizá-los no mundo externo. Aí estão os mitos e as religiões. A construção de uma realidade extra-sensorial –uberstnniinch- cheia de sentido, será substituída pela psicologia do inconsciente e a metafísica se transformará em metapsicologia. (8)


    Retomando os termos, podemos dizer que o supersticioso, sem crença, coloca sua crença em qualquer acaso, conectando-o com fatos coexistentes. É preciso transformar o acaso em cadeia de sentido, com o que é construído um saber.


    O simples saber da motivação inconsciente, no entanto, não muda muito as coisas. A compulsão a interpretar o acaso é a mesma. Só muda na medida em que estabelece sua fundação na inconsistência do Recalque Originário, na sujeição à cadeia significante e na divisão subjetiva. (...)”
    (http://www.escolaletrafreudiana.com.br/UserFiles/110/File/artigos/letra1012/039.pdf)



    Acerca da abordagem de Gaston Bachelard, é necessário ressaltar que “(...) o devaneio proporcionado pelas imagens poéticas advém quando essas emergem na consciência como um produto direto do coração, da alma. O método fenomenológico bachelardiano se constitui a partir do par repercussão/ressonância. Em linhas gerais, o par opera quando o maravilhamento proporcionado por uma imagem poética potencializa, na unidade do ser maravilhado, o aprofundamento de sua própria existência, gerando a repercussão. Esse aprofundamento, incognoscível em sua integridade, leva o devaneador ao desejo e à alegria múltipla de falar, atingindo, desse modo, as ressonâncias.”
    (http://www.gedest.unesc.net/seilacs/devaneio_angelaesandra.pdf)



    Um exemplo seria o poema “Marília de Dirceu” - Tomas Antonio Gonzaga


    “Depois de nos ferir a mão da morte,

    Ou seja neste monte, ou noutra serra,

    Nossos corpos terão, terão a sorte

    De consumir os dois a mesma terra.

    Na campa, rodeada de ciprestes,

    Lerão estas palavras os Pastores:

    "Quem quiser ser feliz nos seus amores,

    Siga os exemplos, que nos deram estes."

    Graças, Marília bela,

    Graças à minha Estrela!”

    (http://www.biblio.com.br/defaultz.asplink=http://www.biblio.com.br/conteudo/TomasntonioGonzaga/mariliadedirceu.htm)


    (Carolina Brahm da Costa)

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  13. Primeiramente é preciso conhecer o princípio do determinismo psíquico:
    “O sentido é de que na mente, nada acontece por acaso. Cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam. Os eventos em nossa vida mental que podem parecer não relacionados com os que os precederam e são apenas na aparência. Nesse sentido, não existe descontinuidade na vida mental.”
    Logo, na perspectiva de Freud nada acontece por acaso em nossa mente. Os sonhos são alvos dos estudos freudianos, pois evidenciam sentimentos, desejos e preocupações que se encontram no inconsciente. Para ele, “quando o homem dorme, a consciência "desliga-se" parcialmente para que o inconsciente entre em atividade, produzindo o sonho: através do id, os desejos reprimidos são realizados. Para Freud, as causas dos traumas que geram certos comportamentos tidos como anormais estão escondidas no inconsciente das pessoas, onde estão guardados os desejos reprimidos”. Na Literatura, podemos utilizar como exemplo o primeiro parágrafo da obra A Metamorfose de Kafka, que diz o seguinte:

    “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”.

    Observa-se que Gregor sonhava intranquilamente. Possivelmente os sonhos dele estavam abalados devido as suas inquietações com relação ao trabalho, tendo em vista que sua vida e suas preocupações giravam em torno do trabalho.

    Referências bibliográficas:

    http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/12452/o-determinismo-psiquico-e-os-processos-mentais-inconscientes#ixzz2qx87tcgU

    http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/kafka/index02.html

    http://psicologado.com/abordagens/psicanalise/os-sonhos-na-concepcao-de-freud

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  14. "Quem só tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu!"

    (Friedrich Nietzsche)

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  15. Guimarães Rosa recorre aos mitos universais do rio e
    da barca no conto "A terceira margem do rio" permitindo que nossa sensibilidade ouça os ecos da terceira margem.
    "Retomando a acepção nietzscheniana, é importante
    lembrar que, embora o sonho seja comum a todos os indivíduos,
    muito poucos conseguem transformá-lo em instantâneos
    oníricos representativos do universo humano".

    Graciele Pedra

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  16. Wesley Peres,escritor e psicanalista diz que a psicanálise é filha da literatura,para dar base a esta afirmação citamos Freud quando ele diz que não importa o quão novo pareça algo que ele tenha dito,algum escritor já teria escrito o mesmo antes.Essa relação de Freud com a literatura é firmada através de sua obra,onde ele mostra seu interesse por William Shakespeare,Sófocles e etc .
    Na obra ‘’A metamorfose’’ de Franz Kafka ,o personagem Gregor Samsa se vê transformado em um inseto o que o faz ver como a sua vida era vazia e o quanto exigiam dele como individuo social e filho.Essa transformação,pode ser a visão de como ele via a sua vida(ou de como o viam),de como ele se deu conta da sua própria tragédia. Tudo isto pode ter sido apenas a imaginação do personagem que por estar naquele estado de espírito alterado,viu coisas que não eram reais,criou coisas na sua mente ,algo que justificasse a forma como ele era tratado por todos.Gregor procurou algo que explicasse a sua existência medíocre,o que o transformou em um inseto.Mostrando esta critica a sociedade através do devaneio da transformação.

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  17. Creio que posso resumir tudo o que já foi discutido e proposto na seguinte frase:
    "Demos o nome de psicanálise ao trabalho pelo qual trazemos à consciência do doente o psíquico que há recalcado nele." _Sigmund Freud_

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  18. "Já quatro ou cinco pessoas trabalhavam sobre o corpo inanimado, quando repentinamente a maca pôs-se em movimento. O médico perdeu o equilíbrio e caiu . A maca desapareceu no fundo do corredor escuro.
    - Aonde é que ele vai? - gritou alguém.
    - Para Nova Birobidjan ! grita o Capitão. Os homenzinhos aplaudem com entusiasmo. O Capitão ultima os preparativos.Logo estará pronto;
    A maré subirá o vale se enfinará, o barco partirá. O Capitão Birobidjan faz-se ao mar." ( Citação pág. 06 do Livro O exército de um homem só, Moacyr scliar).
    com esta citação e as referências acima mencionadas refletem a capacidade do homem em em não se prender ao realístico, ou seja, ainda continuamos crianças a fantasiar nossos mundos o que muda não são os sonhos imaginários e sim a definição para cada " viagem"....

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  19. Determinismo Psíquico

    Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade na vida mental. Ele afirmou que nada ocorre ao acaso e muito menos aos processos mentais. Há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação. Cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precederam. Uma vez que alguns eventos mentais "parecem" ocorrer espontaneamente, Freud começou a procurar e descrever os elos ocultos que ligavam um evento a outro.
    Muitas das mais enigmáticas e aparentemente arbitrárias saídas da teoria psicanalítica são pressupostos biológicos, encobertos, ou então, deles resultam de forma direta (Holt, 1965, p.94).
    http://www.psiquiatriageral.com.br/psicoterapia/freud2.htm

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    1. Utilizo uma frase de Michel Foucault para responder, "a psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia".

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  21. ''A contribuição teórica mais especial de Freud é a de que o comportamento é governado por processos inconscientes e não somente pelos processos conscientes. Freud explica a libido como uma pulsão sexual instintiva existente desde o nascimento, e esta é a força motivadora do comportamento.''

