KEUNEN, Bart & EECKHOUT, Bart. (ed.). Literature and Society. The function of Literary Sociology in Comparative Literature. Bruxelles; Bern; Berlin; Frankfurt/M.; New York; Oxford; Wien: Lang, 2001.
Introduction:
The Rise and Fall of Literary Sociology... and Its Survival
Bart
Keunen
Somente
a partir dos anos 60 a academia reconheceu o tema “literatura e
sociedade” como uma nova disciplina crítico-literária. Através
de alguns precursores como Lukács e Adorno, outros teóricos
inspirados pelo marxismo começaram a observar as nuances da complexa
interelação dos textos literários com o seu contexto social. Foi
somente no último terço do século XX que o campo começou a clamar
por autonomia, assumindo nomes como: Sociologia
da Literatura, Poética Sociológica ou Sociologia Literária.
Talvez a melhor prova do desenvolvimento dessa subdisciplina da
teoria literária foi o fato de no sexto congresso da International
Caomparative Literature Association (1970) ter excepcionalmente
aberto um amplo espaço para o tema da Littérature et Société.
Conforme Robert Escarpit, organizador da conferência, o sucesso foi
enorme, tanto que muitos submeteram abstracts que foram devolvidos.
Ele chegou a conclusão de que o sucesso se deu em função de uma
preocupação profunda dos comparatistas do mundo interiro com essa
temática.
Nos
anos 60 e 70, acadêmicos como Erich Köhler, Peter Bürger, Lucien
Goldmann, Peter Zima e Terry Eagleton, mencionando apenas alguns, se
convenceram que a crítica comparativista poderia ser organizada de
acordo com o modelo sociológico. Um olhar nas livrarias acadêmicas
daquele tempo nos ensinam que os estudantes estavam preocupados com
as hipóteses sobre as relações ente literatura e ideologia, as
condições sociais de expressão literária, as origens sociais dos
gêneros literários, o social ligado aos temas e a base sociológica
da evolução literária. Em suma, os estudiosos concentraram-se nos
“macro” problemas de uma natureza teórico-cultural (influência
das ideias marxistas). A tendência em considerar a sociologia
literária como “disciplina guia” na literatura comparada
persistiu até o começo dos anos 80. Desde aquele tempo, vários
autores têm diagnosticado que a crítica literária está sofrendo
de uma fadiga da sociologia. Segundo Peter Zima, nossa disciplina
abandonou sua reivindicação teórica ao passar dos anos, enquanto
que nos anos iniciais ela ainda tentava estabelecer conexões com o
social e com as ciências naturais.
O
apagamento do interesse não está desrelacionado com a evolução
dentro de uma teoria cultural. Utilizando a crítica marxista, a
sociologia literária pode descrever um fenômeno literário da
perspectiva histórica da burguesia moderna. Teóricos como Lukács,
Goldmann ou Adorno situaram a literatura contra a experiência do
processo de modernização e seus portadores: os burgueses. O
problema da modernidade tem se tornado cada vez mais complexo como os
muitos debates sobre o pós-modernismo e pós-modernidade ilustram. O
problema encontrado pela sociologia literária – e também por uma
variedade de outras disciplinas afins – dá a impressão de que a
modernidade tem se prendido em si mesma. A “Sociedade Burguesa”
pode não estar muito distante para ser percebida como um conceito
monolítico, que é uma das razões por que a sociologia literária
marxista resistiu as crises. A inabilidade para estabelecer um
discurso marxista adequado é indubitavelmente relacionado com a
crise do conceito de “classes”, como Laclau e Chantal Mouffe tão
convincentemente argumentam em Hegemony
and Socialist Strategy..
Conceitos
como “modernidade” e “sociedade burguesa” estão muitas vezes
relacionados com a rudeza com a qual a sociologia tem sido aplicada
em sociologia literária e no espaço teórico. Como Steven Best e
Douglas Kellner explanam, o velho pensamento de esquerda “reduz a
complexidade da realidade social ao debate sobre a produção e à
luta classes, definindo uma multiplicidade de ‘posições
subjetivas’ (classe, raça, sexo, nacionalidade) como posições de
classe”. São precisamente essas posições subjetivas que têm
funcionado como o ponto de partida da teoria cultural até
recentemente (década de 80). A importância cultural na sua evolução
teórica é o fato sociológico que os cidadãos urbanizados hoje,
como o sociólogo alemão Ulrich Beck tem observado, vivem em uma
sociedade individualizada. Eles se identificam cada vez menos com as
instituições coletivizadoras hierárquicas e disciplinadoras do
passado (religião, autoridade moral, partidos políticos, classes
sócio-econômicas) e cada vez mais com os grupos que se autoregulam
e estabelecem suas regras, freqüentemente relacionadas com a noção
de subcultura.
Partindo
das novas condições da subjetividade formuladas por Beck, alguém
poderia facilmente argumentar que nenhuma distinção de classe
tradicional (“a burguesia”) é capaz de funcionar como base ou
descrição adequada das efetivas mudanças que afetam a sociedade
moderna. Em outras palavras, nós estamos negociando como novos
problemas que necessitam de novas estratégias
sociológico-literárias.
- versão em português do original em inglês elaborada por OURIQUE, J. L. P. -
Considerando
as reflexões presentes no texto acima, comente algumas
possibilidades acerca dessas “novas estratégias
sociológico-literárias” mencionadas. Nas suas leituras sobre o tema literatura e sociedade você
identificou algum elemento crítico que pudesse sustentar
consistentemente sua leitura de uma obra literária? Esse elemento
está mais vinculado com a materialidade do texto ou com a cultura na
qual essa produção está inserida? Como você percebe a relação
litertura e sociedade – como um elemento complementar ou como algo
fundamental para sua leitura? Cite ao menos uma leitura de um texto
literário que vá ao encontro das suas respostas (pode ser tanto uma
leitura própria quanto de um crítico especializado).