    ''A psicanálise é uma teoria que possui como característica inicial o determinismo psíquico, sua função é explicar que nada ocorre por acaso, ou seja, não há descontinuidade na vida mental. Cada evento mental tem explicação consciente ou inconsciente, mas eles ocorrem tão espontaneamente, que Freud os descreve ligando um evento consciente a outro.''
    Freud distinguiu três níveis de consciência, na sua inicial divisão topográfica da mente:

    - Consciente - diz respeito à capacidade de ter percepção dos sentimentos, pensamentos, lembranças e fantasias do momento;

    - Pré-consciente - relaciona-se com os conteúdos que podem facilmente chegar à consciência;

    - Inconsciente - refere-se ao material não disponível à consciência ou ao escrutínio do indivíduo.
    No entanto, o ponto nuclear da abordagem psicanalítica de Freud é a convicção da existência do inconsciente como:
    - Um receptáculo de lembranças traumáticas reprimidas;
    - Um reservatório de impulsos que constituem fonte de ansiedade, por serem socialmente ou eticamente inaceitáveis para o indivíduo.



    http://www.brasilescola.com/psicologia/consciente-inconsciente.htm
    www.psicoloucos.com/Sigmund-Freud/inconsciente.html‎
    www.libertas.com.br/site/index.php?central=conteudo&id=467‎

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  22. Ao crescerem, diz Freud, as pessoas param de brincar e perdem o prazer da infância. Mas não renunciam a ele. Trocam-no por outro, pelo fantasiar. Criam devaneios, difíceis de observar, porque os adultos se envergonham de suas fantasias e as ocultam, por serem infantis e, muitas vezes, por serem proibidas.

    Os seres humanos, por desconhecerem as verdadeiras causas de certos acontecimentos e por sentirem grande necessidade de encontrar uma explicação para tudo que acontece em suas vidas, acabam atribuindo-os ao acaso, à superstições, e assim desconsiderando fatores internos que estariam então envolvidos no acontecimento, como, por exemplo, medos e vontades ocultas.

    Freud atribui nossas ações, pensamentos e convicções a acontecimentos ocorridos anteriormente. Segundo o estudioso, pequenos acontecimentos da nossa vida, mesmo que não sejam percebidos facilmente ao acorrerem, ficam no nosso inconsciente e estabelecem certas conexões que se refletirão em acontecimentos vindouros, seja por meio de sonhos ou em cada atitude nossa.

    Clarisse Lispector preocupou-se em dar a sua obra Laços de Família um caráter introspectivo, mostrando os pensamentos e sentimentos mais íntimos de seus personagens. Na obra, ela apresenta mais que uma rotina familiar, mostra desejos íntimos que acabam sendo reprimidos no cotidiano de seus personagens e que acabam se refletindo de forma aparentemente irracional no universo externo.

    (http://www.cfh.ufsc.br/~magno/olgadesa.htm)

    Graciela da Rocha Rodrigues

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  23. “Existe em nós uma função intelectual que exige unidade, conexão e inteligibilidade... e se, em consequência de circunstâncias especiais, não puder estabelecer uma conexão verdadeira, não hesitaria em fabricar uma falsa” Sigmund Freud
    Fabiane Cassana Rosa

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  24. Freud nos mostra que nada do que é externo é novo, ou seja, tudo o que vem de estímulo é agregado ao que já conhecemos, manifestado a partir do nosso inconsciente, e assim sendo externado para nosso consciente. O determinismo psíquico se dá aos quais, os acontecimentos ou todos os eventos relacionados às nossas mentes, são precedidos por outros anteriores.
    Ele propôs que a mente do ser humano funciona como uma máquina em processos simples de repetições, e utiliza a superstição para esclarecer algumas de suas teorias.
    Vivemos com algumas superstições como verdades, por as repetirmos por muito tempo. Quantas vezes ouvimos dizer que, por exemplo, abrir um guarda-chuva dentro de casa algo aconteceria, uma superstição, algo que trazemos do inconsciente, algo não racional e, externa para o consciente.
    Dessa forma ele propõe que tudo que vem do consciente já encontra correspondente no inconsciente, nos deixando que se há uma conexão, esta é previsível, de forma circular que manter sempre relacionado nosso consciente e inconsciente.

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  25. Freud ( 1856-1939) nasceu Freiberg,este grande nome da psicanálise foi o responsável pela revolução no estudo da mente humana.
    A Psicanálise caracteriza-se como uma corrente da Psicologia que busca o fundamento oculto dos comportamentos mentais, com o objetivo de descobrir e resolver os conflitos intra-psiquicos geradores de pensamento Psiquico.
    Uma das mais importantes descobertas de FReud é que há uma sexualidade iinfantil: o Psiquismo humano forma-se a partir dos conflitos que desde o nascimento confrontam os instintos sexuais e a realidade. Podemos dizer que em termos psicanáliticos nós somos o resultado da história da nossa infância.
    Segundo ele, o sexo era um dos sentimentos reprimidos mais importantes. Naquela época essa afirmação gerou um grande escândalo na sociedade, entretanto, não demorou muito para que outros psicólogos aderissem à ideia de Freud. Alguns deles foram: Carl Jung, Reich, Rank e outros.
    http://pt.slideshare.net/espanto.info/freud-e-a-psicanlise
    http://www.suapesquisa.com/biografias/freud.htm

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  26. A psicanálise foi criada por Sigmund Freud com um objetivo principal de tratar desiquilíbrios psíquico, mas essa prática resultou na descoberta do inconsciente. Partindo para o fragmento citado, o texto aborda a superstição como as raízes psíquicas das causalidades psíquicas. Neste sentido, seria o mesmo que entender que o inconsciente é a raiz de tudo aquilo pelo qual se acredita, a raiz de toda reação humana e a raiz de todas as escolhas feitas por um indivíduo.
    Já a segunda citação do texto aborda o devaneio na literatura, lembrei-me imediatamente da obra " A Metamorfose" do autor Franz Kafka. A ideia de um indivíduo que se transforma em um inseto, não traz em algum momento a sensação de que esse homem já não suportava ser quem era? Ou ainda, que se compara a um "bicho" em suas vontades? E, além disso, que o fato de alguém criar essa história não era com intenção de fugir do seu "mundo"? Se assim se pensar, esse é um caso claro de que as palavras são devaneios e que devaneios são só meios de fuga.

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  27. "A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana".
    Sigmund Freud

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  28. Psicanálise é uma teoria que se caracteriza por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Seu método de investigação caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifestado por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os delírios, as associações livres, os atos falhos.
    De acordo com Freud o mecanismo de defesa realizados pelo ego, são inconscientes, independente da vontade do indivíduo que permite uma defesa. Essa é uma operação através da qual o ego exclui da consciência os conteúdos indesejáveis protegendo, assim aparentemente o aparelho psíquico.
    Na obra “Luciola” de José de Alencar a personagem Lúcia (Maria da Glória) uma moça que possui várias personalidade porém esse comportamento é que devido ao trauma que sofreu ao ter que se prostituir (meretriz naquela época) ao 14 anos para conseguir dinheiro para comprar medicamentos parar sua família que estava com febre amarela. Porém seu pai descobre e expulsa Maria da Glória de casa, desamparada forja sua morte, quando sua amiga Lúcia morre e Maria da Glória assume o seu nome.
    Percebemos nesta obra de José de Alencar que a Personagem Lúcia apresenta segundo Freud a racionalização que são os motivos lógicos e racionais que encontramos para afastar os pensamentos, lembranças e disfarçamos os verdadeiros motivos que nos incomodam.

    Referências:
    UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE PSICOLOGIA ANA MERCÊS BAHIA BOCK
    ODAIR FURTADO MARIA DE LOURDES TRASSI TEIXEIRA
    13a edição reformulada e ampliada— 1999 3ª tiragem — 2001

    Priscilla Dutra

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  29. Sobre a citação de Freud:

    Nossas determinações psíquicas são de dois modos: inconsciente e consciente.
    É inconsciente o que nos faz agir de uma maneira ou de outra sem que percebamos que estamos agindo assim. Exemplo: o Transtorno Obsessivo Compulsivo faz com que pessoas ajam de determinada maneira inconscientemente e não saibam por quê.
    É consciente o que nos faz agir de uma maneira ou de outra e percebemos que estamos agindo daquele modo. Exemplo: quando vamos até a cozinha pegar um copo d’água, temos plena consciência do que estamos fazendo.

    Sobre a citação de Bachelard:

    A psicanálise, na literatura, é vinculada a uma imagem que representa algo em um texto literário. Como exemplo, podemos citar este trecho do poema “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luis Vaz de Camões:

    Amor é fogo que arde sem se ver
    É ferida que dói e não se sente
    É um contentamento descontente
    É dor que desatina sem doer

    As imagens de fogo, ferida, contentamento e dor representam o amor e o sofrimento de quem ama.

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  30. Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.
    Sigmund Freud

    Susana Costallat

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  31. Esta ilusão ou devaneio como é colocado no texto de Bachelard é uma forma de como a personagem consegue realizar desejos ou pode ser uma forma de proteção. Mesmo na ideia de Freud, a psicologia tem a noção de dar motivação às causalidades, um desejo reprimido, recalcado, bloqueado, de forma psicológica a dar ao personagem “certo controle” de atos.

    “Presumo que esse desconhecimento consciente e esse saber inconsciente da motivação das causalidades psíquicas sejam uma das raízes psíquicas da superstição. Porque o supersticioso nada sabe da motivação de seus próprios atos casuais, e porque o fato dessa motivação pressiona pela obtenção de um lugar no campo de seu reconhecimento, ele se vê forçado a situá-la, por deslocamento, no mundo externo.” (Freud, 1987. p. 223)

    Um conto de Wolfgang Borchert, escritor alemão do pós-segunda guerra mundial, traz uma personagem conturbada psicologicamente, justamente por causa da guerra. E as sequelas, que a personagem (sem nome) do conto Das Holz für morgen (a lenha para amanhã) – 1947, possui, fazem com que ele tenha acessos de loucura e o desejo incessante do suicídio, então em vários momentos quando está à caminho da morte, tem devaneios do passado, como no trecho a seguir:

    “Er ließ seinen Finger ein paarmal auf dem weißen Strich entlangfahren, dann sagte er plötzlich: Das hab ich ja ganz vergessen.
    Er setzte sich auf die Treppe. Und jetzt wollte ich mir das Leben nehmen und hatte das beinahe vergessen.” (BORCHERT, 1947)*

    Esses devaneios são presentes em todo o texto. A parte citada é de quando a personagem se lembra da infância e do risco que fez no corrimão da escada. Remetendo certa culpa o que o motiva para o suicídio, mais uma vez. Ou seja, qualquer ato reprimido no personagem o dá a vontade de se livrar da própria vida, assim como as mortes que provavelmente causou na guerra. Toda a culpa do personagem esta presente neste psicológico das causalidades.






    *Ele colocou o seu dedo seguindo sobre o risco branco, então disse abruptamente: Isso tudo eu tenho que esquecer. Estabeleceu-se na escada. Eu quero minha vida tomar o que não devo esquecer. (Tradução minha)

    Referências:

    BACHELARD, Gaston. Devaneios sobre o devaneio. O sonhador de palavras. In: _____. A poética do devaneio. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

    BORCHERT, Wolfgang. Das Holz für morgen. Disponível em http://www.mondamo.de/alt/borchert.htm#03 Acessado em, 21 Jan. 2014.

    FREUD, Sigmund. Determinismo, crença no acaso e superstição – alguns pontos de vista. In: _____. Psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Imago, 1987.

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  32. Freud é conhecido como o pai da psicanálise, pois foi este psiquiatra foi um "revolucionário" em seus estudos psíquicos, tanto que para poder se formar teve que trocar de universidade e terminar seus estudos em Viena, a universidade de sua cidade não permitia o uso da hipnose para tratar os pacientes que sofriam de "neuroses", nome na época dado a todas as doenças provenientes das faculdades mentais. Freud vê diferenças nestas patologias e começa a distinguir uma da outra através de seus estudos ao longo da vida, deixando assim um grande legado para essa ciência do psique. Um clássico brasileiro que nitidamente expressa a psicanálise é O Alienista de Machado de Assis. No qual um psiquiatra, semelhante a história verídica de Freud, resolve estudar mais a fundo as patologias mentais. Este conto faz uma crítica ao determinismo científico, pois no final o Alienista descobre que o louco é ele mesmo. Mas a obra se aproxima dos estudos de Freud quando primeiramente diz que as pessoas conduzidas pelas suas vontades mais inconsequentes (Id) são consideradas loucas e também depois quando diz que as pessoas muito reprimidas (Superego) também o são.

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  33. Olho as Minhas Mãos

    Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
    Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
    Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar...
    Fechá-las, de repente,
    Os dedos como pétalas carnívoras !
    Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,
    Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento
    Como tecem as teias as aranhas.
    A que mundo
    Pertenço ?
    No mundo há pedras, baobás, panteras,
    Águas cantarolantes, o vento ventando
    E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
    Mas nada, disso tudo, diz: "existo".
    Porque apenas existem...
    Enquanto isto,
    O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
    E, cheios de esperança e medo,
    Oficiamos rituais, inventamos
    Palavras mágicas,
    Fazemos
    Poemas, pobres poemas
    Que o vento
    Mistura, confunde e dispersa no ar...
    Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
    Foi este o fim da Criação !
    Mas, então,
    Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?
    Quem faz - em mim - esta interrogação ?

    Mário Quintana

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  34. OS ACROBATAS
    Vinicius de Moraes
    Subamos!
    Subamos acima
    Subamos além, subamos
    Acima do além, subamos!
    Com a posse física dos braços
    Inelutavelmente galgaremos
    O grande mar de estrelas
    Através de milênios de luz.

    Subamos!
    Como dois atletas
    O rosto petrificado
    No pálido sorriso do esforço
    Subamos acima
    Com a posse física dos braços
    E os músculos desmesurados
    Na calma convulsa da ascensão.

    Oh, acima
    Mais longe que tudo
    Além, mais longe que acima do além!
    Como dois acrobatas
    Subamos, lentíssimos
    Lá onde o infinito
    De tão infinito
    Nem mais nome tem
    Subamos!

    Tensos
    Pela corda luminosa
    Que pende invisível
    E cujos nós são astros
    Queimando nas mãos
    Subamos à tona
    Do grande mar de estrelas
    Onde dorme a noite
    Subamos!

    Tu e eu, herméticos
    As nádegas duras
    A carótida nodosa
    Na fibra do pescoço
    Os pés agudos em ponta.

    Como no espasmo.

    E quando
    Lá, acima
    Além, mais longe que acima do além
    Adiante do véu de Betelgeuse
    Depois do país de Altair
    Sobre o cérebro de Deus

    Num último impulso
    Libertados do espírito
    Despojados da carne
    Nós nos possuiremos.

    E morreremos
    Morreremos alto, imensamente
    IMENSAMENTE ALTO.

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  35. Segundo Freud quando perdemos ou esquecemos alguma coisa ,nunca é de forma acidental,esses fatos foram desencadeados por um desejo ou intenção da pessoa envolvida,Nada acontece por acaso ,cada fato psíquico é determinado por aqueles que o antecederam.
    A mitologia agrega valor à literatura enriquecendo o texto e disponibilizando que o imaginário seja aplicado a obra e as palavras especificamente ampliando as possibilidades de criação e interpretação do texto literário.

    Flamarion Silveira

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  36. Segundo o determinismo psíquico “(...) Cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam. Os eventos em nossa vida mental que podem parecer não relacionados com os que os precederam e são apenas na aparência. Nesse sentido, não existe descontinuidade na vida mental.”

    Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 1000 cursos online com certificado
    http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/12452/o-determinismo-psiquico-e-os-processos-mentais-inconscientes#ixzz2r4n2yDzS

    Quanto a perspectiva de Gaston Bachelard sobre a poética do devaneio “Segundo Wunenburger (2005), a poética onírica de Bachelard é “inspirada no romantismo alemão, mesclada aos recursos do estruturalismo lingüístico” (2005:39). Nesse sentido, retoma-se do romantismo, a imaginação como categoria inspiradora da arte que, ao trazer a marca da subjetividade, estabelece uma crítica contra o modo excessivamente racionalista e materialista de conceber o homem e o mundo. Do estruturalismo lingüístico, por sua vez, retoma-se a abordagem do texto poético, através das oposições ou das equivalências manifestas em sua estrutura e que se vinculam as forças psíquicas presentes no devaneio.”
    (http://www.cchla.ufrn.br/humanidades2009/Anais/GT32/32.1.pdf )


    Um exemplo literário que pode ser citado é o poema “Coisa Amar” de Manuel Antônio de Almeida.

    Contar-te longamente as perigosas
    coisas do mar. Contar-te o amor ardente
    e as ilhas que só há no verbo amar.
    Contar-te longamente longamente.

    Amor ardente. Amor ardente. E mar.
    Contar-te longamente as misteriosas
    maravilhas do verbo navegar.
    E mar. Amar: as coisas perigosas.
    Contar-te longamente que já foi
    num tempo doce coisa amar. E mar.
    Contar-te longamente como dói.

    Desembarcar nas ilhas misteriosas.
    Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
    E longamente as coisas perigosas.

    (http://romantismo-21b.blogspot.com.br/p/alguns-poemas-do-romantismo.html )

    Caroline Ferreira Pinheiro.

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  37. A literatura pode ser considerada com a arte da expressão e é por meio dela que o homem encontra uma saída para expor seus sentimentos. Na literatura ele encontra uma válvula de escape. A linguagem, portanto, é essencial para uma análise psicanalítica da obra e importantíssima para sua interpretação. A palavra será essencial manifestar no leitor uma sensação de fantasia e prazer ao ler uma obra literária, a pessoa buscará nela uma maneira de encontrar seus sentimentos. E é buscando esse devaneio e prazer que os homens gostam de ler poesias e romances.

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  38. "A tragédia quando somos famosos é que se tem de devotar tanto tempo a ser-se famoso."
    Pablo Picasso

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  39. Sobre o fragmento de Freud:

    Quando procuramos examinar a nós próprios, ao “eu”, estabelecemos informações, através de conhecimentos do que representa nossa individualidade, aquilo que faz com que sejamos uma pessoa bem determinada e bem diferente das outras. Somos diferentes dos animais por possuímos consciência de si próprio.
    O indivíduo toma conhecimentos de si próprio através de seus pensamentos, sentimentos e ações. Segundo Freud há “uma estrutura da personalidade conteúdo inconsciente facilmente acessível que entram em relação com o mundo exterior”.
    O individuo foi criado e estruturado a partir da linguagem e da fala, estando, portanto o sujeito é consequência do inconsciente.
    Freud "afirma que este fato inconsciente tem grande influência na direção de nosso comportamento, na orientação de nossas ações, podemos ignorar a existência em nós de emoções, tendências e impulsos, os quais na realidade estão influenciando fortemente as nossas vidas". Estes aspectos estão integrados, fazendo do eu, algo mais complexo e importante de cada um de nós, como conjunto.

    Sobre Bachelard:

    Sente o som
    cada vez mais alto
    aflorando seus sentimentos
    lhe confundindo a cabeça
    não há rezas que te proteja
    nem credo que domine
    a natureza voraz dos sentimentos. - Crônicas de um Bardo Lúdico

    Lutei toda a minha vida contra a tendência ao devaneio, sempre sem jamais deixar que ele me levasse até as últimas águas. Mas o esforço de nadar contra a doce corrente tira parte de minha força vital. E, se lutando contra o devaneio, ganho no domínio da ação, perco interiormente uma coisa muito suave de se ser e que nada substitui. Mas um dia hei de ir, sem me importar para onde o ir me levará. - Clarice Lispector

    Eu não sou uma sonhadora. Só devaneio para alcançar a realidade. - Clarice Lispector

    Os autores falam de sentimentos, abordam coisas do cotidiano e tentam passar para o leitor não só um conjunto de palavras, mas sim uma “explosão” de sentimentos, vivencias ou criações, precisam expressar de uma forma intensa e por isso utilizam muitas metáforas, pois é uma das mais poderosas formas de comunicação, pelo seu poder de quebrar resistências, com histórias que levam as mensagens que você quer comunicar. As palavras ou aquele conjunto de palavras sempre representam algo, é uma expressão, um devaneio, um modo de ver subjetivo.

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  40. Para Freud tudo aquilo que não é entendido por nós, está no nosso inconsciente em estado latente, esperando o momento de se manifestar e é por meio do devaneio dos sonhos que tornamos real o nosso desejo íntimo, realizando-o ou sublimando-o.
    Segundo Bachelard o que vemos na imagem de uma obra é o que a imagem nos diz, nos toca de alguma forma, é a maneira de interpretá-la segundo o nosso pensamento através de símbolos, onde o imaginário e a mitologia se confundem.

    Os dois lados

    Deste lado tem meu corpo
    Tem o sonho
    Tem a minha namorada na janela
    Tem as ruas gritando de luzes e movimentos
    Tem o meu amor tão lento
    Tem o mundo batendo na minha memória
    Tem o caminho para o trabalho.

    Do outro lado tem outras vidas vivendo da minha vida
    Tem pensamentos sérios me esperando na sala de visitas
    Tem minha noiva definitiva me esperando com flores na mão,
    Tem a morte,
    As colunas da ordem e da desordem.

    Murilo Mendes - Poesia completa e prosa - Volume 1 - pag 98

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  41. Freud afirma que a loucura passa a ser um atributo de toda a humanidade e não só de alguns homens, é a descoberta científica do inconsciente, da suas características e manifestações, dos traumas infantis que recobre, da energia pulsional ou líbido que o alimenta. Ele acreditava que tudo o que se passava na mente humana possuía um significado preciso: tinha uma causa originadora e desenvolvia-se ou manifestava-se segundo um sentido determinado.

    Assim, não poderiam existir processos ou acontecimentos psíquicos fortuitos, meros produtos do acaso ou expressões de uma aparente loteria mental.
    Ao contrário, a mente humana estrutura-se segundo uma casualidade determinista, por vezes complexa mas sempre possível de ser reduzida a uma relação de causa e efeito pelo psicanalista.
    Deste modo tal como na natureza nada se perde e tudo se transforma, assim também ocorre na nossa mente, embora possa permanecer inconsciente.
    A obra de Edgar Allan Poe, The Tell Tale Heart expressa um pouco da ideia de Freud.
    A imagem do modelo das ciências exatas como a física, Freud postula a existência de um aparelho dominado por forças instituais e por princípios contrários entre si, cujos conflitos e movimentos dariam conta, na sua totalidade, da origem, da causa, significação e finalidade dos nossos pensamentos e ações.

    *Freud, animado pela mentalidade científica do seu tempo e inspirando-se no exemplo das ciências exatas, pretende descobrir nos pesamentos humanos uma rede de relação tão deterministicamente enlaçados que não permitiria a existência de comportamentos ou pensamentos avulsos ou arbitrários. Deste modo, a intenção ultima de Freud e a de procurar o sentido oculto de todas as ações humanas especialmente daquelas que, por serem estranhas, parecem escapar a qualquer classificação racional ou cientifica ou a qualquer sentido previamente determinado como, por exemplo, a loucura, ou aquele que, embora mais habituais, não deixam igualmente de ser estranhos, isto é, os atos aparentemente sem sentido.

    Bachelard (1981, p.94-5) acredita existir um paradoxo do complexo porque a originalidade e necessariamente um complexo e um complexo nunca é muito original... Assim, "se a originalidade é poderosa, o complexo é energético imperioso, dominante; ele conduz o homem. ele produz a obra. Se a originalidade é pobre, o complexo é larvado, fictício, hesitante". Mas "de qualquer modo a originalidade não pode analisar-se inteiramente no plano intelectual. Só o complexo pode fornecer a medida dinâmica da originalidade".
    O imaginário representa, sem dúvida, uma matriz de desejos, de modelos, de sentido e de valor que permitem que os humanos estruturem a sua experiência, desenvolvam as suas construções intelectuais e deem início a ações para ele (1989,p.20) os complexos são signos culturais, que viram figuras de retóricas. Pode-se dizer que "um complexo é um fenômeno psicológico tão sintomático que basta um único traço para revelá-lo por inteiro" (p.88).

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  42. Segundo Freud a psicanálise é uma teoria que possui como característica inicial o determinismo psíquico, sua função é explicar que nada ocorre por acaso, ou seja, não há descontinuidade na vida mental. Cada evento mental tem explicação consciente ou inconsciente, mas eles ocorrem tão espontaneamente, que Freud os descreve ligando um evento consciente a outro.
    Da literatura, a psicanálise toma referências, exemplos, extrai características que traçam o perfil de um autor, e por meio dela enriquece a própria teoria. Igualmente, a psicanálise oferece aos literatos a oportunidade de utilizar novas metáforas, de aprofundar o processo de criação, de liberação do inconsciente.

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    1. Referências bibliográficas:
      http://www.brasilescola.com/psicologia/consciente-inconsciente.htm

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  43. A psicanálise, obviamente, enxerga o interior,o ser humano em si.

    Dependendo das épocas pode abordar diferentes significados:sociedade, formação do homem, enfim...
    Mariane Kruger

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  44. Segundo Freud a representação, consciente devaneio, pré-consciente ou inconsciente, pode acontecer em um ou vários personagens, que coloca em cena um desejo, de forma mais ou menos disfarçada. Esses desejos podem ser originários no começo da vida do sujeito. Estes fantasmas atualizam, giram em torno, por exemplo, da concepção do sujeito, do complexo de Édipo. Para Freud, uma experiência muito forte no presente desperta no escritor uma lembrança, geralmente de sua infância, de onde vai se originar um desejo que encontra realização na obra, obra é como o devaneio, é uma continuação ou substituto do que foi o brincar infantil. Até mesmo a imagem do rosto do homem de perfil que foi colocado no anúncio do post, tem na mesma imagem o corpo de uma mulher nua deitada na frente do rosto com os braços entre os cabelos isso me remete a sexualidade. Freud relaciona a arte à leitura dos significados reprimidos e inconscientes, o trabalho do artista é compreendido como uma atividade de expressão de desejos proibidos. E o artista, nessa forma, é concebido como um ser talentoso o bastante para transformar os impulsos primitivos, sexuais e agressivos, em formas simbólicas, isto é, em arte. Como os sonhos e os jogos de linguagem, o trabalho artístico facilita a expressão, o reconhecimento e a elaboração de sentimentos reprimidos, tanto para os artistas quanto para os leitores que, compartilham com a mesma insatisfação com as renúncias exigidas pela realidade e, através da obra, a experiência estética. Assim, o elo entre psiquismo e arte pode chegar a ser concebido de um modo tão direto e imediato que a singularidade da obra é perdida de vista, ao mesmo tempo em que o psiquismo passa a ser simplesmente ilustrado pela obra.

    Eliani Ludwig

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  45. Monte Castelo

    Renato Russo

    Ainda que eu falasse a língua dos homens
    E falasse a língua dos anjos
    Sem amor eu nada seria

    É só o amor, é só o amor
    Que conhece o que é verdade
    O amor é bom, não quer o mal
    Não sente inveja ou se envaidece

    O amor é o fogo que arde sem se ver
    É ferida que dói e não se sente
    É um contentamento descontente
    É dor que desatina sem doer

    Ainda que eu falasse a língua dos homens
    E falasse a língua dos anjos
    Sem amor eu nada seria

    É um não querer mais que bem querer
    É solitário andar por entre a gente
    É um não contentar-se de contente
    É cuidar que se ganha em se perder

    É um estar-se preso por vontade
    É servir a quem vence, o vencedor
    É um ter com quem nos mata a lealdade
    Tão contrário a si é o mesmo amor

    Estou acordado e todos dormem
    Todos dormem, todos dormem
    Agora vejo em parte
    Mas então veremos face a face

    É só o amor, é só o amor
    Que conhece o que é verdade

    Ainda que eu falasse a língua dos homens
    E falasse a língua do anjos
    Sem amor eu nada seria.

    http://letras.mus.br/renato-russo/176305/

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  46. Freud afirma que as mitologias e as religiões foram as que se encarregaram de tratar a esta “ameaça” como uma força externa, tendo como fator determinante para isto a relação causal ou de causalidade, o que levaria ao individuo a explicar os seus erros pelo “Pecado Original”.
    O conto “ El hijo” do escritor Horacio Quiroga, os devaneios do pai( fruto de sua culpa ) o levam a projetar a seu filho já morto, a força do onirismo nas palavras evidenciam-se nas manifestações do filho para o pai.
    Este conto ainda me impressiona tanto , quanto a primeira vez que o li, assim como toda sua obra; a continuação coloco o conto na integra.

    Edgardo Piriz Milano

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    1. Aqui vai o meu pensamento na integra:


      Chamamos de “Projeção” ao ato de atribuir a uma outra pessoa, animal ou objeto qualidades, sentimentos ou intenções que se originam em si próprio, como mecanismo de defesa pelo qual os aspectos negativos da personalidade de um individuo são deslocados de dentro deste para o meio externo. Por este motivo Freud afirma que as mitologias e as religiões foram as que se encarregaram de tratar a esta “ameaça” como uma força externa, tendo como fator determinante para isto a relação causal ou de causalidade, o que levaria ao individuo a explicar os seus erros pelo “Pecado Original”.
      O conto “ El hijo” do escritor Horacio Quiroga, os devaneios do pai( fruto de sua culpa ) o levam a projetar a seu filho já morto, a força do onirismo nas palavras evidenciam-se nas manifestações do filho para o pai.
      Este conto ainda me impressiona tanto, quanto a primeira vez que o li, assim como toda sua obra; a continuação coloco o conto na integra.

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  47. El hijo
    [Cuento. Texto completo.]
    Horacio Quiroga

    Es un poderoso día de verano en Misiones, con todo el sol, el calor y la calma que puede deparar la estación. La naturaleza, plenamente abierta, se siente satisfecha de sí.
    Como el sol, el calor y la calma ambiente, el padre abre también su corazón a la naturaleza.

    -Ten cuidado, chiquito -dice a su hijo, abreviando en esa frase todas las observaciones del caso y que su hijo comprende perfectamente.

    -Si, papá -responde la criatura mientras coge la escopeta y carga de cartuchos los bolsillos de su camisa, que cierra con cuidado.

    -Vuelve a la hora de almorzar -observa aún el padre.

    -Sí, papá -repite el chico.

    Equilibra la escopeta en la mano, sonríe a su padre, lo besa en la cabeza y parte. Su padre lo sigue un rato con los ojos y vuelve a su quehacer de ese día, feliz con la alegría de su pequeño.

    Sabe que su hijo es educado desde su más tierna infancia en el hábito y la precaución del peligro, puede manejar un fusil y cazar no importa qué. Aunque es muy alto para su edad, no tiene sino trece años. Y parecía tener menos, a juzgar por la pureza de sus ojos azules, frescos aún de sorpresa infantil. No necesita el padre levantar los ojos de su quehacer para seguir con la mente la marcha de su hijo.

    Ha cruzado la picada roja y se encamina rectamente al monte a través del abra de espartillo.

    Para cazar en el monte -caza de pelo- se requiere más paciencia de la que su cachorro puede rendir. Después de atravesar esa isla de monte, su hijo costeará la linde de cactus hasta el bañado, en procura de palomas, tucanes o tal cual casal de garzas, como las que su amigo Juan ha descubierto días anteriores. Sólo ahora, el padre esboza una sonrisa al recuerdo de la pasión cinegética de las dos criaturas. Cazan sólo a veces un yacútoro, un surucuá -menos aún- y regresan triunfales, Juan a su rancho con el fusil de nueve milímetros que él le ha regalado, y su hijo a la meseta con la gran escopeta Saint-Étienne, calibre 16, cuádruple cierre y pólvora blanca.

    Él fue lo mismo. A los trece años hubiera dado la vida por poseer una escopeta. Su hijo, de aquella edad, la posee ahora y el padre sonríe...

    No es fácil, sin embargo, para un padre viudo, sin otra fe ni esperanza que la vida de su hijo, educarlo como lo ha hecho él, libre en su corto radio de acción, seguro de sus pequeños pies y manos desde que tenía cuatro años, consciente de la inmensidad de ciertos peligros y de la escasez de sus propias fuerzas.

    Ese padre ha debido luchar fuertemente contra lo que él considera su egoísmo. ¡Tan fácilmente una criatura calcula mal, sienta un pie en el vacío y se pierde un hijo!

    El peligro subsiste siempre para el hombre en cualquier edad; pero su amenaza amengua si desde pequeño se acostumbra a no contar sino con sus propias fuerzas.

    De este modo ha educado el padre a su hijo. Y para conseguirlo ha debido resistir no sólo a su corazón, sino a sus tormentos morales; porque ese padre, de estómago y vista débiles, sufre desde hace un tiempo de alucinaciones.

    Ha visto, concretados en dolorosísima ilusión, recuerdos de una felicidad que no debía surgir más de la nada en que se recluyó. La imagen de su propio hijo no ha escapado a este tormento. Lo ha visto una vez rodar envuelto en sangre cuando el chico percutía en la morsa del taller una bala de parabellum, siendo así que lo que hacía era limar la hebilla de su cinturón de caza.

    Horrible caso... Pero hoy, con el ardiente y vital día de verano, cuyo amor a su hijo parece haber heredado, el padre se siente feliz, tranquilo y seguro del porvenir.

    En ese instante, no muy lejos, suena un estampido.

    -La Saint-Étienne... -piensa el padre al reconocer la detonación. Dos palomas de menos en el monte...

    Sin prestar más atención al nimio acontecimiento, el hombre se abstrae de nuevo en su tarea.

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  48. El sol, ya muy alto, continúa ascendiendo. Adónde quiera que se mire -piedras, tierra, árboles-, el aire enrarecido como en un horno, vibra con el calor. Un profundo zumbido que llena el ser entero e impregna el ámbito hasta donde la vista alcanza, concentra a esa hora toda la vida tropical.

    El padre echa una ojeada a su muñeca: las doce. Y levanta los ojos al monte. Su hijo debía estar ya de vuelta. En la mutua confianza que depositan el uno en el otro -el padre de sienes plateadas y la criatura de trece años-, no se engañan jamás. Cuando su hijo responde: "Sí, papá", hará lo que dice. Dijo que volvería antes de las doce, y el padre ha sonreído al verlo partir. Y no ha vuelto.

    El hombre torna a su quehacer, esforzándose en concentrar la atención en su tarea. ¿Es tan fácil, tan fácil perder la noción de la hora dentro del monte, y sentarse un rato en el suelo mientras se descansa inmóvil?

    El tiempo ha pasado; son las doce y media. El padre sale de su taller, y al apoyar la mano en el banco de mecánica sube del fondo de su memoria el estallido de una bala de parabellum, e instantáneamente, por primera vez en las tres transcurridas, piensa que tras el estampido de la Saint-Étienne no ha oído nada más. No ha oído rodar el pedregullo bajo un paso conocido. Su hijo no ha vuelto y la naturaleza se halla detenida a la vera del bosque, esperándolo.

    ¡Oh! no son suficientes un carácter templado y una ciega confianza en la educación de un hijo para ahuyentar el espectro de la fatalidad que un padre de vista enferma ve alzarse desde la línea del monte. Distracción, olvido, demora fortuita: ninguno de estos nimios motivos que pueden retardar la llegada de su hijo halla cabida en aquel corazón.

    Un tiro, un solo tiro ha sonado, y hace mucho. Tras él, el padre no ha oído un ruido, no ha visto un pájaro, no ha cruzado el abra una sola persona a anunciarle que al cruzar un alambrado, una gran desgracia...

    La cabeza al aire y sin machete, el padre va. Corta el abra de espartillo, entra en el monte, costea la línea de cactus sin hallar el menor rastro de su hijo.

    Pero la naturaleza prosigue detenida. Y cuando el padre ha recorrido las sendas de caza conocidas y ha explorado el bañado en vano, adquiere la seguridad de que cada paso que da en adelante lo lleva, fatal e inexorablemente, al cadáver de su hijo.

    Ni un reproche que hacerse, es lamentable. Sólo la realidad fría, terrible y consumada: ha muerto su hijo al cruzar un... ¡Pero dónde, en qué parte! ¡Hay tantos alambrados allí, y es tan, tan sucio el monte! ¡Oh, muy sucio ! Por poco que no se tenga cuidado al cruzar los hilos con la escopeta en la mano...

    El padre sofoca un grito. Ha visto levantarse en el aire... ¡Oh, no es su hijo, no! Y vuelve a otro lado, y a otro y a otro...

    Nada se ganaría con ver el color de su tez y la angustia de sus ojos. Ese hombre aún no ha llamado a su hijo. Aunque su corazón clama por él a gritos, su boca continúa muda. Sabe bien que el solo acto de pronunciar su nombre, de llamarlo en voz alta, será la confesión de su muerte.

    -¡Chiquito! -se le escapa de pronto. Y si la voz de un hombre de carácter es capaz de llorar, tapémonos de misericordia los oídos ante la angustia que clama en aquella voz.

    Nadie ni nada ha respondido. Por las picadas rojas de sol, envejecido en diez años, va el padre buscando a su hijo que acaba de morir.

    -¡Hijito mío..! ¡Chiquito mío..! -clama en un diminutivo que se alza del fondo de sus entrañas.

    Ya antes, en plena dicha y paz, ese padre ha sufrido la alucinación de su hijo rodando con la frente abierta por una bala al cromo níquel. Ahora, en cada rincón sombrío del bosque, ve centellos de alambre; y al pie de un poste, con la escopeta descargada al lado, ve a su...

    -¡Chiquito...! ¡Mi hijo!

    Las fuerzas que permiten entregar un pobre padre alucinado a la más atroz pesadilla tienen también un límite. Y el nuestro siente que las suyas se le escapan, cuando ve bruscamente desembocar de un pique lateral a su hijo.

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  49. A un chico de trece años bástale ver desde cincuenta metros la expresión de su padre sin machete dentro del monte para apresurar el paso con los ojos húmedos.

    -Chiquito... -murmura el hombre. Y, exhausto, se deja caer sentado en la arena albeante, rodeando con los brazos las piernas de su hijo.

    La criatura, así ceñida, queda de pie; y como comprende el dolor de su padre, le acaricia despacio la cabeza:

    -Pobre papá...

    En fin, el tiempo ha pasado. Ya van a ser las tres...

    Juntos ahora, padre e hijo emprenden el regreso a la casa.

    -¿Cómo no te fijaste en el sol para saber la hora...? -murmura aún el primero.

    -Me fijé, papá... Pero cuando iba a volver vi las garzas de Juan y las seguí...

    -¡Lo que me has hecho pasar, chiquito!

    -Piapiá... -murmura también el chico.

    Después de un largo silencio:

    -Y las garzas, ¿las mataste? -pregunta el padre.

    -No.

    Nimio detalle, después de todo. Bajo el cielo y el aire candentes, a la descubierta por el abra de espartillo, el hombre vuelve a casa con su hijo, sobre cuyos hombros, casi del alto de los suyos, lleva pasado su feliz brazo de padre. Regresa empapado de sudor, y aunque quebrantado de cuerpo y alma, sonríe de felicidad.

    Sonríe de alucinada felicidad... Pues ese padre va solo.

    A nadie ha encontrado, y su brazo se apoya en el vacío. Porque tras él, al pie de un poste y con las piernas en alto, enredadas en el alambre de púa, su hijo bienamado yace al sol, muerto desde las diez de la mañana.

    FIN

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  50. Quando Freud propõe os estudos da psicanálise surge toda a ideia de causa e consequência, o devaneio acaba se tornando uma resposta de um estímulo anterior. E todas as consequências de cada ato tem seu estímulo, na afirmação:
    "Pelo devaneio acreditamos descobrir numa palavra o ato que nomeia. As palavras sonham que as nomeemos”
    Cria uma perspectiva não concreta de que todo devaneio é por si só um ato de criação, como forma de expressão íntima do ser, lícito ato de descoberta do homem. O devaneio era percebido como desnecessário até perceber que dele surgem as ideias, os sonhos, as criações em forma de reflexão. A vicissitude do processo de devaneio cria perspectivas variadas fronte a breviedade das coisas.
    No processo de percepção do mundo, o devaneio forma-se quase como entidade representativa, a recepção é tida como personificada e o mover das cortinas. Do que não se ve mas da grande necessidade de se perceber e saber do que pode se trata, no devaneio se desenvolvem as formas.
    “No livro A poética do devaneio, Bachelard afirma que um excesso de infância é o germe de um poema. Para ele, as imagens de infância realizadas por um poeta remetem a um núcleo de infância que permanece em nós, uma infância que, embora apareça como história toda vez que a contamos, só possui uma existência real quando a iluminamos em sua existência poética. Isso nos faz indagar se temos produzido excessos que possam permitir surpresa e encantamento, se temos tido a coragem, enquanto educadores, de sonhar nossa infância.” (Fronckowiak, A. (2005))

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  51. (...) Desde as suas primeiras elaborações teóricas, Freud recorre à literatura: a partir de 1787, ele costuma associar a leitura do Éditpo-Rei, de Sófocles e do Hamlet de Shakespeare à análise de seus pacientes e à sua auto-análise, para construir um de seus conceitos fundamentais, chamado precisamente de "complexo de Édipo". A essas duas tragédias ele acrescenta mesmo, em 1928, o romance de Dostoievski, Os irmãos Karamazov. Veremos que a história da teoria psicanalítica não pode ser dissociada desses encontros ou dessas longas relações com mitos, contos ou obras literárias.

    Não se pode, pois, negar à crítica psicanalítica o direito à existência, sem recusar, ao mesmo tempo, a psicanálise e a sua descoberta mais fecunda, a do inconsciente. Uma rejeição global é uma tomada de posição coerente. Mas, se reconhecemos as contribuições da psicanálise, somos obrigados a levar em conta suas intervenções no campo de crítica literária e, mais amplamente, artística.

    Esse exemplo da prática freudiana dos textos literários nos mostra igualmente que é difícil adotar o esquema simples de uma "psicanálise aplicada":

    - de um lado, a psicanálise como uma ciência edificada unicamente em seu campo próprio, o da patologia mental (neuroses, psicoses etc.), e isso em relação com sua única prática clínica;

    - do outro, uma crítica dedicada a aplicar, numa segunda etapa, as aquisições dessa ciência a um campo estranho, o das produções culturais.


    [MARINI, Marcelle. IN: BERGEZ, D. et al. Métodos críticos para a análise literária. Trad. de Olindina Maria Rodrigues Prata. São Paulo: Martins Fontes, 1997]
    link: http://www.tcl-uepb.blogger.com.br/

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  52. Segundo Freud, todas as ações partem da psique do ser humano, tudo tem como base o aparelho psiquico dividido em id, ego e superego. Levando isso em consideração, o ser humano muitas vezes age por impulso, mesmo em casos que exijam monitoria, como em O Buffet de Luis Fernando Veríssimo . Baseado na citação do texto, pode-se dizer que há uma intencionalidade em cada situação, até mesmo nas mais superticiosas.
    No quarto de Edgar Poe, o que relamente inflava as cortinas era um nome que vinha carregado de siginificado, porque as palavras são vivas e despertam no leitor uma chama que o faz mergulhar no devaneio. Como exemplo trago o poema de Luiz de Camões citado abaixo que traz a mensagem do amor comparado com o fogo, o poeta mostra que assim como o ouro é lapidado pelo ourives, assim o amor deve ser lapidado pelo fogo, sem que possamos perceber, para que a cada dia seja melhor e atinja sua perfeição.


    Amor é um Fogo que Arde sem se Ver

    Amor é um fogo que arde sem se ver;
    É ferida que dói, e não se sente;
    É um contentamento descontente;
    É dor que desatina sem doer.

    É um não querer mais que bem querer;
    É um andar solitário entre a gente;
    É nunca contentar-se e contente;
    É um cuidar que ganha em se perder;

    É querer estar preso por vontade;
    É servir a quem vence, o vencedor;
    É ter com quem nos mata, lealdade.

    Mas como causar pode seu favor
    Nos corações humanos amizade,
    Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

    Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"



    Maristela Cardoso da Rosa

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  53. No inconsciente estão guardadas as informações permanentes, ou seja as lembranças que ficam para sempre, por isso quando vemos uma imagem associamos à fatos ocorridos na nossa vida, um exemplo que cito : uma flor, um perfume, uma música podem despertar a lembrança de um momento feliz ou triste, uma pessoa amada que já faleceu. Nossos desejos e sofrimentos também fazem parte deste mistério acumulados em forma de memórias. O inconsciente torna as coisas conscientes. Ao escrever um texto nosso cérebro ativa a memórias inconsciente e produz as lembranças que lá estão armazenadas dando uma significação psíquica à linguagem textual.
    Fazer uma análise psicanalítica de uma obra é desvendar o desejo inconsciente que produz o texto. A análise freudiana utiliza-se da tragédia e da retórica a primeira oferece a estrutura do psiquismo, o isso, eu, o superou, situada entre o romance e o mito a psicanálise conserva do primeiro o desenrolar narrativo e do segundo as estruturas explicativas.
    Quanto a retórica respeita os processos de produção, todos eles se caracterizam por deslocamentos, condensações desformações, máscaras, desfigurações. Na elaboração dos sonhos, o deslocamento e a condensação aparecem tal como metonímias e metáforas, reconhecendo nelas um conjunto de operações que se
    dirigem ao outro.
    Quanto a questão de Bachelard,do inflar as cortinas, "inflar seria o recordar, o acordar para as lembranças." Lacan (1988,p45) dizia que : "A existência humana está determinada pela busca inconsciente de um "objeto absoluto" , cuja falta nos priva da sensação de plenitude supostamente experimentada num período de pré-consciência"
    Em "Primeiras estórias" a terceira margem do rio , a travessia citada é necessária para encontrar o sentido da vida, apesar de não encontrar respostas os personagens são levados à reflexão de sua existência..Esta travessia são as experiências adquiridas ao longo da vida , do qual o indivíduo acumula o conhecimento do mundo, o fim não importa o que importa são os meios , onde o ser humano pode aprender e viver.
    A terceira margem do rio é irreal assim como o real é subjetivo, mas é onde o indivíduo faz suas reflexões, a psicologia explica que é a procura do "eu" ou seja a procura da felicidade e da meditação sobre sua existência.

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  54. "Privamo-nos para mantermos a nossa integridade, poupamos a nossa saúde, a nossa capacidade de gozar a vida, as nossas emoções, guardamo-nos para alguma coisa sem sequer sabermos o que essa coisa é. E este hábito de reprimirmos constantemente as nossas pulsões naturais é o que faz de nós seres tão refinados. Por que não nos embriagamos? Porque a vergonha e os transtornos das dores de cabeça fazem nascer um desprazer mais importante que o prazer da embriaguez. Por que não nos apaixonamos todos os meses de novo? Porque, por altura de cada separação, uma parte dos nossos corações fica desfeita. Assim, esforçamo-nos mais por evitar o sofrimento do que na busca do prazer.”
    Sigmund Freud

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  55. O cotidiano das pessoas está inteiramente relacionado com o seu eu interior e a sua forma de agir, forma essa que é ativada e controlada de certa forma pelo psicológico de cada um. Os raciocínios seguidos das ações e execuções do que é trabalhado na mente faz com que o ser humano represente o seu eu interior no mundo externo, a fim de transmitir a sua realidade de vida e seus sentimentos mais diversos, muitas vezes incontrolados pelo seu fraco psicológico.
    De acordo com a leitura feita, o que de fato inflava as cortinas no quarto de Edgar Poe, era um nome. Este nome trazia todo o significado de uma lembrança, ou de várias, pois um nome é uma forma de nomear, classificar uma lembrança, é um meio mais fácil de relacionar o seu pensamento ao fato que está acontecendo que te faz recordar de uma situação passada. Como exemplo, temos o poema de João Batista Pinto, que fala de uma mulher e utiliza de vários adjetivos de uma forma inusitada, fazendo com as palavras assumam outros sentidos, transformando assim o poema.

    João Batista Pinto

    Elisabeth era impura,
    Mas não tinha pecados.
    Era simples e substantiva,
    Pecados são sempre adverbiais.

    Quando lhe nasceram os dentes,
    Incisivos e de elegante postura,
    Elisabeth, fingindo indolência,
    Engoliu os mamilos de sua mãe.

    Sem arrependimento,
    Ficou a se perguntar,
    Entre fria e distraída,
    Por que não morrera de véspera?

    Em idade ainda imprecisa,
    Sentiu a falta de seu pênis
    E procurou-o em gavetas e armários
    Quase em estado de pânico.

    Quando um dia se fez moça
    Ficou em cores sua urina
    Prenunciando acontecimentos,
    Terremotos e catástrofes.

    Quando se fez mulher,
    Soprou no ouvido de Eva
    Qualquer coisa de obscuro
    Antes que a serpente se movesse

    Ao bordar com suavidade
    Um simples ramo de flores
    Transformou-se em bailarina
    E dançou como um cisne no seu lago.

    Certo dia, ao acordar
    Em átomos se explodiu
    E sob o clarão do mundo,
    Nasceram mil cogumelos.

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  56. A superstição é uma crença baseada em relações de causa e efeito que carecem de racionalidade. Logo, para sobreviver, ela se apoia em afirmações falaciosas ou entidades sobrenaturais. Freud, no excerto citado, afirma que o ser humano precisa confirmar a causa pela qual aquela crença existe – em outras palavras, qual é o embasamento dela. No entanto, por vezes, ele não consegue encaixar aquela crença no campo consciente, o campo dos fatos cuja causalidade é reconhecida. Como alternativa para assimilar e acomodar a crença que não se guia por um modo racional, cartesiano de explicação, ele a transfere para o mundo externo. Isto é o que confere à superstição um caráter assumidamente coletivo em muitos casos. Um exemplo é o de que, desde a Antiguidade, o ser humano tem tido a necessidade de explicar fenômenos naturais criando as divindades e as crenças, quando o conhecimento científico até então adquirido não pode dar conta dos fatos perceptíveis do mundo. É por não poder ser acomodada num campo do reconhecimento individual que a crença ganha lugar na coletividade; logo, ela raramente é posta em dúvida, estando à mercê de ser abandonada se passar por um processo completo de questionamento racional, sem evasões.

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    1. É possível pensar que aquilo que de fato inflava as cortinas no quarto de Poe eram nomes, ou palavras, considerando-se que elas tenham o poder de representar fortemente nossas lembranças e trazer à nossa presença fatos, coisas ou pessoas. A linguagem, por seu papel altamente representativo nas vivências humanas, tem o poder de remeter a um elemento da nossa experiência, dando-lhe uma forma particular. No conto “Os olhos dos pobres”, de Charles Baudelaire, o protagonista traz fortemente à tona a lembrança de uma comunicação falha que teve com a mulher, a qual um dia amou e agora diz que odeia. A lembrança se faz viva e particular pelo contraste entre progressões de adjetivos. O jeito enternecido de se dirigir à mulher, com vocativos e adjetivos afetuosos, é quebrado de supetão pela declaração inesperada que ela fez. Ele expressa a sua decepção pelas exclamações e adjetivos (“Como é difícil [...]”, “[...] o quanto o pensamento é incomunicável [...]!”):

      “Voltei os olhos para os seus, querido amor, para ler neles meu pensamento; mergulhava em seus olhos tão belos e tão estranhamente doces, nos seus olhos verdes habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando você me disse: "Essa gente é insuportável, com seus olhos abertos como portas de cocheira! Não poderia pedir ao maître para os tirar daqui?"
      Como é difícil nos entendermos, querido anjo, e o quanto o pensamento é incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!”

      Excerto de: http://www.lainsignia.org/2004/noviembre/cul_004.htm

      Thais Barbieri
      23/01/2014 – 20:25

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